Sociedade | 14-11-2022 21:00

A primeira viagem de comboio em Portugal acabou na Vala do Carregado e foi um fiasco

Caminhos com História juntou uma dezena de curiosos em busca de conhecer mais sobre aquelas duas estações de comboio

Projecto Caminhos com História do Museu Municipal de Vila Franca de Xira deu a conhecer a história das estações de Vila Franca de Xira e da Vala do Carregado.

Numa altura em que a modernização da Linha do Norte está na berra, O MIRANTE foi conhecer a história da primeira viagem ferroviária em Portugal, que se transformou num embaraço nacional.

As estações ferroviárias de Vila Franca de Xira e da Vala do Carregado estão repletas de história e fazem parte do património nacional pela sua ligação chave à primeira viagem de comboio feita em Portugal que, por ironia do destino, acabou num fiasco real. Margarida Casaleiro, funcionária do Departamento Educativo do Museu Municipal de Vila Franca de Xira, levou uma dezena de pessoas, através da iniciativa Caminhos com História, a descobrir a história destas duas estações que foram pilares centrais no primeiro troço ferroviário de Portugal.
Numa altura em que a modernização da Linha do Norte tem sido notícia, O MIRANTE aproveitou a boleia para conhecer novas particularidades da viagem real que meteu Vila Franca de Xira e a Vala do Carregado para sempre no mapa da ferrovia nacional. A 28 de Outubro de 1856, depois de uma década a discutir projectos para uma linha de comboio, foi inaugurado com pompa e circunstância o troço que ligava Lisboa à Vala do Carregado. O Rei D. Pedro V decidiu comemorar com um banquete organizado por ele, onde convidou centenas de ilustres do reino para comemorar a criação do troço de 26 quilómetros.
O primeiro comboio, encabeçado por uma locomotiva chamada Portugal mas comprada em segunda mão aos britânicos, contava com várias carruagens cheias de pessoas e promessa de um futuro próspero para a ferrovia nacional, apesar do atraso de 30 anos comparando com os aliados ingleses. Chegada à Póvoa de Santa Iria a locomotiva, devido à falta de força, já tinha perdido carruagens pelo caminho e muitas mais foram sendo largadas até Vila Franca de Xira. O comboio acabou por chegar ao destino com menos de metade das carruagens e um leque de convidados deixados abandonados ao longo de 26 km. A Marquesa de Rio Maior não foi de modas e chamou à festa real um fiasco. Perante as queixas, o rei meteu o comboio na gaveta até surgirem soluções para ultrapassar os terrenos mais acidentados.

Estação transformada em hostel
A estação de Vila Franca de Xira sofreu um processo de modernização em 1930, data dos azulejos que hoje podem ser vistos nas paredes, da autoria do pintor Jorge Colaço e que evidenciam temas do quotidiano, paisagens ribatejanas, profissões ligadas ao campo e ao Tejo. Já na estação da Vala do Carregado, os visitantes conheceram a Estação Real, um alojamento local nascido durante a pandemia nas antigas instalações da estação aproveitando as bases criadas por Cottinelli Telmo em 1930 sob estilo Art Déco.
Abandonada há vários anos, a estação passou, em 2020, a funcionar como alojamento local, focado em manter viva a história da estação e mantendo a traça, cor e formato criada em 1930. Os quartos foram renomeados com nomes de figuras marcantes do mundo ferroviário em Portugal e os porta-chaves dos quartos são todos em formato de bilhete de comboio. Os proprietários, Susana e Filipe Fabião, procuram agora criar no espaço um pequeno museu que conte mais sobre a história da estação.

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