Sociedade | 05-07-2020 07:00

Observatório da Charneca organiza iniciativa à volta da tiragem da cortiça

Observatório da Charneca organiza iniciativa à volta da tiragem da cortiça

“Cork Experience na Charneca” é o nome do novo projecto que juntou duas dezenas de pessoas na charneca da Chamusca para assistirem à tiragem da cortiça.

O MIRANTE acompanhou a iniciativa organizada pelo Observatório da Charneca, Quinta da Murta e Judite Tour.

Duas dezenas de pessoas assistiram ao processo tradicional da tirada da cortiça na charneca da Chamusca, num montado próximo da Quinta da Murta, em Vale de Cavalos. A iniciativa tem como mentora Graça Saraiva, directora do Observatório da Paisagem da Charneca. “Cork Experience na Charneca” é o nome do projecto que pretende dar a conhecer o processo de descortiçamento de um sobreiro, e que teve a sua primeira edição na sexta-feira, 26 de Junho. “Alguns valores como a charneca, o montado e a paisagem ribatejana estão a ser pouco e muito mal divulgados”, afirma Graça Saraiva, para justificar a importância e a necessidade da criação do projecto.
O MIRANTE acompanhou a iniciativa que também contou com a organização e coordenação de Judite Gregório, da AT Judite Tour, e de João Amaral Neto, da Quinta da Murta.


O descortiçamento é uma prática ancestral que se realiza, habitualmente, entre Junho e Agosto. São precisos 30 anos até que um sobreiro comece a produzir cortiça. A partir do primeiro descortiçamento, também designado de desbóia, um sobreiro pode ser explorado durante cerca de 150 anos. A tiragem é feita a cada nove anos. Grande parte da sua produção serve para o fabrico de rolhas, mas só a partir do terceiro descortiçamento é que se consegue a cortiça adequada para ser utilizada. A cortiça virgem é utilizada em pavimentos ou em isolamentos. Quinze quilos de cortiça podem custar 30 euros, segundo preços do mercado que também está a sofrer com os efeitos da pandemia.

“Entendemo-nos só com o olhar”

O descortiçamento do sobreiro exige profissionais bem qualificados e experimentados. Nelson Rodrigues e Lino Lopes trabalham em dupla há cerca de 14 anos e explicaram a O MIRANTE o que os faz gostar da profissão. “Como as árvores são todas diferentes, todos os dias temos uma experiência nova e uma aprendizagem diferente”, conta Lino Lopes. A dureza do trabalho reflecte-se no suor que lhes ensopa a roupa. “É um trabalho muito duro. Ao longo dos anos ficamos com muitas lesões nos ombros e nas costas. Mas temos de ganhar a vida”, confessam em uníssono.


Questionados sobre a forma como treinam para funcionarem como dupla, a resposta não podia ser mais esclarecedora: “Nem precisamos falar. Depois de tantos anos a trabalhar juntos basta o olhar para nos entendermos”.

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