Sociedade | 02-06-2018 12:02

"Sou puta para ganhar a vida mas no início tive nojo dos homens"

"Sou puta para ganhar a vida mas no início tive nojo dos homens"
Foto ilustrativa

Hoje é o Dia Internacional da Prostituta. A comemoração deste dia tem como objectivo denunciar a discriminação e a exploração das prostitutas a nível mundial, assim como as precárias condições de vida e de trabalho. O MIRANTE recolheu um testemunho de uma profissional do sexo que trabalha em Santarém.

No dia mundial da prostituta, que se assinala este sábado, 2 de Junho, O MIRANTE foi falar com algumas profissionais do sexo que trabalham na região. Ligamos a catorze trabalhadoras da mais antiga profissão do mundo mas só duas aceitaram falar para a reportagem.

Paula, de 50 anos, que atende na cidade de Santarém, e com anúncio num dos jornais diários, aceitou falar com o jornalista para contar como a vida a trouxe até esta profissão. Paula conta que casou com 16 anos de idade e que perdeu o seu marido num trágico acidente de automóvel, ficando viúva aos 28. Natural do sul do país, trabalhou em Queluz numa pastelaria e de repente viu-se "sem emprego" depois do estabelecimento comercial encerrar há cerca de sete anos.

"Fomos de férias e quando voltei a firma tinha encerrado e vi-me sem emprego e com contas para pagar. No nosso país com 45 anos somos velhos demais para arranjar emprego e somos novos demais para a reforma, e foi esse o motivo que me trouxe até esta vida depois de velha", conta, acrescentando que ninguém da sua família sabe da sua maneira de ganhar a vida. "Pensam que estou a tomar conta de uma senhora idosa", explica.

Paula afirma que escolheu Santarém por ser uma cidade onde não conhecia ninguém e para ninguém saber da sua profissão. "Para Lisboa não podia ir porque vai para lá muita gente, podiam encontrar-me por lá e por isso escolhi Santarém", refere.

"Não tenho prazer naquilo que faço e só o faço para sobreviver, não podia ir viver para baixo da ponte. Nunca tive prazer com nenhum homem e no início até sentia nojo. Com o primeiro cliente foi muito doloroso, senti muito nojo por ele me estar a tocar e não o conhecer de lado nenhum. Depois comecei a encarar isto como um trabalho como outro qualquer. Desta porta para dentro é o meu trabalho, quando saio sou uma senhora como outra qualquer", diz a O MIRANTE.

Paula conta que vai "continuar nesta vida" até à sua reforma. Já tem clientes fixos e alguns até já são seus amigos. "Arranjei muitas amizades porque são muitos anos no mesmo sítio, que é mesmo assim".

Carol é brasileira, 35 anos de idade, está há cerca de seis meses em Portugal, atende em Tomar e nem sequer sabia que se comemorava o Dia Internacional da Prostituta. "Isso existe querido?" questiona, com alguma desconfiança. "Nem as meninas que já trabalham aqui há muito tempo me falaram disso", exclama.

Carol conta que não escolheu esta vida. "Foi esta vida que me escolheu a mim. Tive alguns problemas na vida e acabei nesta profissão", afirma enquanto vai tentando despachar a conversa porque diz não poder continuar a falar e e que liguemos mais tarde. Ligamos mas nunca mais atendeu o nosso telefone.

A Revolta das mulheres

A origem do dia internacional da prostituta está no protesto de 2 de Junho de 1975, quando mais de cem mulheres ocuparam a igreja de Saint-Nizier, em Lyon, França, em protesto contra a repressão sofrida na altura. O protesto visava as multas recebidas, as detenções e os assassinatos de colegas que não eram investigados.

A cobertura mediática do incidente levou a mais protestos organizados por prostitutas, quer em França, quer noutros países do mundo. Apesar do apoio da população, a ocupação terminaria na madrugada de 10 de Junho, após uma expulsão pela polícia fazendo uso da violência. A brutalidade das autoridades levaria a uma maior indignação e desde 2 de Junho de 1976 se relembra anualmente este incidente e se luta para a regularização da profissão.

A comemoração deste dia tem ainda o objectivo de denunciar a discriminação e a exploração das prostitutas a nível mundial, assim como as precárias condições de vida e de trabalho.

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