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Trabalhar o ferro

Trabalhar o ferro

Fernando Patrício Casaca é operador de corte na indústria metalúrgica há 21 anos

A máquina de corte é o instrumento de trabalho de Fernando Patrício Casaca, operário da empresa Metalgrupo há 21 anos. Na máquina vão passando peças de pequenas dimensões que são depois encaixadas para a construção de grandes estruturas como estádios de futebol, hipermercados, depósitos, fornos, silos e chaminés. Na opinião do operário os jovens não estão muitos virados para a área. “A metalomecânica já foi vista como uma mais valia. Hoje não é. Nem está a ser tão bem paga em relação à qualidade que é exigida hoje ao trabalhador”, garante.

O clarão das peças que os operários soldam ilumina uma das naves da empresa Metalgrupo, no Cartaxo. O som das máquinas que trabalham o ferro ecoa. Os operários preparam algumas componentes que serão utilizadas na cobertura do estádio do Sporting. Todas têm que passar pela máquina de corte, onde opera Francisco Patrício Casaca, 39 anos.O operário metalúrgico, residente em Pontével, passa oito horas por dia em frente à máquina de corte, uma serra de fita automática, que trabalha com uma cinta dentada e executa cortes com grande rigor.Ao lado da máquina “corta-frio” está uma mesa de apoio com os desenhos e as respectivas medidas das peças. O operário trabalha com os croquis das peças. “Um forno é composto por uma série de estruturas e todas essas estruturas, peça a peça, são desenhadas em croquis, em pequenos desenhos e partir daí desenvolvemos o trabalho”, explica.Os desenhos e as medidas que servem de orientação ao operário para o corte de cada uma das componentes das estruturas têm que ser rigorosamente respeitados, quer ao nível de furos, quer ao nível do corte e até da qualidade do próprio ferro. “Temos uma norma interna da empresa que obriga a que cada peça tenha um número Mtg (Metalgrupo). Desde o armazém já sabíamos que aquela peça ia sair daquela qualidade de ferro, com aquela estrutura, qualidade e composição”.O operário funciona como “elo de ligação” entre o armazém e a produção. É o operário que faz o aprovisionamento do material, que é distribuído pelas várias secções de mecânica, serralharia, furação ou montagem. Depósitos, chaminés, fornos, silos para cimento, antenas parabólicas e estruturas para hipermercados são alguns dos produtos fabricados. Nas máquinas vão passando as peças de pequenas dimensões que são depois encaixadas para construir as estruturas. “Primeiro faz-se a preparação peça a peça. Só depois é feita a montagem global no sítio da obra porque são componentes que envolvem toneladas de ferro”, afirma.O operário chega à empresa às 8h00. Das 10h00 às 10h10 faz uma pausa e almoça das 12h30 às 13h30. Normalmente trabalha oito horas, mas por vezes é solicitado para uma ou duas horas extra. Ao sábado trabalham quando é necessário.Depois de duas décadas de profissão considera que é um trabalho um pouco repetitivo. “Dobra a obra e a sequência é quase sempre a mesma”, garante. O que lhe agrada mais é lidar com os papéis. “É preciso fazer alguma contabilidade, ter a papelada organizada porque por vezes trabalhamos com três ou quatro obras ao mesmo tempo. Gosto desse tipo de trabalho porque me obriga a trabalhar com a matemática”.Na sua opinião os jovens não estão muitos virados para a área. “A metalomecânica já foi vista como uma mais valia. Hoje não é. Nem está a ser tão bem paga em relação à qualidade que é exigida hoje ao trabalhador”. Considera que a profissão deveria ser mais bem remunerada pelos trabalhos que são executados e pelos riscos que se correm. “Correm-se riscos mesmo na montagem porque são peças de grandes dimensões. Há que ter precaução porque o perigo está sempre ao virar da esquina”.Foi a prática que lhe deu algum conhecimento do trabalho. Em 1997 teve formação profissional na empresa. Mas a experiência na área do ferro não foi nova. Antes de integrar os quadros da empresa trabalhou durante três anos numa empresa de reparação e montagem de pecuárias. Quando foi convidado a trabalhar na empresa foi destacado para o sector das montagens. Esteve a trabalhar na montagem de uma central termoeléctrica, em Tunes, no Algarve. A empresa foi subcontratada e o operário executava um trabalho para uma firma francesa que produzia energia para Portugal e França. Esteve deslocado durante três meses. Integrou a empresa há 21 anos como serralheiro civil de primeira, que é a sua formação base, mas está há nove anos que está na secção de corte. “Sinto-me bem onde estou. Por vezes estar sempre no mesmo sítio é stressante, mas estar sentado numa cadeira também pode ser”, descreve. Ao toque da sirene os trabalhadores abandonam os postos de trabalho. São 17h00. O dia de trabalho na metalurgia acabou. Ana Santiago
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