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Nossa Senhora da Boa Viagem, padroeira da festa

A festa dos marítimos

Nossa Senhora da Boa Viagem enche de cor as ruas e rios de Constância

Todos os anos durante a Festa de Nossa Senhora da Boa Viagem os barcos enfeitam-se para o cortejo fluvial que atravessa o Tejo e o Zêzere. Os tripulantes das embarcações engalanadas evocam os tempos em que os rios de Constância eram as grandes vias de comunicação. A população envolve-se na decoração dos barcos e das ruas que enchem de cor a vila poema.

Do alto do cais de Constância avista-se ao longe, algures entre o Tejo e o Zêzere, uma pequena embarcação em madeira. As cores alegres das flores de papel crepe e seda e das bandeiras multicolor que enfeitam o barco espelham-se nas águas. A embarcação rompe calmamente as águas do rio, arrastando um cortejo de muitos outros barcos adornados. É a chegada das embarcações engalanadas ao cais da vila poema, uma tradição que se repete todos os anos ao início da tarde de segunda-feira da Boa Viagem, feriado municipal, na semana depois da Páscoa.A banda da Associação Filarmónica Montalvense saúda o cortejo marítimo. No cais o ambiente é de colorida animação a condizer com os tons que embelezam os barcos. Alguns homens com os trajes típicos dos pescadores, camisa e calção xadrez e barrete preto, passeiam-se à beira rio. A chegada das embarcações faz regressar ao tempo em que o rio era a grande via de comunicação. Constância possuía então rio meia centena de embarcações. Era a segunda frota marítima do Tejo, a seguir a Abrantes. Os barcos que se alinham frente ao recinto da festa representam as aldeias ribeirinhas dos municípios banhados pelo Tejo. Os populares enfeitam os barcos com o material que a autarquia disponibiliza e rumam a Constância para que barcos e tripulantes recebam a benção da Nossa Senhora da Boa Viagem.Muitos dos figurantes são gentes do rio ou descendentes de pescadores. Convivem com os remos e o barco com a facilidade de quem se sente em casa. Para muitas famílias de aldeias ribeirinhas do Ribatejo o rio era a garantia do sustento diário.Lúcia Jorge, 68 anos, e Manuel Charana, 70, que rumaram desde o concelho vizinho de Vila Nova da Barquinha, criaram o único filho no barco até aos quatro anos enquanto andavam ocupados na faina. “Tínhamos noites que não íamos à cama”, recorda Lúcia Jorge.José Jerónimo, 49 anos, um dos pescadores trajados a rigor, trabalha como operário fabril, mas é descendente de gentes do rio Zêzere. A família deixou a faina depois da construção da barragem de Castelo de Bode, que afastou os peixes do rio. “O sável que se apanhava no Zêzere deixou de subir com as águas mais frias”, lembra.Algumas embarcações são ornamentadas ao pormenor. O barco de Manuel Jesus, que partiu de Tancos, em representação do concelho do Entroncamento, foi revestido a flores pela mulher e sogra que ocuparam muitas das horas livres. O barco é forrado com um cordel de hera. O altar, debruado a rosa e cravo, acompanha a figura de Nossa Senhora de Fátima. “Qualquer imagem serve desde que se faça boa viagem”, comenta a aderecista.FLORES NA TRAVESSA DO TEJOEntre a “Rua da Barca” e a “Travessa do Tejo”, passando pelas escadinhas de “Tem-te bem”, não há recanto sem flores, barcos miniatura, pequenos altares ou até mesmo bonecas de cartolina. As flores enfeitam cada ruela de Constância, terra inspiradora de poetas.A tinta das flores de papel, enroladas em arame e suspensas por vários quilómetros de cordel, já tingiu algumas das paredes. São Pedro não foi padroeiro das festas do concelho que decorreram no fim de semana. São os moradores de cada uma das ruas que se ocupam da decoração floral.Fernando Rosa Ferreira, 70 anos, aguarda a passagem da procissão enquanto serve de guardião à exposição de bonecas no seu quintal. A sua filha é a artesã das miniaturas feitas de cartolina e vestidas de papel colorido que se espalham pelo quintal. Ao final da tarde, depois da missa solene, a imagem da padroeira de Constância sai da Igreja matriz e desce pelas escadarias íngremes da vila até ao cais para a benção dos barcos. “Nossa Senhora da Boa Viagem/ terra mãe dos navegantes/ conduzi à vossa pátria/ vossos filhos triunphantes”, lê-se numa escadaria da vila.O pároco da vila, José Maria Rodrigues, faz as honras da casa e dá a benção simbólica aos barcos e depois as viaturas porque “os que viajam é que precisam de benção”.O padre inicia a oração e os marítimos ecoam as preces que soam como um eco vindo do rio. Enquanto os sinos dobram os barcos navegam coloridos pelo rio, envoltos no nevoeiro suave que os foguetes espalham.Ana Santiago
Nossa Senhora da Boa Viagem, padroeira da festa

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