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Vibrante Serafim das Neves

Meu caro, escrevo-te com a cabeça em água. Desde as eleições de Março deste ano que oiço o Governo jurar e bater que o país está de tanga. E agora vem o ministro das cidades e de mais não sei quê, a Santarém, dar de bandeja à senhora câmara, para obras de requalificação urbana, a bonita quantia de 3,74 milhões de euros. Cerca de 750 mil das antigas. Cada vez percebo menos de política. Cada vez me divirto mais com os políticos. Só tenho medo de um dia rebentar de tanto rir com anedotas destas. Mas há mais, como podes comprovar na notícia publicada nesta edição. O dinheirito prometido pelo senhor Isaltino, não virá dos Fundos Comunitários, mas do Orçamento Geral do Estado. O tal Ójé que tanta espuma e perdigotos tem feito sair das bocas dos da oposição.Agora é que eu lamento ter sido sempre um cábula a matemática. Por causa disso vou ficar sem perceber porque é que, não havendo dinheiro no ójé para mandar cantar um cego, o ministro anda pelo país a distribuir aos milhões como se tivesse no quintal lá da quinta uma árvore das patacas. Altas matemáticas. Aquilo sim, são cérebros. E ainda há quem pense que qualquer um pode ir para a política e chegar ao Governo.Mas não te sentes já que o filme ainda não chegou ao fim. Os 3,74 milhões de euros têm que ser complementados com 250 mil da câmara. Vê lá tu Serafim se isto não chegava para pôr a cabeça o Einstein a deitar fumo. Uma câmara falida a quem o Governo proíbe o recurso ao crédito, compromete-se a desencantar uma pipa de massa daquele tamanho para complementar o total a gastar nas obras. E que eu saiba nem o ministro nem o presidente da câmara pestanejaram quando assinaram tal acordo. Nem pestanejaram nem se riram à gargalhada, o que só prova que são pessoas muito sérias.Imagino que estejas com um sorrisinho sardónico nos lábios a beber um Cutty Sark puro e a chamar-me tótó, mas não vais sem resposta. Isso que tu estás para aí a pensar também já me passou pela cabeça. Os tipos estiveram a gozar com a tropa. Falaram em milhões, apertaram as mões (não sei se é assim que se diz nestes casos) e depois atiraram-se para o chão a rir quando já ninguém estava a ver. Já não digo nada Serafim. Já não digo nada. Melhor ainda. Não digo nada agora mas vou dizer qualquer coisa quando o prazo para a conclusão das obras tiver terminado e elas não estiverem feitas. Juro-te que digo. E não vou ser nada meigo, não senhor. Vai ser de...para cima. Palavrões de criar bicho. Bordoada sem dó nem piedade. Palavra de Serra d’Aire.Serafim, ainda queria comentar a tua observação sobre a multiplicação das louras, mas antes, fica-te com mais uma questão de economia. E só espero que o editor não atire com a nossa secção para O MIRANTE ECONÓMICO. Na Chamusca, em tempo de crise profunda no sector imobiliário, foram vendidos apartamentos novos em folha, em leilão, por quinze mil e quinhentos contos. Ouviste bem. Quinze mil e quinhentos contos. Setenta e sete mil e quinhentos euros. Na Chamusca, meu caro. E não tinham garagem nem estavam forrados a ouro. Mas afinal que merda é esta??!!! Há crise ou não há crise??? Quanto às louras quero contar-te uma pequena história, mas primeiro deixa-me dizer aos devoradores de e-mails mais sensíveis que se devem despedir destas leituras neste momento. Pois bem. Ela chamava-se Clarisse e tínhamos ambos 17 anos. Era loiríssima e tinha olhos verdes. E gostava tanto de Doors e de Janis Joplin como eu. Um dia a mãe dela foi às compras e ficamos os dois a fingir que estudávamos. Já não sei se a disciplina era anatomia mas acabamos por ficar como Deus nos pôs no mundo. Nem sei se continue... bom...enfim, Serafim. Até rima. Às vezes há coisas assim. Lá estou em com o im para manter a rima. Tu sabes. Já viste. Há avançados que falham golos de baliza aberta a um metro da linha fatal e sem guarda-redes por perto. Eu pelo menos tenho uma boa desculpa. É que na cabeça eram loiros naturais mas mais abaixo eram pretos. Pretos retintos. Pretos como amoras maduras. Pretinhos de todo, Serafim. E eu ali de boca aberta a olhar para aquela mata e a balbuciar perguntas estúpidas. Quando a porta da rua bateu é que me apercebi da oportunidade perdida. Juro-te que dei mais de cem cabeçadas na parede. E nunca mais tive aquela baliza assim tão escancarada.Cumprimentos bem saudosistas doManuel Serra d’Aire

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