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Falta coragem política para afirmar o distrito

Falta coragem política para afirmar o distrito

Presidente da câmara do Cartaxo sem papas na língua

O presidente da câmara do Cartaxo fala sem papas na língua da falta de afirmação do distrito de Santarém a nível nacional e aponta o dedo aos políticos, de esquerda e de direita, a quem acusa de “falta de coragem”. Paulo Caldas elogia o papel dos empresários e critica o Governo por estar a fazer das autarquias o “bode expiatório” da crise económica. Quanto ao nó de ligação do seu concelho à A1, considera-o como uma porta para o desenvolvimento para toda a sub-região da Lezíria do Tejo e promete não deixar cair a reivindicação.

O Presidente da Câmara do Cartaxo, Paulo Caldas, considera que “há uma grande falta de coragem política à direita e à esquerda para afirmar o distrito de Santarém ao nível do país”. Para o autarca socialista, trata-se de uma “deficiência estrutural” a que urge pôr fim o mais rapidamente possível porque o desenvolvimento da região não pode continuar a depender apenas dos empresários.“Eu digo, sem pejo, que têm sido os empresários a levar o distrito de Santarém para a frente. Tanto ao nível da Lezíria do Tejo - a sub-região que mais cresceu em todo o país – como do Médio Tejo, que é a terceira sub-região a nível nacional”.Apesar do distrito, ao nível do poder local, ser maioritariamente socialista, Paulo Caldas, fala sem papas na língua. “Se considerarmos toda a zona do Vale do Tejo somos capazes de ser a região mais competitiva e a que, nos últimos tempos, mais cresceu e que mais contribuiu para o produto bruto nacional e para o emprego. Mas isto não significa grande liderança política. E sabendo nós que o distrito é maioritariamente de esquerda, cumpre às autarquias e nomeadamente ao PS, um papel muito importante para inverter o actual estado de coisas”.O jovem presidente não se fica pelas críticas. Para ele, a afirmação da região terá que passar por três vectores. “Em primeiro lugar temos que defender parcerias entre o público e o privado. Parques temáticos, pólos tecnológicos, desenvolvimento e incubação de empresas e aproveitamento de factores naturais só se conseguem através de parcerias com os empresários, porque as autarquias não têm dinheiro. Uma segunda componente tem a ver com a valorização das identidades. "Nós não podemos andar aqui todos a fazer o mesmo e cada um tem que valorizar aquilo que é mais identitário aos seus povos e às suas gentes. Ao liderar o lançamento do Cartaxo Capital do Vinho fi-lo com a consciência de que, do ponto de vista da identidade, o distrito e o país vive do vinho ou tem uma grande componente de valorização vitivinícola.”. E o autarca justifica a sua opção: “A alma desta nossa gente, que ao fim de semana continua a trabalhar no mundo rural, é o vinho. Como tal, o Cartaxo Capital do Vinho era uma vector a explorar. Era mais fácil porque era uma identidade natural. E cada um dos municípios do distrito tem de fazer o mesmo. Na Golegã o cavalo e por aí adiante. Se não houver essa identidade explícita têm que forçá-la e puxar por ela”, defende.  A terceira componente para a afirmação do distrito é o rio Tejo. Paulo Caldas não se refere directamente à antiga paixão do seu camarada de partido, o deputado Jorge Lacão, mas o que diz é como uma seta apontada ao homem forte do partido ao longo dos últimos anos. “Falou-se durante muito anos na navegabilidade do rio Tejo mas não se fez nenhum. Isso está agora a ser feito com o parque Almourol, em que a associação empresarial – NERSANT, juntou o desporto com o lazer e a vertente económica. Está a ser realizado um projecto estruturante de valorização do Tejo, além do próprio programa Valtejo.”. O discurso do autarca do Cartaxo é um discurso corajoso e arrojado. Um discurso muito virado para o interior do seu partido. “Precisamos de pessoas que não se importem de dizer as verdades quando é mais difícil dize-las. O PS em particular e as autarquias conseguem ser motores de desenvolvimento desta dinâmica, acção e afirmação da região no país, mas para isso precisamos de pessoas que não olhem a lugares. Que privilegiem as obras e a criação de valor. E não daquelas que só pensam na manutenção de posições nas instituições. Disso aí não tenho dúvidas.”