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O melhor e o pior de 2002

Santarém

As fantasias respeitantes a custos passados e a poupanças futuras atingiram limites humorísticos inimagináveis. Chegou-se à delirante “conclusão” de que, rasgando protocolos legais, se poupariam “200 mil contos por ano”. Acrescente-se que nenhuma destas “brincadeiras” coincidiu com o dia 1 de Abril. Mesmo assim, lá houve uma “imprensazita” que, por manifesta dependência e falta de deontologia (nunca ouviu as duas partes), teve de engolir e publicar a bizarria destas generosas infantilidades e gozações.

O MELHOR DE 2002Dois acontecimentos merecem (localmente) destaque logo à cabeça: a instalação do Consulado do Brasil e o desfecho da candidatura ao programa “Polis”. O primeiro teve Botas Castanho como protagonista e o segundo foi o ministro Isaltino Morais que o trouxe a Santarém.Os novos empréstimos contraídos (em 2002) pela autarquia escalabitana, no montante aproximado de um milhão e setecentos mil contos (8.464.079,66 euros), justificam uma referência positiva por duas razões: a importância dos seus objectivos e a oportunidade das respectivas operações de crédito. Recorde-se, a este propósito, que (por mais estranho que pareça) as câmaras municipais, doravante, só poderão contrair empréstimos para a construção de campos de futebol (destinados ao “Euro 2004”).O esforço idealista e realizador de todas as juntas de freguesia do concelho, sem acesso (por imposição legal) a empréstimos milionários, é credor de pública distinção, tanto mais que estas fontes de receita seriam indispensáveis para corresponder aos anseios das populações.Os progressos (apesar de escassos) dos comandos jurídicos de ordenamento do território escalabitano (p. e. do P. D. M.) geraram naturais expectativas, em especial nas freguesias severamente atingidas pela REN (Reserva Ecológica Nacional). A conclusão dos trabalhos encontra-se longe do fim. Espera-se, todavia, que nenhum organismo da tutela ponha (uma vez mais) areia na engrenagem, dados os prejuízos daí resultantes para Santarém.No plano do ensino superior, a eleição (pela terceira vez) do Professor Doutor Jorge Justino para a presidência do Instituto Politécnico de Santarém e o curso de MBA organizado pela Escola Superior de Gestão foram os factos do ano de 2002.A relevância das acções da “Casa da Europa do Ribatejo” culminou com a “conferência mediterrânica” realizada em Santarém e com a escolha do seu fundador, Pedro Canavarro, para a F. I. M. E. Trata-se da primeira personalidade portuguesa distinguida por esta instituição internacional.O projecto solidário ligado às obras da Santa Casa da Misericórdia de Santarém mereceria sempre uma nota de apreço. Porém, esta instituição soube transcender-se, em 2002, e voltou a projectar-se, com naturalidade, no espaço das virtudes humanas, graças ao excelente desempenho de quem a dirige e de todos os seus colaboradores.Ainda nesta área da “solidariedade e da acção social”, são devidas (duas) menções elogiosas ao “Gabinete de Apoio às Minorias Étnicas” e à “Comissão de Protecção de Crianças e Jovens de Santarém”.No domínio da "prevenção e do socorro", ficaram, de novo, demonstradas a competência técnica dos bombeiros do concelho e a capacidade de coordenação dos serviços municipais de protecção civil.Relativamente ao desporto, tanto os feitos do clube “Santarém Basket” e da “Casa do Benfica”, como a alegria pelo novo relvado do Amiense” inspiram-nos um brinde especial. As razões deste brinde ficaram, ainda, mais reforçadas com os visíveis contributos para a regeneração (em curso) quer da Associação Académica quer da União Desportiva de Santarém.No tocante às diferentes iniciativas culturais, nota alta para o número e para a qualidade das acções realizadas na “Casa do Brasil”, no “Círculo” e no “Centro Cultural”. A crescente projecção das nossas “bandas” e os festivais internacionais promovidos pelo “Académico” e pelo “Teatrinho” constituíram, neste âmbito, a cereja no bolo, sem qualquer margem para equívocos. O final do ano trouxe-nos esta boa nova: José Andrade e José Manuel Casqueiro foram condecorados pelo Presidente da República, em virtude dos seus contributos para o desenvolvimento agrícola em Portugal.O PIOR DE 2002A rescisão (unilateral) de protocolos validamente assumidos pelo anterior executivo camarário de Santarém e a “inventona” do seu secretismo (o qual nunca existiu) foram os episódios mais