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O barquinho e o transatlântico

Miguel Noras

A meu ver, a litoralização do país não é hoje ainda mais acentuada devido, quase exclusivamente, aos esforços das autarquias locais e dos politécnicos. Os seus resultados são invejáveis, sobretudo, num país onde os níveis de desempenho das estruturas da Administração Pública ferem, muitas vezes, a própria mediocridade.

“Quando se pergunta: Politécnico de Santarém -um sonho realizado? Eu respondo: quando nasceu, nos anos oitenta, era uma barquinho que não conseguia chegar à outra margem do rio. Hoje, com o trabalho do Professor Jorge Justino, seu presidente, este Politécnico é um transatlântico.” concluiu Veríssimo Serrão na abertura do ciclo de conferências “História, Cultura e Desenvolvimento”, organizado pela Escola Superior de Gestão de Santarém (ESGS) e pela Associação dos Antigos Alunos da ESGS.Esta apreciação do insigne historiador escalabitano e primeiro presidente do Politécnico ajusta-se, na perfeição, aos “oceanos do ensino superior” onde navegam os “transatlânticos dos politécnicos”.Com pouco mais de vinte anos, estas estruturas de produção de saber e de massa crítica constituem um dos raros exemplos de instituições portuguesas que vingaram logo na primeira geração, sem necessidade de serem refundidas, refeitas ou alteradas. A meu ver, a litoralização do país não é hoje ainda mais acentuada devido, quase exclusivamente, aos esforços das autarquias locais e dos politécnicos. Os seus resultados são invejáveis, sobretudo, num país onde os níveis de desempenho das estruturas da Administração Pública ferem, muitas vezes, a própria mediocridade.Daí que os recentes diplomas legais tenham passado, na prática, a equiparar universidades e politécnicos no que concerne à criação de novos cursos superiores. Assim, as universidades deixarão de ampliar a estonteante listagem de novos cursos para tudo e para nada. Os politécnicos, sem autonomia neste domínio, bem merecem depender de regras imparciais e que se apliquem a todas as instituições do “ensino universitário” .A concessão (por estes “transatlânticos”) de graus académicos superiores à licenciatura é já só uma questão de tempo e deverá depender, exclusivamente, das qualificações e das competências exigidas para o efeito.Quando algumas “universitárias naus privadas” promovem, entre outras iniciativas, mestrados de “terceiras águas” (leccionados por licenciados), percebe-se, de imediato, quem representa hoje o “barquinho” incapaz de passar para a outra margem do ensino superior em Portugal .Post ScriptumFraudesO catedrático Antero Ferreira voltou a Santarém, no dia da “Reconquista Cristã” da cidade. A este propósito, Veríssimo Serrão disse, na sala dos Actos do Seminário, que o antigo presidente do IPPAR “está permanentemente enamorado da capital do gótico”.De facto, só um homem apaixonado poderia descrever as formas e os conteúdos da sua amada, como o fez Carlos Antero Ferreira. A sua conferência foi um curso de história de Santarém.Como não pretendo concorrer com os editores, que já garantiram a publicação integral do respectivo texto, deixo somente o registo dos beijos finais com que o conhecido professor se despediu da cidade: “Acreditei e acredito que um dia Santarém será reconhecida pela UNESCO como património mundial. Tem todas as condições para isso. É a minha opinião. Confesso-me totalmente, nesta matéria: acho que houve outras classificações obtidas sem qualquer merecimento. São autênticas fraudes. Não me peçam para dizer os nomes. Fico por aqui!”.“Vi”No “álbum inaugural” da barragem de Póvoa e Meadas, no vizinho distrito de Portalegre (concelho de Castelo de Vide), o Doutor Oliveira Salazar (enquanto Presidente do Conselho de Ministros) escreveu, meramente, “Vi”. A seguir, datou e assinou.Não conheço outra mensagem honorífica reduzida a esta palavra -verdadeira relíquia da apologia do pragmatismo e da objectividade ou simples expressão de mau humor? O destino do criminosoNo “livro de despachos” dos comandantes da “PSP de Santarém” existe uma “preciosidade” com mais de meio século que reza assim: “o criminoso das ruas da cidade foi trazido à minha presença. Depois de devidamente corrigido, seguiu o seu destino”.Ninguém sabe ao certo se foi passar férias a Alcoentre ou se ficou logo instalado na “residencial dos Capuchos”!Vão dar cabo da grama todaQuando as televisões se referem às centenas de milhares de soldados que sitiam (e bombardeiam) o Iraque, mesmo antes da guerra começar, vem-me à cabeça a história dos elefantes e da formiga que deram de brigar e estragaram a grama toda.Para meu azar, nunca fui dotado de saberes bélicos. Daí não entender o novo conceito de “guerra preventiva”. Felizmente, já me explicaram as secretas razões que inspiram americanos e ingleses neste conflito.A história que me contaram é, mais ou menos, esta: Saddam Hussein (ao contrário de Churchil) perdeu todas as guerras mas venceu todas as eleições com cerca de 100% dos votos. Interessa, por isso, ao Ocidente descobrir, com urgência, a fórmula química que o líder iraquiano utilizou. Aliás, segundo me explicaram, já se especula que, nas próximas eleições, o presidente do Iraque iria mesmo tentar obter 201% dos votos. Até onde consigo perceber, este argumento só cai pela base porquanto George Bush nem sequer precisou de ter mais votos do que o seu rival (Al Gore) para se tornar presidente da “maior democracia do mundo”.Resta-me acreditar em um estadista que confere grande credibilidade ao Ocidente -Tony Blair. Se o líder britânico está pela guerra é por ser certamente essa a melhor vereda para chegar à realização humana com recurso às britânicas estratégias contraceptivas.Para já, Blair é, porventura, a maior esperança para fazer abortar este conflito: ou ele manda os americanos para casa exercitar “carícias orais” (como já recomendou aos ingleses) ou eles vão mesmo dar cabo da grama toda e repartir o iraquiano petróleo francês e russo! Santarém, 16 de Março de 2003:- Dia da inauguração da Igreja de S. José, em Chã de Baixo/Outeiro de Fora, por Dom Manuel Pelino Domingues, Bispo de Santarém;- Dia da “Cimeira 3 + 1” das Lajes (Açores); - 15º aniversário da morte de milhares de iraquianos, em consequência do uso de armas químicas por Saddam Hussein;-177º aniversário natalício do romancista Camilo Castelo Branco.jmnoras@mail.telepac.pt

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