Desde logo o título do livro (Poemas ausentes) dava uma carga de ironia ao nosso encontro. Porque os poemas de Pedro da Silveira, pelo contrário, estão sempre presentes e bem presentes. A dedicatória sublinhava a amizade e a admiração (ai de mim!) pela minha poesia do concreto e lembrava Cesário Verde, nosso comum mestre. O cidadão Pedro da Silveira morreu mas o poeta Pedro da Silveira não morre e continua vivo nos seus poemas que circulam pela geografia e pelos afectos de quem o lê em todo o Mundo. Num outro poema: “Os ritos”, já o poeta tinha falado da morte. Não da sua mas dos outros. “Todo o homem é um herói pelo simples facto de morrer e morrer onde se nasceu é a mais heróica das mortes. Os mortos, já se sabe, são os nossos mestres estabelecidos e aceites”.Sabe-se que Pedro da Silveira morreu discretamente no passado dia 13 de Abril pouco tempo depois de se sentir mal a fazer um sumo de laranja. Sentado num cadeirão, viu que não tinha à mão de semear vinho de cheiro e bebeu um cálice de vinho do Porto. Morreu logo a seguir. Em Lisboa e não na Ilha das Flores, mas já tinha avisado num poema: “Em qualquer lugar podemos inteiramente inventar nas paisagens que temos diante ou nas feições de quem quer que seja que se cruzou connosco no caminho, tudo aquilo belo e bom, amado, que era o que um dia deixámos quando partimos e foi para sempre.” Apetece dizer simplesmente: O poeta não morreu. Foi ao mar buscar laranjas. Não demora...José do Carmo Francisco