Sociedade | 01-07-2008 17:41

Primeiro montado de sobro com certificação descortiçado em Coruche

O primeiro montado de sobro português com certificação FSC (Forest Stewardship Council) foi hoje descortiçado na Herdade da Machoqueira do Grou, em Coruche, concretizando atingir “a velocidade de cruzeiro” nas “boas práticas de gestão”, segundo a WWF. “O objectivo é alcançar dentro de dois anos uma escala bastante significativa de 150 mil hectares, ou seja, cerca de um terço do montado de sobro do país”, frisou o responsável do programa florestal da WWF (World Wide Fund for Nature) em Portugal, Luís Santos. Para o responsável do Fundo Mundial para a Natureza (WWF, na sigla inglesa), este sistema de certificação “não quer ensinar nada aos produtores, mas auxiliá-los na aplicação de boas práticas” e “ajuda o sector a estabelecer-se em mercados mais exigentes”, através da “distinção perante outros produtos”. Com cerca de 2.400 hectares, a Herdade da Machoqueira do Grou, em Ribeira do Grou, no concelho de Coruche, tornou-se hoje na primeira exploração a extrair cortiça certificada através do FSC. Além desta exploração, a Associação dos Produtores Florestais do Concelho de Coruche e Limítrofes (APFC), que juntamente com outras seis associações constitui a União da Floresta Mediterrânica (UNAC), promoveu a certificação de outras cinco, apesar de uma delas aguardar o relatório de auditoria. Os montados certificados localizam-se maioritariamente no concelho coruchense, mas também em Chamusca, Mora e Ponte de Sor, numa área de 7.100 hectares, ocupada em cerca de 90 por cento de sobreiros. Para António Gonçalves Ferreira, director da UNAC, que representa os produtores de cerca de dois terços da cortiça portuguesa, e proprietário da Herdade da Machoqueira do Grou, a certificação “é um custo que, neste momento, tem retorno”, por “valorizar a cortiça”. “A exploração assume a certificação como uma forma de gestão responsável, sustentável e transparente”, realçou o proprietário, indicando a placa localizada à entrada da exploração, que disponibiliza a APFC para receber “comentários ou sugestões à gestão florestal”. De acordo com o proprietário, a equipa de descortiçagem recebeu formação para seguir os “10 mandamentos”, que alertam para o risco de retirar a cortiça “com chuva, com vento Suão”, para “o uso de equipamento de protecção individual (calçado apropriado e luvas), a desinfecção dos instrumentos (machados desinfectados duas vezes por dia)” e até “a identificação de aves de rapina”. A extracção da cortiça, realizada a cada nove anos, deve ser executada “quando a cortiça pára de crescer, entre o final de Maio e até Agosto”, procurando “obter placas com a maior dimensão possível” e “com a maior espessura possível”, explicou. “A qualidade está ligada à porosidade”, frisou o proprietário, acrescentando que “quanto mais lisa é a barriga (parte interna), melhor é a cortiça, porque se for menos rugosa serve para qualquer aplicação”. Para o proprietário, a certificação FSC distingue-se pela “gestão do solo”, que o levou “a deixar de utilizar grades de discos, para utilizar corta-matos, que não mobiliza o solo e deixa a matéria orgânica na terra, permitindo a regeneração natural”. Nesta propriedade, após a extracção, a cortiça é colocada em paletes com cerca de 40 arrobas, pesando entre 500 a 600 quilogramas, e encaminhada para uma das “16 unidades certificadas com cadeia de responsabilidade”, para “não perder o valor da certificação”. A Herdade da Machoqueira do Grou produz em média “80 arrobas de cortiça por hectare em cada ano”, calculou António Gonçalves Ferreira, acrescentando que é diariamente colocada em paletes para “evitar três manuseamentos, que, desta forma só ocorrem uma vez, antes de ser cozida”. Em 2008, a descotiçagem de cerca de 300 hectares da propriedade localizada em Ribeira do Grou, Coruche, envolve 25 pessoas e deverá prolongar-se durante cinco semanas. Para António Manuel Prado, um dos “tiradores” de cortiça da herdade, que conjuga esta actividade “perfeitamente sazonal”, com a apanha de pinhas e as podas florestais, a certificação FSC “é um bom sistema”, traduzindo “numa cortiça um bocadinho melhor”. A WWF estabelece o “sobreiro como espécie prioritária”, como forma de “defender o sector na componente florestal, com maior veemência”, sublinhou Luís Santos, definindo a cortiça como “um produto florestal renovável e ambientalmente amigável”. “O objectivo é fazer a diferença, para, pelo menos por esta vez, Portugal ser o líder na certificação”, concluiu o responsável da WWF.

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