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“A música tem que dar prazer”

Nuno Mesquita Pedro é maestro da Orquestra da Sociedade Cultural e Recreativa de Vale da Pinta

O maestro Nuno Mesquita Pedro dirige a banda, a orquestra e o grupo coral da Sociedade Cultural e Recreativa de Vale da Pinta, Cartaxo. À frente dos músicos vai transmitindo por gestos o balanço, o ritmo e a dinâmica dos temas. A ponta dos dedos concentra toda a musicalidade que vai passando aos músicos. Mas para o maestro, mais difícil que dirigir uma orquestra, é ser músico. Um eterno estudante que, tal como um atleta de alta competição, tem que treinar diariamente para estar ao mais alto nível.

À frente da orquestra, Nuno Mesquita Pedro, 29 anos, prepara-se para dar a indicação de entrada. Os músicos estão a postos para tocar a primeira nota. O concerto começa. À medida que o maestro vai dirigindo a banda os braços desenham movimentos largos. Os gestos indicam o balanço, o ritmo e a dinâmica da música. “Olhando para a expressão do maestro os músicos sabem quando devem tocar de forma mais suave ou mais agreste. O gesto transmite todo esse conjunto de sensações”, descreve Nuno Mesquita, maestro da Banda, Orquestra e também do Grupo Coral da Sociedade Cultural e Recreativa de Vale da Pinta, Cartaxo.“A ponta dos dedos tem as notas todas e os músicos compreendem o que se pretende”, esclarece. Normalmente o maestro não utiliza a batuta. “É um instrumento de precisão. Para o tipo de música que se toca não é essencial”.O papel do maestro já o fascinava quando ia assistir a concertos, antes de saber que viria dedicar-se a este trabalho. “A música passa primeiro pelo maestro e só depois é transmitida para os músicos. Os músicos estão a receber o que o maestro lhes dá”.Nuno Mesquita descobriu a paixão pela música aos nove anos. Começou na Sociedade Filarmónica Cartaxense. Esteve um ano no conservatório de Santarém, em trompete, até ingressar no conservatório de Lisboa, onde estudou trombone de varas durante oito anos. “Não sou vidrado num só instrumento. Gosto de ouvir todo o tipo de instrumentos e acho que hoje as pessoas procuram cada vez mais novas sonoridades”.Aos 18 anos começou a trabalhar na música. Deu aulas no ciclo preparatório do Cartaxo e na Sociedade Filarmónica Cartaxense. É professor na escola de música da sociedade há oito anos e há cinco que dirige a banda. O maestro, que integra a Orquestra Santos Rosa, fez também alguns cursos intensivos de direcção coral, banda e direcção de orquestra. É natural de Vila Chã de Ourique, reside no Cartaxo, mas ligou-se afectivamente a Vale de Pinta. Foi lá que iniciou um trabalho inovador na região, criando uma orquestra juvenil que conta com 30 jovens da freguesia, alguns dos quais ainda frequentam a escola de música.O repertório é variado e à base de música ligeira com temas portugueses e estrangeiros. “New York, New York”, jazz samba e as marchas ribatejana e lisboeta são alguns temas tocados. “Escolho temas acessíveis e que lhes dêem prazer. Quando estou a ensaiar um tema tenho o cuidado de olhar para a cara deles e ver se se sentem felizes”.A música, acima de tudo, tem que dar prazer às pessoas. “Infelizmente isso é uma coisa que às vezes não se vê. As coisas são criadas com determinado fim”.O mais difícil no ensino da música é fazer com que se compreendam as bases. “Por vezes o ensino não é o mais correcto porque se liga mais à leitura e menos a outros aspectos. É importante para um músico não só estar a ler como ouvir”. Dirigir uma orquestra não é tão complicado em termos musicais, mas mais em termos humanos. Acima de tudo, o mais difícil, “é ser músico”, assegura.O interesse do público da terra compensa o seu trabalho. “São pessoas educadas a ouvir. Gostam e vibram com o espectáculo, que é uma coisa que não se encontra em todo o lado”.A música é uma paixão para o maestro. “Estou cá todos os dias, excepto ao fim de semana”. À segunda-feira, quando não tem ensaios, encontra-se com outros músicos de jazz e amigos na sede da sociedade para improvisarem alguns sons. A sua escola é de música clássica, mas neste momento é um interessado por Jazz. “Comecei a ouvir mais e a aprender alguma coisa sobre improviso. Começou a criar-se um bicho que dificilmente irá parar”.O seu trabalho concentra-se normalmente à tarde e à noite. Os espectáculos são sobretudo ao fim de semana. A música, como profissão, já é vista como uma actividade respeitável, embora a remuneração ainda fique aquém de compensar os milhares de horas que ao longo de anos se despende no estudo sem ganhar um tostão. O maestro tem um ordenado que lhe permite sobreviver. Normalmente para os músicos o dinheiro é uma coisa secundária. “Mas é difícil sobreviver só com a música é. Precisamos de comer e de fazer a manutenção dos instrumentos”.Ainda hoje continua o estudo da música. “O músico é um estudante de vida inteira. É como um atleta de alta competição. Tem que tocar diariamente para tocar ao mais alto nível”.Ana Santiago

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