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Manuel Serra d’Aire

Anti enófobo Serafim das NevesNo último dia de 2002 estavam uma multidão nas finanças de Santarém para pagar dívidas ao fisco. Como o prazo limite foi alargado até dia três de Janeiro, nesse dia lá estava outra multidão à porta. E se o prazo continuasse a ser alargado mais multidões se juntariam. À porta das finanças de Santarém e de todo o país. É o fascínio nacional pelo último dia. É o fado. É o destino. No caso das dívidas ao fisco o maná era interminável. Dez por cento dos calotes renderam mil milhões de euros. Duzentos milhões de contos falando à antiga portuguesa. Com todos os calotes pagos, Portugal passaria a ser dos países mais ricos da Europa. Ainda bem que o prazo para pagamento das dívidas não foi alargado. Com os cofres do Estado cheios como é que iríamos continuar a mendigar subsídios à Europa?O senhor Secretário de Estado Miguel Relvas, o da administração local. O tal que convenceu o governo a juntar o Médio Tejo ao Centro e a Lezíria do Tejo ao Alentejo, tudo por causa dos fundos comunitários, deve ter rezado muito a Nossa Senhora de Fátima para que os contribuintes em falta não contribuíssem tudo. É que nesse caso a sua coroa de glória acabaria a nadar no lixo do aterro sanitário da Raposa, Almeirim. Se todos os caloteiros decidissem pagar os calotes, o rendimento per capita do distrito ultrapassaria em muito a média europeia. Ficávamos todos fora do objectivo um dos fundos comunitários, aquele que dá mais guito em ajudas. Era um desastre. Uma calamidade política.Serafim, meu amigo. Se pus a coroa de glória do inefável dótor Relvas a nadar no lixo da Raposa não foi por acaso. Aqui há tempos a estação de tratamento das águas lixiviantes daquele nefasto local deixou de funcionar. Agora entupiram os sistemas de drenagem e sabe-se lá mais o quê. E não se sabe, porque o aterro é mais impenetrável que uma fortaleza. Segredo de Estado. Código vermelho, como convém quando as coisas correm mal.Na altura em que andavam a tanguear as populações para aceitarem a colocação dos aterros sanitários à porta das suas casas, os técnicos e autarcas prometiam processos transparentes, portas abertas, explicações regulares, segurança máxima. Abençoadas populações que não acreditaram naquelas tretas e que correram com eles à pedrada. Os que aceitaram estão a pagar pela ingenuidade. Não há explicações, nem justificações, nem transparência de processos, nem portas abertas. A merda anda a boiar nas águas da chuva, as águas contaminadas são atiradas para o quintal do vizinho e os jornalistas são impedidos de aceder ao local.E o caso da separação dos lixos então, é de bradar aos céus. Pede-se à população que separe vidro, papel, pilhas e embalagens de plástico dos restante lixo e depois, quando ninguém está a ver, junta-se tudo outra vez e enterra-se. Exemplar. Esta merda assim não vai longe, não senhor. Eu vou deixar-me de trabalhos inúteis. Lixo é lixo e vai tudo de cambulhada. Garrafas, jornais velhos, cascas de batatas, embalagens do leite e pilhas velhas. Se é tudo para enterrar não sou eu que me vou ralar com separações inúteis e bacocas. Quando a tal central de triagem do lixo estiver instalada avisem-me. Antes disso não me voltem a chatear a molécula.Meu velho (salvo seja), o que me dizes da novela das cheias, que nunca mais são cheias, no Ribatejo. A malta das televisões bem anda por aí a farejar mas até agora nada. Um azar do camandro só compensado pelas inundações em Águeda e no Porto. Mas em Águeda e no Porto não há imagens tão porreiras como na Ribeira de Santarém, Reguengo do Alviela e Caneiras. E além disso, o Tejo é o Tejo e cheias a sério é no Tejo. Com vacas isoladas na lezíria, bois bravos nos telhados dos barracões, políticos a andar de barco e pessoal a jogar à sueca no café da aldeia com a água pelos joelhos. Aqui na serra a cheia não chega mas há sempre o perigo de avalanches. Com medo de ficar soterrado adquiri recentemente um presunto, dois belos queijos da serra e umas garrafas de tinto velho. Se vieres por cá nos tempos mais próximos já sabes o que te espera. É para desenjoar do bacalhau do Natal e do camarão da passagem de ano.Saudações gastronómicas doManuel Serra d’Aire

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