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“O farmacêutico é o técnico do medicamento”

“O farmacêutico é o técnico do medicamento”

Na Farmácia de Pontével com Ana Maria Oliveira

A confusão que os doentes mais idosos fazem com a posologia dos medicamentos é um dos problemas diários que enfrenta a farmacêutica Ana Maria Oliveira, há 24 anos a trabalhar na Farmácia Areosa, em Pontével, Cartaxo. A automedicação é outro. Cabe-lhe o papel de explicar que o mesmo medicamento pode não ser indicado para duas pessoas e de encaminhar para o médico. Mas o trabalho de farmácia, que exige muita disponibilidade, também tem situações caricatas. Já houve quem tivesse tentado mastigar um supositório na tentativa de o engolir...

A Farmácia Areosa, no Largo da Igreja, em Pontével, Cartaxo, é o local de trabalho de Ana Maria Oliveira, 50 anos, farmacêutica há 24. A farmácia, a única na vila, funciona em regime de disponibilidade. Abre ao público das 9h00 às 19h00, mas é necessário que a farmacêutica ou um técnico estejam permanentemente disponíveis para urgências. “Posso estar na minha casa, mas estou sempre sujeita a que a qualquer hora do dia ou da noite me possam chamar. Em termos de carga horária é um bocado pesado”, explica a técnica, que vive a 50 metros do local de trabalho. Normalmente o seu horário estende-se das 9h00 às 20h00. A farmacêutica queixa-se de que ainda há quem não saiba perceber o que é uma urgência. “A farmácia deve ser utilizada fora da hora de funcionamento só para situações urgentes com receita médica. Já aconteceu chegar à meia-noite e darem conta que não têm leite para o bebé”.A função principal da farmacêutica é a distribuição ao doente, que implica dar informação sobre eventuais incompatibilidades do medicamento e sobre a forma posológica. “As pessoas querem fazer associação de medicamentos sem estarem minimamente informadas sobre as consequências das incompatibilidades. Não têm grande atenção à posologia, ou seja, se determinado medicamento tem que ser tomado antes ou depois das refeições e isso pode ter consequências”.Ana Oliveira explica que o medicamento é uma faca de dois gumes. “Se não o soubermos utilizar apanhamos pela negativa com as consequências que podem trazer”, avisa.A confusão que os doentes mais idosos fazem com a posologia dos medicamentos é uma das grandes dificuldades sentidas pela farmacêutica. Normalmente são pessoas que vivem sozinhas e não sabem ler. “Para explicar a forma de tomar os medicamentos normalmente faço riscos nas caixas para perceberem se tomam um, dois ou três por dia”, descreve, adiantando que alguns casais idosos chegam a trocar a medicação.A técnica também se debate com o problema da automedicação. “A pessoa, porque ouve do vizinho que a medicação lhe fez bem para esta situação, acha que também pode tomar. O papel do farmacêutico é explicar que o medicamento, que serve para uma situação, pode não estar adaptado ao seu caso, e canalizar para o médico”.A farmacêutica alerta para a ideia que existe de que o antibiótico deve ser usado para tudo. “Há quem fique zangado com o farmacêutico quando lhe é negado o antibiótico”, revela. Em relação aos mais jovens preocupa-a a má informação a nível sexual que é veiculada. “Há gente nova que procura a farmácia já em situações de algum risco. Às vezes há informação, mas não há educação para a utilização de uma sexualidade responsável”, afirma. A pílula do dia seguinte é um dos fármacos procurado por muitos jovens. Ana Oliveira lembra que na cadeia da saúde o farmacêutico está na cauda final. É aquele que está mais em contacto como doente e quem veicula as informações finais sobre os produtos. “O farmacêutico é o técnico do medicamento. É aquele que pela sua formação académica tem toda a informação sobre a preparação e conservação dos medicamentos para transmitir a doente”.O seu pai era o proprietário da farmácia de Pontével e Ana Oliveira sempre viveu ligada à área. “Achava muito engraçado observar o meu pai a preparar os medicamentos”. Depois de terminar a licenciatura em Farmácia, fez especialização em análises clínicas porque o trabalho em laboratório a entusiasmava. Acabou por escolher o trabalho de farmácia de oficina, que é compensador porque lhe permite contactar de perto com o público.Ana Oliveira considera que há situações muitos gratificantes quando as pessoas reconhecem quem se interessa por elas. “O carinho e o reconhecimento do trabalho” é, para Ana Oliveira, a melhor das recompensas. O que menos lhe agrada na profissão é a componente de gestão que lhe está associada. Em termos de remuneração explica que os valores dependem sempre das zonas onde a farmácia está implantada.Ana Oliveira sente também as dificuldades financeiras dos doentes. “As pessoas vêm com a receita na mão e querem saber qual é aquele que é mesmo preciso levar até porque a muitos medicamentos foi retirada a comparticipação”. É também por isso que algumas se interessam pelos medicamentos genéricos. Mas também há quem estranhe quando a cartonagem dos medicamentos e diferente.Mas numa profissão exigente também se registam cenas caricatas provocadas pela falta de informação. “Há quem tenha tentado mastigar um supositório na tentativa de o engolir”, revela.Ana Santiago
“O farmacêutico é o técnico do medicamento”

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