.Autarquias são o bode expiatórioAs críticas sobem de tom quando o presidente da câmara se refere à política do actual Governo que acusa de estar a criar excessivos problemas às autarquias. “Sinto que a autarquias estão a servir de bode expiatório para a crise económica. Há cortes no orçamento, limitações ao endividamento. Instalou-se uma lógica de trancar despesa que era tradicionalmente autárquica. Temos nesse caso os exemplos da sisa e da contribuição autárquica”.Paulo Caldas diz compreender que se exija às autarquias maior contenção e rigor, mas não admite a campanha negativa do Governo. “Este Governo de direita anda publicamente a apontar as câmaras como as entidades que mais prevaricam dentro da tal lógica de desenvolvimento que se pretenda seja sustentado. Isso é inadmissível”.E vai mais longe. “Tem havido uma política ao contrário daquilo que o ciclo económico exige. Portugal tem problemas estruturais mas não tem havido margem de manobra nem têm sido criados espaços para que as políticas estruturais nas áreas da educação, segurança social, no domínio fiscal e no desenvolvimento empresarial se activem. Privilegia-se a economia monetária em detrimento da economia real. Em detrimento das famílias e das empresas.”Para o autarca, a solução é simples. O Governo tem que olhar para aqueles que são os agentes fundamentais do desenvolvimento: empresas, famílias e autarquias. E no caso das autarquias não se pode perder tempo. “As autarquias desempenham hoje um papel vital. No âmbito do Terceiro Quadro Comunitário de Apoio (QCA III) e com a abertura europeia que está a haver, se as autarquias não aproveitarem para aumentar o bem estar das populações que servem com os fundos comunitários que ainda vêm a fundo perdido, não vão ter outra oportunidade”.Nó de ligação à A1 é porta para o desenvolvimentoSe não for feita uma ligação directa à Auto-Estrada nº 1, que sirva o concelho do Cartaxo, não é apenas aquele concelho que ficará a perder, mas toda a sub-região da Lezíria do Tejo. “É toda uma geometria de desenvolvimento que está em risco”, afirma Paulo Caldas. A Câmara do Cartaxo já se disponibilizou para comparticipar o custo da obra e o presidente afirma que a decisão de fazer a ligação, aproveitando o alargamento do sub-lance Aveiras de Cima – Santarém, é apenas política.“Há quem qualifique como erros históricos a concretização de acessibilidades, mas eu digo, de forma muito clara, que elas são a base do desenvolvimento de qualquer terra. São portas abertas para o desenvolvimento”.Embora se tenha escusado a adiantar que tipo de iniciativas pode promover se não vier a ser tomada a decisão de construir o nó do Cartaxo, é natural que a contestação a essa eventual decisão venha a ser bastante enérgica, dada a importância estratégica que é dada à obra.Quarenta empreitadas a decorrerA notícia que incluía o Cartaxo na lista dos quarenta e três municípios impedidos de recorrer ao crédito bancário, motivou um protesto imediato e veemente do presidente da câmara e foi, prontamente, desmentida pela Secretaria de Estado da Administração Local.Para Paulo Caldas, foi fácil provar que o Governo se tinha enganado nas contas porque o autarca tinha toda a política de desenvolvimento do concelho planeada com rigor. Agora, com o recurso ao crédito bancário, e apesar de todas as dificuldades, o concelho vai poder concretizar inúmeras obras.“Neste momento temos cerca de quarenta empreitadas em curso. Destacando apenas outras três que se irão iniciar em breve, mas que nem sequer estão na lista das quarenta – estádio municipal, cine-teatro e alameda norte – o investimento é superior a seis milhões e seiscentos mil euros.”.A política de investimentos traçada pelo presidente do executivo municipal assenta também num esforço de aproximação às pessoas. “Nós apoiamos as colectividades e apoiamos uma política de descentralização para as freguesias. O Cartaxo não vive num oásis mas isso não nos impede de seguir essa política. Por ano damos trezentos mil euros às colectividades e transferimos um milhão de euros para as oito freguesias.”.
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