Iminente catástrofe ambiental
Alcanena e Alviela em situação de alerta por causa de resíduos industriais
Está iminente uma catástrofe ambiental em Alcanena. As condutas que transportam os resíduos industriais das fábricas de curtumes estão em ruptura e já há derrame de matérias poluentes para terrenos. As infiltrações irão atingir lençóis subterrâneos de água. Paralelamente, e para minimizar os derrames para os solos, estão a ser efectuadas descargas de efluentes não tratados para o rio Alviela. É uma maré negra à escala da região.
Poluição do Alviela não páraOs dez milhões de contos gastos na Estação de Tratamento e Águas Residuais (ETAR) de Alcanena foram dinheiro deitado à rua. Esta é pelo menos a visão do presidente da Junta de Freguesia de Vaqueiros, que está farto de ver o rio Alviela poluído por esgotos domésticos e industriais não tratados provenientes daquele equipamento. A última descarga foi no dia 4 de Abril e desta vez Firmino Oliveira não se ficou pelos lamentos: chamou os serviços de ambiente da GNR, que confirmou a origem da descarga, e escreveu ao novo ministro do Ambiente pedindo-lhe para “tomar conta deste grande problema (...) que muitos têm procurado esconder”.Apesar do dinheiro investido na ETAR de Alcanena, as descargas de esgotos sem tratamento e com elevada carga tóxica no Alviela são regulares. A explicação é simples: a rede de colectores que envia os esgotos para a ETAR encontra-se degradada nalguns pontos devido a corrosão, o que permite a infiltração de águas pluviais nas condutas. Com isso, o caudal que aflui à ETAR aumenta substancialmente sempre que chove. E como o equipamento não tem capacidade para tratar mais de 10 mil m3 cúbicos diários a alternativa é despejar o esgoto excedente directamente no rio, antes de entrar no processo de tratamento. Um “atentado ecológico”, como lhe chama o autarca Firmino Oliveira, lembrando que só na descarga de 4 de Abril “foi despejado sem qualquer tratamento para o meio hídrico pelo menos um tanque armazenador dos dois que existem concebidos para armazenar e receber os efluentes da indústria de curtumes”. Ao todo, pelas suas contas, cerca de 5 mil metros cúbicos de matéria altamente poluente, carregada de resíduos tóxicos perigosos. “Como cidadão e como autarca venho por este meio dirigir-me a V. Exa. para que ponha termo à anarquia ou negligência no sistema de tratamento de águas residuais de Alcanena”, escreve Firmino Oliveira na abertura da carta dirigida ao ministro Amílcar Teias. Um documento datado de dia 7 de Abril onde o autarca da CDU pede ao governante que tome medidas para que o Verão de 2003 não seja “catastrófico”.Os alertas do presidente de Vaqueiros não são de agora e O MIRANTE já por diversas vezes abordou a questão. No final de Fevereiro, o nosso jornal confrontou a Direcção Regional do Ambiente e Ordenamento do Território com a situação, tendo a presidente dessa entidade reconhecido que o sistema de tratamento de esgotos de Alcanena apresenta “alguns problemas” ao nível da rede de colectores, em parte devidos “à idade dos sistema de drenagem e à agressividade dos efluentes das indústrias de curtumes”.Fernanda Vara informou-nos ainda que relativamente a essa situação “foi solicitada a intervenção do Instituto da Água, na qualidade de dono da obra, para a realização de várias acções de melhoria, com o que se espera resolver os problemas a médio prazo”.Agora, é provável que Fernanda Vara receba mais uma chamada de atenção sobre o assunto. Elementos do Serviço de Protecção da Natureza da GNR estiveram na ETAR de Alcanena e confirmaram a origem do problema. Segundo nos informou o coordenador distrital desse serviço, sargento-ajudante Marques, está a ser elaborado um relatório destinado à Direcção Regional do Ambiente, a quem competirá dar os passos seguintes.Para além do presidente da Junta de Vaqueiros, também o presidente da Câmara de Alcanena está preocupado com a situação. Luís Azevedo referiu-se à gravidade do problema, sexta-feira, no decorrer de uma visita do governador civil de Santarém, Mário Albuquerque, ao seu concelho. (Ver texto nesta página).Condutas de resíduos dos curtumes de Alcanena com fendasAlcanena está em risco de transformar-se no palco de um grave acidente ambiental. As condutas subterrâneas que transportam os resíduos industriais das fábricas de curtumes para a estação de tratamento estão a degradar-se a grande velocidade. As tubagens, com cerca de 20 anos, apresentam níveis de deterioração preocupantes, e se não forem substituídas rapidamente, alguns lençóis de água subterrâneos e terrenos podem ficar contaminados com produtos químicos altamente nocivos. Esta situação foi confirmada pelo presidente da Câmara de Alcanena. Luís Azevedo disse a O MIRANTE que o emissário de esgotos apresenta sinais de deterioração “provocados pela corrosão dos produtos químicos usados no curtimento das peles”. O problema afecta os cerca de 30 quilómetros de condutas que atravessam a vila. Em alguns locais o emissário apresenta já algumas fendas, que inclusivamente têm originado a infiltração de águas das chuvas no interior das tubagens. Teme-se que o aumento dessas rachas venham a originar fugas dos líquidos contaminados para o subsolo. A autarquia tem feito várias sondagens nos locais por onde passam as condutas e tem inclusivamente imagens vídeo do interior das mesmas, que indicam uma situação alarmante. Para além da corrosão dos produtos químicos, chegou-se também à conclusão que as condutas não são as mais indicadas para aquele tipo de líquidos. “Na altura foi usada a cerâmica, até porque era o produto mais resistente. No entanto chegou-se agora à conclusão que afinal estes tubos não têm uma duração prolongada”, explicou Luís Azevedo, acrescentando que actualmente os tubos mais indicados são os de “polietileno de alta densidade”. A Câmara de Alcanena já entrou em contacto com o Ministério do Ambiente no sentido de se arranjar uma solução para o caso. Segundo Luís Azevedo, existem duas hipóteses que estão a ser equacionadas: a de construir novas condutas paralelas às actuais ou a de introduzir novos tubos por dentro das condutas de cerâmica. Em qualquer dos casos os trabalhos são delicados e não devem custar menos de 10 milhões de euros. O presidente da autarquia avisa que apesar das negociações com o ministério estarem a decorrer a bom ritmo, existem algumas incertezas quanto ao financiamento da obra, pelo que a solução a adoptar pode passar pela constituição de uma empresa multi-municipal que tratará de arranjar o dinheiro para pagar os trabalhos. Qualquer que seja a opção, o presidente da câmara alerta que a situação tem que ser “resolvida urgentemente”. O limite de tempo previsto para a substituição das condutas é de dois anos, sob pena de a partir dessa altura começar a haver fugas graves no emissário de esgotos industriais. Paralelamente, a autarquia quer também resolver algumas anomalias da Estação de Tratamento de Águas Residuais Industriais, como é o caso da correcção da cor das águas após o tratamento. Bem como a correcção no nível do solo da estação, que por estar situada em terrenos inundáveis fica inacessível em alguns períodos do ano.
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