Sociedade | 09-03-2006 17:06

Idosa e filho vivem na miséria

Roupas, comida estragada, louça suja e entulho de várias naturezas, espalham pela casa um cheiro nauseabundo. Na cozinha, a visão é deprimente. Não há fogão, frigorífico ou esquentador. A sujidade é muita.Alice Governo Paulo, 83 anos, vive num casebre sem quaisquer condições no Casal João Dias, freguesia de Pedrógão, Torres Novas. A acompanhá-la tem um filho de 43 anos. Ambos, alegadamente, têm problemas mentais. A situação mantém-se há cerca de oito anos. As entidades competentes refugiam-se na legislação e na burocracia, que impedem a resolução célere do problema. A porta demora a abrir. Do lado de fora conseguem ouvir-se alguns gemidos e através da caixa de correio percebe-se que a idosa está estendida no chão. Demora algum tempo até se conseguir apoiar no sofá e tomar balanço para se levantar. Os gemidos continuam. Quando finalmente abre a porta, demonstra alguma dificuldade em manter-se de pé. Senta-se na cama onde habitualmente o filho costuma dormir e conta que caiu no chão, mas não se recorda há quanto tempo. Também não se lembra de ter almoçado. De repente, cala-se, e mantém-se assim durante alguns minutos. O silêncio é interrompido quando Silvino Rosa, presidente da Junta de Freguesia de Pedrógão, questiona a idosa sobre a sua vontade de sair dali para uma casa nova. A resposta sai timidamente: “Eu quero outra casa, pois quero. Isto está-se tudo a alagar e é só entulho. Não posso dar um passo”, lamenta. Mas, depressa volta atrás com a palavra e diz que o filho sabe muito bem cuidar dela e da casa. O lixo amontoa-se por todas as divisões da casa. Roupas, comida estragada, louça suja e entulho de várias naturezas, espalham pela casa um cheiro nauseabundo. Na cozinha, a visão é deprimente. Não há fogão, frigorífico ou esquentador. A sujidade é muita. Ao lado, num pequeno quarto, não se consegue entrar. Caixotes cheios de lixo e roupas velhas não deixam passar para lá da porta. A casa de banho não se vislumbra. Na cozinha está um balde com dejectos. Alice Governo Paulo continua sentada na cama do filho, que se encontra no meio da sala. Ela costuma dormir no velho sofá encostado à parede. Volta a remeter-se ao silêncio. E só quando Silvino Rosa se despede é que levanta os olhos e ganha coragem para falar. “Não se esqueça de mim”, pede ao presidente da junta.

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