caricatos de 2002.As fantasias respeitantes a custos passados e a poupanças futuras atingiram limites humorísticos inimagináveis. Chegou-se à delirante “conclusão” de que, rasgando protocolos legais, se poupariam “200 mil contos por ano”. Acrescente-se que nenhuma destas “brincadeiras” coincidiu com o dia 1 de Abril. Mesmo assim, lá houve uma “imprensazita” que, por manifesta dependência e falta de deontologia (nunca ouviu as duas partes), teve de engolir e publicar a bizarria destas generosas infantilidades e gozações.Passando da caricatura para a realidade, vejamos esta situação: mesmo sem contar com os novos empréstimos (cuja oportunidade foi acertada), a autarquia escalabitana deve hoje mais dinheiro do que devia há um ano atrás, sem que, entretanto, tivesse realizado quaisquer obras susceptíveis de explicar, de forma inequívoca, esta subida do défice.Sabe-se que as questões orçamentais são pouco eficazes no processo de avaliação do desempenho autárquico. No entanto, estas referências tornam-se obrigatórias, no nosso concelho, perante o excessivo enfoque dado (no início do ano) às contas transactas. Assinale-se (para desdramatizar) que, não obstante o crescente (e eventuamente imparável) endividamento da autarquia, esta possui ”margem legal” de recurso ao crédito e ainda está longe de se encontrar “falida” ou “insolvente”. Fora deste quadro, três acontecimentos marcaram negativamente o ano e traduziram, a meu ver, o que de pior se passou em Santarém: a injustiça que o “dossiê das medalhas de ouro da cidade” representou para dois insígnes ribatejanos, a insuficiência de vebas inscritas no PIDDAC (para o municipio escalabitano) os sucessivos acidentes mortais que a “estrada nacional três” continua a provocar! Post ScriptumHINO E TOIROS VOADORESA centenária Banda de Santarém está a viver um ciclo de arrojados desafios, sob a orientação de Eduardo Matos Costa. Entre os trabalhos de apreciável consistência que ali decorrem deve realçar-se o enriquecimento do hino da nossa cidade.O facto de este hino (estranhamente tão ignorado) não possuir letra constitui um enigma que ainda ninguém esclareceu por completo. Uns poderão dizer que se ficou pela melodia porque a música, só por si, gerava luz bastante para iluminar a alma da cidade. Outros sustentarão que Santarém é um admirável meteoro de história e de cultura acima de qualquer hino. E outros defenderão, ainda, que o hino em causa é, exclusivamente, da Banda de Santarém. Eu concordo com os primeiros e com os segundos mas discordo totalmente da tese dos terceiros e últimos, atendendo a que o hino da banda e o hino da cidade são partituras autónomas e completamente distintas. Basta recordar que, em 1910, a “Banda de Santarém” dedicou o hino da cidade à “Família Real Portuguesa”, no início da última tourada a que esta assistiu na “praça antiga” (no espaço onde hoje se encontra o “Banco de Portugal”). De acordo com o “noticiário” da época, a “Família Real” aplaudiu tanto o hino de Santarém como a solução encontrada para superar a falta de luz na praça: archotes presos nos cornos dos 10 corpulentos toiros da “falecida condessa da Junqueira”. Só assim, segundo os jornalistas da altura, pôde realizar-se o espectáculo que, nos textos, aparece identificado com este título impagável: “Toiros voadores em Santarém”.Enquanto este espectáculo não se repete e as dúvidas sobre a “melodia oficial de Santarém” não ficam definitivamente dissipadas, recordo o hino da homónima cidade brasileira (música de 1941 e letra de 1948), aprovado pela “Lei Municipal número 245/71 de 23 de outubro [sic] de 1971”:«Santarém do meu coração!Terra mimosa, de paz e de sonhos de amor.Santarém do meu coração!Lindo jardim, vivaz canteiro do Céu todo em flor.Santarém princesa de luz,De praias alvas e campinas verdes, rio de anil,Onde flutuam iaras mil,Loucas, ao léu na onda azul.Santarém, meu jardim, meu Pará, meu Brasil.Flor das margens virentesFormosas, ridentes, Do meu Tapajoz [afluente do rio Amazonas] azul — Azul como o céu — Quero cantar meu torrão, Santarém,Terra de encantos, de amor e de luz,Onde o Cruzeiro sem véuEspelha a sombra da CruzNo Céu.»Santarém, 31 de Dezembro de 2002 — 66º aniversário da escolha (e designação oficial) de Santarém para capital da Província do Ribatejo, na sequência da introdução da nova estrutura administrativa do país pelo então Ministro Paes de Sousa.jmnoras@mail.telepac.pt

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