E preciso muito tempo para se aprender a ser jovem
Interioridade do Mestre Martins Correia
Picasso dizia que é preciso muito tempo para se aprender a ser jovem. O Mestre Martins Correia, gravou a frase no seu interior, e há oitenta e quatro anos que procura a essência da juventude que é, para ele, a Liberdade.
Irrequieto, revolucionário, sempre sedento de novas formas, o artista gosta de falar no sentido rústico das coisas e também da terra e do mar que considera os seus princípios basilares.
Escultor português de vanguarda, introdutor da policromia na moderna estatuária portuguesa, Martins Correia foi aluno e professor na Casa Pia, e ensinou na Escola Superior de Belas-Artes de Lisboa de onde foi afastado pela simples razão de não ter o curso dos liceus.
Para o Mestre o desânimo só chega quando tem vontade de expandir o seu interior e não consegue por falta de condições exteriores. A afirmação é assim:”Não tenho capital para resolver a minha razão de ser!”.
“A interioridade é que comanda. Com a habilidade fiz algumas coisas no princípio da carreira, mas depois, com a manifestação do interior é que apareceu a arte”.
Na Golegã, na casa oficina, que estranhamente não lhe pertence, apesar de todo o espólio que legou à terra, e que se encontra no museu municipal com o seu nome, Martins Correia, lembra os tempos de bolseiro em Espanha, o seu convívio com os poetas da altura, e o fascínio que então sentiu pelas cores.
“Do que eu mais gostei em Espanha, foi da cor. Em Portugal a cor observada era dos painéis de Nuno Gonçalves, mas o Nuno Gonçalves estava fechado num conceito. A realidade do meu prazer era mais livre”.
No mobiliário à nossa volta há pequenas notas de cor. No friso dos móveis, nos objectos expostos nas prateleiras, e nas pequenas argolas que enfeitam os gargalos das garrafas.
Cá fora, o sol brilha. Martins Correia fala do mar e da praia onde “as formas se libertam do regional ismo”. “São as formas de que eu mais gosto. O rimar está ali. O corpo com corpo, a forma com forma, o nu com o nu".
Na esplanada do Central, pessoas ao sol, indiferentes ao artista. No Museu as obras abandonadas à humidade. Martins Correia passa no seu passo saltitante, “Há falta de cultura. As pessoas não estão preparadas para apreciar a arte. Talvez daqui a dez anos. Talvez daqui a vinte anos. Isso é um problema que eu não sei resolver".
Ministros e Presidentes da República já manifestaram publicamente e por mais que uma vez a sua admiração pela obra e pelo Homem que é Martins Correia. O artista, já ganhou a eternidade. Talvez seja a altura para a homenagem nacional que merece. Uma homenagem onde todos gostariam de ouvir, de viva voz, a palavra do Mestre. ♦
Cavalo branco
Das terras da Golegã.
Cavalo branco
Riscando de branco
No seu galope Fidalgo
Os campos da Golegã.
Cavalo branco correndo
Pelos prados e caminhos
Pelos campos e searas
Das terras da minha infância.
Cavalo Branco
Que em
O cavalo de um toureiro
Que escreveu sobre o seu dorso
Muitas tardes de glória.
Cavalo branco
Que foi
Companheiro quase irmão
Dos campinos Meus irmãos.
Cavalo branco
Que foi menino
Muito menino, pequeno
Desenhou com mãos de sonho
Num papel há muitos anos.
Cavalo branco
Sem nome
O menino, esse sim
Assinou com duas letras
O seu cavalinho assim
M.C. - Martins Correia
Um sonho de há muitos anos
Que galopou dia a dia
No sonho da sua vida
Há quantos anos? Oitenta
Autor: Dr. Lima de Carvalho No catálogo da exposição comemora- tha dos oitenta anos do Mestre Martins Correia, no Casino Bstoril (7/2/1990).