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Libidinoso Serafim das Neves

Também eu fiquei chocado com a notícia do encerramento dos tais bordéis em Tomar. Não era frequentador mas calculo o transtorno que a coisa causou aos apreciadores de febra. Ainda por cima estrangeira. Picanha de primeira, ouvi dizer. A rapaziada das legalidades é lesta a encerrar estas coisas mas há outras a que não deita as unhas nem por nada. São prioridades que a minha razão desconhece.Caríssimo, ando desanimado com a Primavera deste ano. Ora chove, ora faz sol. Um desatino total. As mulheres nunca mais se descascam e a minha líbido é que sofre. Num dia empanturro-me de belas vistas, no outro esbarro em muralhas de casacos e camisolas. É desatinante. Desmoralizante. Descolhoante, como diria o meu primo Ernesto.No 25 de Abril, então, foi demais. A chover de manhã à noite. Nem saí de casa. Qual liberdade, qual carapuça?!! Foi uma prisão mais dura que a de Caxias nos tempos da outra senhora. Estive aboborado a olhar para a televisão. A ouvir os discursos dos políticos. Os dos políticos de cravo ao peito e os dos outros. Fiquei com otites, como calculas.Eu cá sou pelo 25 de Abril. Ponto final. Pelas liberdades e libertinagens. Sejam democráticas ou desbragáticas. Irritam-me os professores da democracia. Irritam-me os políticos ridículos. Irritam-me os militarões de Abril que me querem dar aulas de naftalina. Fazem-me urticária. Dão-me volta ao estômago. Os homens que deitaram o Marcelo Caetano abaixo são os meus heróis. Os outros que aparecem agora a parlapiar, embora tenham os mesmos nomes dos dessa altura e se pareçam vagamente com eles, não me dizem nada. É nestes momentos que eu descubro o significado de expressões como: “o silêncio é de ouro”. Os que nos libertaram e foram à vida, como o nosso Salgueiro Maia, são homens com agá hiper-maiúsculo. Emociono-me quando falo deles. Os outros...E perguntarás tu porque é que estou para aqui a marrar com sensaborões. Pois bem, ouvi - já não sei onde - um discurso de um senhor, chamado não sei o quê, de uma tal Associação 25 de Abril, que me deixou arremelgado de todo. Se o homem quer fazer política porque é que não funda um partido? Porque é que não se inscreve num dos que já estão fundados? Ou mesmo num dos afundados? “Nós é que somos os herdeiros da revolução”, dizia ele. O tretas. Esta coisa das heranças dá sempre para o torto em Portugal. Conheço dois irmãos que já não se falam há anos por causa de um penico, ou coisa que o valha. E olha que não era nenhum penico de ouro. Segundo me dizem era de esmalte e até tinha um furo. Eu a pensar que o 25 de Abril era de todos e afinal há herdeiros metidos ao barulho. Pois olha, eu não devolvo a minha parte. Neste caso sou tão labróscas como os labróscas lá do norte que defendiam o direito sucessório à sacholada.Ali dos lados de Tomar chegaram-me notícias de bruxarias revolucionárias. Num cemitério encontraram uma feijoada, bem aporcalhada, rodeada de cravos vermelhos, garrafas de tinto e charutos. Sete cravos, sete garrafas e sete charutos. Uma trapalhada cabalística. Um saudosista do 25 de Abril que quis alimentar a memória dos falecidos, ou os próprios finados. No antigo Egipto também era assim. E no México, no dia dos Mortos, em Novembro, também vão as famílias todas morfar para os cemitérios. Para fazer companhia aos defuntos. E ninguém diz que se trata de feitiçaria. Isto é assim meu amigo. No Japão quem não der um valente arroto à mesa depois de enfardar forte e feio, pode ser considerado um ingrato. E há um povo qualquer que tem o hábito de ceder as mulheres, por uma noite, aos visitantes. Tenho que descobrir onde é que essa gente mora e escolher lá uns amigos com mulheres jeitosas. Cada terra com seu uso, cada roca com seu fuso. Hoje estou virado para a sabedoria do povo. São os fumos do dia dos cravos. Do povo é quem mais ordena, ou ordenha...já nem sei.Grande amigalhaço. Um dia destes temos que nos juntar para um repasto proletário. Chouriço assado, pastéis de bacalhau, presunto bem curado, queijo da serra, pão saloio e tintóis das melhores proveniências. Afogamos mágoas, dizemos mal de tudo e todos, mas ao vivo. Uns e-mails alive, como no rock‘n roll. Até lá, um palmadões abrutalhados nessas possantes lombeiras, e arrebimbó malho.Manuel Serra d’Aire

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