Urgências à inglesa
Hospital Distrital de Santarém vive fase de mudança no atendimento e na gestão
Vermelho, laranja, amarelo, verde e azul. Cada cor sua prioridade. O arco-íris das urgências é importado de Inglaterra e vai começar a vigorar no Hospital de Santarém a partir de Maio. O tempo de espera aumenta consoante a cor atribuída ao doente na entrada. O vermelho significa urgência máxima e o atendimento é imediato. O azul é a cor do não urgente e pode valer uma “seca” de quatro horas.
O atendimento no Serviço de Urgência do Hospital Distrital de Santarém (HSD) vai ter novas regras a partir de Maio, com a entrada em vigor do chamado “Sistema de Manchester”. A cada caso clínico será atribuída uma cor, após triagem executada por uma equipa médica responsável pelo encaminhamento dos doentes.O vermelho corresponde aos casos de emergência e garante o atendimento imediato dos utentes. Aos pacientes que sejam considerados casos muito urgentes é atribuída a cor laranja e o limite máximo de espera é de 10 minutos. Uma hora é o período que poderá ter de aguardar um doente classificado com a cor amarela, considerado como caso urgente. A cor verde (pouco urgente) pode significar uma espera até duas horas e a azul (não urgente) pode obrigar a quatro horas de espera. Este modelo “acaba com a triagem do porteiro, que encaminha o doente sem critério objectivo, e permite a decisão tomada cientificamente, pondo de lado argumentos rudimentares”, explica o presidente do conselho de administração do Hospital de Santarém, Edgar Gouveia.“O objectivo é fazer a triagem de prioridades, ou seja, identificar critérios de gravidade de uma forma objectiva e sistematizada, que indicam a prioridade clínica com que o doente deve ser atendido e o respectivo tempo alvo recomendado até à observação médica. Não se trata de estabelecer diagnósticos”, continua aquele responsável.O sistema, implementado inicialmente na cidade inglesa de Manchester em 1997, já se encontra em vigor nalguns hospitais portugueses, tendo sido pioneiros o de Amadora-Sintra e o de Santo António (Porto). COMBATE AO DESPERDÍCIOO HDS pretende assim estar na vanguarda em termos de qualidade dos cuidados de saúde a prestar aos seus cerca de 200 mil potenciais utentes. E as medidas para reforçar o seu papel de “referência” no panorama regional não se ficam por aí. Uma importante achega para esse objectivo consiste no facto de o Hospital de Santarém ter sido seleccionado para participar num projecto-piloto que envolve 5 dos 31 hospitais recentemente convertidos em sociedades anónimas, visando a introdução de um conjunto de melhorias a curto prazo. Um projecto que envolve todas as classes profissionais da unidade de saúde.Os objectivos passam pela redução das listas de espera para exames, consultas e cirurgias, a revisão dos processos de referenciação entre os centros de saúde e os hospitais e a promoção de inquéritos aos utentes. “Queremos que os pacientes digam de sua justiça quanto à forma como têm sido tratados e atendidos”, explica Edgar Gouveia.As medidas estendem-se também às áreas administrativa e de gestão. Pretende-se a redução de horas extraordinárias, a redução do período médio de permanência dos utentes no hospital em casos de internamento, bem como a racionalização dos custos dos consumíveis clínicos e dos custos dos serviços de apoio (catering, lavandaria, segurança, limpeza ou comunicações).O objectivo do conselho de administração é claro: combater o desperdício e reduzir os encargos de exploração do hospital, proporcionando ao mesmo tempo uma melhoria nos cuidados a prestar. À partida podem parecer objectivos inconciliáveis, mas Edgar Gouveia está convencido que são possíveis de atingir.Nesse capítulo, realça-se ainda a implementação pelo conselho de administração do projecto RAPOSA – Revisão Administrativa de Processos, Operações de Tesouraria e Serviços de Aprovisionamento. Um conjunto de procedimentos que implica a mobilização de toda a estrutura e visa “reduzir custos e evitar perdas” em todo o circuito de compra, armazenamento, distribuição e consumo de medicamentos, de materiais consumíveis, de equipamentos e outros bens.Da Petrogal para o hospitalEdgar Gouveia anda “na casa dos cinquenta” e foi requisitado à Petrogal para presidir ao conselho de administração do Hospital Distrital de Santarém S. A.. Licenciado em Organização e Gestão de Empresas pelo Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE), mantém alguma da pronúncia do Alto Douro que o viu nascer, lá para as bandas de Alijó. Também viveu em Angola. É casado e pai de filhos e divide o seu tempo entre Santarém e Lisboa, onde mantém a casa de família. Nos últimos 18 anos fez carreira profissional na Petrogal, onde é quadro dirigente. Nessa empresa pública desempenhou vários lugares de chefia, tendo, entre outras funções, sido director das secções de contabilidade e de compras e administrador executivo da Companhia Logística de Combustíveis que gere o parque de Aveiras de Cima.