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Os anunciados espectáculos com "toiros de fogo" não se realizaram

O fogo que não ardeu

Feira do Toiro com espectáculos proibidos pelo Tribunal
O programa da Feira do Toiro, que decorreu de sexta a domingo em Santarém, teve de sofrer ajustes de última hora por ordem do tribunal da cidade, que proibiu os anunciados espectáculos dos “recortadores valencianos com toiros de fogo” agendados para os três dias do certame.O Tribunal de Santarém deu assim provimento à providência cautelar interposta por uma associação de defesa dos animais, a Animal, que considerou esse espectáculo susceptível de causar dor e sofrimento aos animais para além de não ter qualquer tradição no nosso país. Nessas largadas, os toiros surgem com archotes presos aos cornos, o que, segundo os defensores dos animais, lhes pode provocar dolorosas queimaduras.Esse contratempo não impediu contudo que a feira, na sua primeira edição, fosse um sucesso de bilheteira, dada a afluência maciça de visitantes. A polémica em torno dos toiros de fogo parece aliás ter tido o condão de despertar os aficcionados para o certame. Pelo menos é essa a opinião do sociólogo Luís Capucha, que durante um colóquio realizado na tarde de sexta-feira afirmou com alguma ironia que a feira está condenada a ter sucesso “pois suscitou a atenção dos animalistas, despertando assim a atenção do público interessado”.Nesse colóquio, que versava “A actualidade da corrida de toiros”, as associações de amigos dos animais não foram poupadas. Luís Capucha reconhece mesmo que a mudança dos tempos e a polémica em torno da festa brava pode levar a que o espectáculo dos toiros passe a “suavizar os seus contornos”, “limitando o impacto dos aspectos mais chocantes e trágicos”.Uma descaracterização do espectáculo que será mal compreendida nas comunidades “onde se respira a festa todos os dias” e onde a tauromaquia se torna a “matriz organizadora da relação entre as pessoas”. Nesses locais com “um código de identidade cultural específico”, Luís Capucha diz que “toiros e sociedade não se distinguem”.“É uma maneira de ser própria, que nós temos obrigação de preservar. É desse caldo identitário que Santarém está à procura e há muita necessidade no nosso país que uma cidade como Santarém afirme o amor a esta cultura”, afirmou o sociólogo e aficcionado, perante os aplausos da plateia.A sessão assemelhava-se aliás a um comício em prol da festa brava, embora com poucos efeitos práticos, pois a esmagadora maioria dos presentes já estava arrastada para a causa. Como aliás lembrou o professor universitário José Pedro Serra, que é contra a ideia de se “deitar fora” uma tradição “que foi esculpida no tempo” e denuncia a “inteira incomprensão de quem vive no betão por quem olha a lezíria e o campo”. Já Joaquim Grave relembrou a natureza lutadora do toiro, para dizer que só se respeita essa característica combatendo-o na arena.E até o secretário de Estado do Desenvolvimento Rural, que presidiu à inauguração da feira, deixou claro que este tipo de iniciativas merece ser acarinhada. Bianchi de Aguiar visitou muitos expositores, entre os quais se contavam as principais ganadarias e coudelarias do país, e revelou a disponibilidade do Ministério da Agricultura para apoiar as especifidades da actividade ligada à criação de toiros de lide.
Os anunciados espectáculos com "toiros de fogo" não se realizaram

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