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O electricista que está para durar

António Mendes, presidente da Câmara de Constância

Comunista não militante, católico, madrugador, pai-galinha e apreciador de bons vinhos e melhores águas. António Mendes, o carismático presidente da Câmara Municipal de Constância faz exercício regularmente, é apreciador de música portuguesa e em matéria de leituras fica-se pelos jornais. Para não se dizer que nesta conversa não se falou de política, fica uma declaração solene. Se o eleitorado quiser, este não é o seu último mandato.

Presidente da Câmara Municipal de Constância desde 1986, sempre eleito pela CDU, António Mendes, 53 anos, parece estar para durar. O tabu que gosta de gerir, quanto à sua recandidatura, sempre que se aproximam eleições, parece desta vez desfeito quando ainda falta correr muita água pelos rios que banham a vila até que surja o próximo sufrágio, em Dezembro de 2005.Foi-se a incerteza que costuma pairar entre apoiantes e opositores, ficam as declarações deixadas pelo próprio Mendes. “Desta vez poderá não ser o último mandato”, diz taxativo o autarca, que gosta de ressalvar nestas ocasiões que a decisão não lhe cabe só a ele mas a toda a equipa que com ele trabalha. Mas, se isso se confirmar, não pensa deixar de concorrer pela CDU, e adoptar “o estatuto de independente”.Longe vão os tempos em que António Mendes, casado com uma professora e pai de uma rapariga de 23 anos e de um rapaz de 16, militava no PCP. A sua desvinculação do partido ocorreu em 1998, mas o seu empenho nas lides partidárias já não era significativo. A sua ligação à política partidária surgiu na sequência da sua actividade como dirigente do Sindicato dos Electricistas. O histórico socialista Tito de Morais, já falecido, ainda o namorou para o levar para o PS, teve ligações estreitas com o activista sindical socialista Maldonado Gonelha, mas o electricista da CP que trabalhava no Entroncamento preferiu a foice e o martelo dos comunistas. Uma decisão que não renega e de que diz não se arrepender.Aliás ainda hoje comunga desses ideais, que diz coabitarem bem com a fé católica herdada da família e moldada na catequese e nas missas a que assistia em criança e jovem. “Não há colisão entre a religião e os ideais comunistas. Eu nunca vi qualquer obstáculo em me rever naquilo que o PCP diz defender e nos valores que a Igreja Católica professa”.O PRESIDENTE-ATLETAE se no campo das ideologias António Mendes parece um homem de convicções firmes, no capítulo do corpo não fica atrás. Duas vezes por semana ruma às instalações desportivas municipais para praticar natação e musculação. Sempre pagando pela utilização dos equipamentos, como gosta de sublinhar, não vá algum opositor levantar dúvidas.O autarca cultiva muito certos hábitos que, segundo os especialistas, contribuem para uma vida saudável. Ou não tivesse ele já apanhado alguns sustos devido ao coração. Levanta-se todos os dias com as galinhas, “por volta das seis e meia da manhã”, e normalmente passa por algumas obras da autarquia antes de chegar à câmara, onde na maior parte dos dias é o segundo a chegar. Só a empregada da limpeza lhe ganha, porque entra às oito. Termas, praia e longas caminhadas a pé à beira-mar, que ninguém na família consegue acompanhar, são outras formas de revigorar o corpo e a mente de que nunca abdica todos os anos. A provar também que António Mendes é um homem de hábitos, está o facto de raramente falhar o mercado semanal do Entroncamento, cidade onde gosta de ir rever os amigos e abastecer-se para o resto da semana de produtos como o peixe fresco, que depois faz questão de preparar para o almoço da família. “Mas os meus dotes culinários não passam dos grelhados no carvão”, elucida, contando com humor a aventura que viveu em casa com o filho - quando a esposa esteve internada - para fazer uns, aparentemente simples, ovos mexidos.Para acompanhar as refeições, geralmente frugais pois não é homem de muito apetite, António Mendes gosta de água ou vinho tinto, as suas bebidas preferidas. Em sua casa repousam garrafas de bons néctares, que gosta de apreciar, ou não fosse assinante de uma conceituada revista que propõe algumas das melhores pingas do mercado e que o fazem desembolsar com regularidade algumas dezenas de euros.FINS DE SEMANA EM FAMÍLIAO fim de semana é geralmente passado em família, altura em que aproveita para pôr em dia a leitura dos semanários locais, regionais e nacionais. Outras literaturas já não são tão frequentes, tal como raras são as vezes que vai ao cinema. Prefere a música e intérpretes como Fausto, Pedro Barroso, Xutos e Pontapés, Lúcia Moniz, João Pedro Pais ou Madredeus, mas não é homem para andar quilómetros para ver um concerto.Tal como, embora sendo benfiquista, nunca foi ver um jogo de futebol ao Estádio da Luz. “Prefiro ver o futebol na televisão”, diz, acrescentando que a única partida da primeira divisão que viu ao vivo foi um Vitória de Setúbal-Sporting já há alguns anos, desafiado por dois amigos lá da terra. Agora, acompanha com interesse a carreira desportiva do filho, jogador de basquetebol dos juniores e seniores da União da Chamusca. Um rapaz chamado António, como o pai, que já é internacional nas categorias jovens e um excelente aluno no 11º ano. A filha, Bárbara, a terminar a licenciatura em Farmácia, também só lhe tem dado alegrias na sua carreira estudantil. Nota-se que é com orgulho que fala deles.Já o pai viveu outros tempos. Oriundo de uma família humilde, António Mendes não passou do quinto ano e do curso profissional de electricidade feito na Escola Camões, no Entroncamento. Mas, tal como Lula no Brasil, em Constância também não foi preciso um canudo para um operário chegar ao poder.João Calhaz

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