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“As pessoas são mais verdadeiras à noite”

Luís Neves é gerente de discoteca

Luís Manuel Mateus das Neves sempre gostou da noite. Não é de admirar por isso que assim que saiu da tropa, tenha começado a trabalhar de noite, quando a maioria das pessoas descansa. Começou tudo por uma brincadeira – para fazer um favor a um amigo, filho do proprietário da Jet Bee, discoteca de Abrantes. Passados 18 anos sobre a primeira experiência, Luís Neves tornou-se gerente daquele espaço nocturno.

“Comecei para desenrascar uma ou duas noites, por brincadeira, e acabei por gostar tanto que nunca mais deixei”, diz Luís Neves, actual gerente da discoteca Jet Bee, situada em Abrantes. Mesmo que isso significasse uma série de sacrifícios, nomeadamente o deixar praticamente de dormir.Durante quase duas décadas, Luís conseguiu sempre conciliar o facto de ter duas profissões – uma durante o dia, outra à noite. “Até há um ano atrás acumulei sempre uma actividade diária – trabalhei primeiro numa fábrica e depois passei nove anos como vendedor da Danone – com o trabalho nocturno na discoteca, aquilo que realmente gosto de fazer”.E é necessário gostar realmente do que se faz quando, por causa disso, se passa muitas noites sem dormir. “Fiz muitas directas, saía da discoteca, ia para casa tomar um banho e começar o trabalho em horário normal”, diz, adiantando todavia que ao fim de um tempo, ganha-se o ritmo e torna-se fácil dormir muito pouco.Mas a idade também já pesa um pouco e, aos 36 anos, Luís decide dar um rumo mais calmo à sua vida – “ao fim de tantos anos comecei a chegar a um ponto de saturação e um conjunto de factores levou-me a optar por me dedicar apenas à noite”.O proprietário da discoteca de Abrantes acabou por convidar Luís para gerir o espaço. “O convite surgiu talvez pela antiguidade na casa e, gosto também de pensar assim, por algumas qualidades que ele tenha visto em mim”, diz.Desde que “agarrou” o espaço, Luís está diariamente na discoteca às 10 horas, quando a zona reservada ao bar abre. A discoteca propriamente dita abre de quarta a sábado e além da actividade normal, há também outros eventos, nomeadamente Karaoke e danças de salão.As noites de quinta-feira, por exemplo, são destinadas ao revivalismo. Entre as 21h e as duas da manhã tenta-se chamar à memória das pessoas o que acontecia nos bailes de antigamente e, ao mesmo tempo, cativar outro tipo de clientela, a “cair” para a meia idade. “A malta nova às vezes também vem espreitar e acha piada mas não tiram dali o mesmo gozo que os que vêm mesmo para dançar”.Mas as verdadeiras enchentes acontecem mesmo às sextas-feiras, quando a discoteca organiza um show de strip misto. Luís Neves diz que o objectivo é tentar dismistificar a actividade que ainda tem uma carga muito negativa. E não se pense que são só os jovens que apreciam. “Temos famílias inteiras que assistem, talvez porque também tivemos o cuidado de apresentar não um show nu e cru mas com bastante coreografia”.Luís Neves gosta muito da noite. E das pessoas que estão na noite. “As pessoas tornam-se mais soltas, são mais elas, fazem-se boas amizades”, diz. Mas na noite não há só gente boa e simpática. E às vezes cometem-se exageros – “há pessoas que durante o dia são uma coisa e à noite, depois de beberem uns copos, transformam-se completamente”, diz, adiantando que se torna complicado “tentar saber quem é quem”.Gerir uma discoteca não é tarefa fácil. “É necessário saber observar, ter um pouco de psicologia e acima de tudo calma e bom senso”, afirma o gerente do Jet Bee, adiantando que já passou por alguns episódios complicados, mas nada que não se resolvesse sem muito alarido.“Os episódios que me preocupam sempre mais são aqueles que por incoerência de algumas pessoas, põem em perigo os restantes clientes”, diz Luís Neves, recordando o lançamento de gases que se verificou no último Carnaval. “A situação resolveu-se rapidamente devido à eficiência das pessoas que aqui trabalham mas são coisas que não devem acontecer”.Para dissuadir os mais “ousados”, a discoteca tem um sistema de segurança bastante completo à porta. Além do detector de metais fixo, há ainda os tipo raquete e logo aí se faz a primeira triagem. Lá dentro as câmaras de vídeo fazem o resto.Há sempre pessoas que não entram, algumas por terem já um historial negativo na casa. E essas são geralmente as que mais insistem, que continuam a bater à porta, a tentar a sua sorte.Apesar da discoteca só abrir a partir de quarta-feira, Luís Neves começa a preparar as noites logo à segunda. “É necessário fazer encomendas, quer em termos de bar quer de outras existências, enfim todo o trabalho de logística que tem de ser feito e isso gosto de fazer logo no início da semana para ficar depois mais descansado”.Apesar de organizar tudo com tanta antecedência às vezes acontecem coisas pelas quais não se espera. Por exemplo, há sempre alguém que se lembra de pedir uma bebida que, à primeira vista não existe. “Eles são os episódios mais engraçados. É que geralmente a bebida existe mesmo mas a pessoa dá-lhe é um nome diferente ou então utiliza uma pronúncia errada”.Trabalhar na noite é a vida que Luís Neves escolheu para si. E apesar dos perigos que ela esconde não trocaria a sua profissão por outra.Margarida Cabeleira

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