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Acutilante Serafim das Neves

O que eu me farto de rir quando oiço dizer que o dinheiro público mais bem gasto é aquele que é gasto pelas câmaras municipais. Rio-me tanto, tanto, que até me vêm as lágrimas aos olhos. Rio-me tanto, tanto, que acabo em pranto. São dias e dias a chorar o nosso rico dinheirinho. Aquele que entregamos nas finanças, já a chorar, porque sabemos muito bem onde ele vai acabar.Uns milhares bem largos foram gastos na tal residência para estudantes em Torres Novas. Duzentos mil contos há cinco anos. E aquilo às moscas. E por causa delas, das moscas, o presidente da senhora câmara já anunciou que o edifício vai estar assim mais um ano, pelo menos. À espera do não te vi. Mas que dinheiro tão bem gasto!! Que investimento público tão bem feito!!! Assim até dá gosto pagar impostos. Que sorte termos governos que aplicam o nosso carcanhol daquela maneira. Que felicidade termos autarcas que o rentabilizam tão bem.Como tu sabes, Serafim, os estudantes são uns vândalos. Uns Suevos, uns Alanos, uns autênticos bárbaros. Se a residencial de estudantes de Torres Novas estivesse a ser utilizada já estava destruída. Enquanto estiver desocupada poupa-se uma pipa de massa. Um ou outro toxicodependente que passe lá a noite nunca fará tanto estrago como sete ou oito dezenas de alunos do ensino secundário ou superior.Mas há outra, meu caro. Outra boa merda, queria eu dizer. A merda do planeamento. Há autarcas da oposição lá de Torres Novas – Octávio Oliveira do PSD, por exemplo – a afirmar que já na altura em que a coisa avançou, não havia estudantes que o justificassem. Resumindo e abreviando. Tudo leva a crer que não foi feito um levantamento sério do número de estudantes que necessitariam de alojamento. Exemplar, meu caro! Tipicamente politiquês. Mas exemplos deste regabofe há para aí aos milhares. Na semana passada, aqui n’O MIRANTE, vinha contada a história de um centro de dia na freguesia de Além da Ribeira, Tomar, que está às moscas há 13 anos. A segurança social meteu lá, vinte mil contos. Vinte mil do nosso dinheirinho. E aquilo nunca foi utilizado. Se fossemos inventariar situações destas e somar a massa que é deitada à rua desta forma, o país entrava em estado de choque. Mas isso não interessa a ninguém. Aos políticos então, não interessa mesmo nada.E esta semana sai a história do edifício que foi comprado há três anos para o Serviço de Cartografia e Cadastro, em Santarém. Custou, em moeda da época, 58 mil mocas. Está vazio. Os inteligentes descobriram, depois de terem derretido a nossa massaroca, que o espaço era pequeno. Fantástico! E o mais fantástico é ninguém ser responsabilizado por nada disto. As obras públicas são feitas com a mira nos votos. Os votos estão por todo o lado e é preciso dar-lhes caça. Sai um pavilhão para a aldeia do canto. Uma piscina para outra. Um centro de saúde para um lugarejo onde é mais que provável que nunca chegará a ir um médico. Enfim.E por falar em médicos e em edifícios públicos. No Pinheiro Grande, Chamusca, a junta de freguesia permitiu que um médico ocupasse uma casa, propriedade da autarquia, durante 17 anos sem pagar renda, nem água, pelo simples facto do homem ser médico. O doutor nunca deu consultas regularmente na aldeia, e as poucas que deu eram bem pagas. Para além disso, mão consta que estivesse em situação de carência financeira. Mas aquilo dava “status” à terra. Nós lá na aldeia até temos um médico, podiam dizer, com orgulho os mais bairristas para os invejosos vizinhos. O mais fantástico é que a coligação PSD/ CDS/PP, que concorreu às autarquicas no concelho, se insurgiu quando a autarquia decidiu, finalmente, cobrar uma renda de 250 euros ao feliz inquilino. Clamaram injustiça. Chamaram ao clínico “o médico da aldeia”., fizeram-lhe um almoço de homenagem. Só não lhe fizeram uma estátua porque não se lembraram, mas ainda vão a tempo. Isto de ser doutor, nos nossos dias, ainda tem que se lhe diga. O doutor, entre pagar cinquenta contos ou comprar uma casa, a cinco quilómetros da terra, optou pela segunda hipótese. E partiu com saudades. Muitas saudades, imagino. Saudades dos 17 anos que esteve alojado à custa do dinheiro público. Casa e água à borlix. Quem não teria saudades de uma mama assim. Abençoada teta! Viva o poder local! Viva a boa gestão do dinheiro dos contribuintes! Viva Portugal! Pode ser que agora a casa seja entregue a um Engenheiro. Ou a um Arquitecto. Ou, porque não, a um artista de cinema. Convidem o Joaquim de Almeida, por exemplo. Ofereçam-lhe uma casa no campo e gabem-se de ter um mito de Hollywood como vizinho. Babem-se todos a vê-lo sair a meio da tarde num descapotável. Mas, acima de tudo, não lhe peçam para pagar renda, porque senão lá vem mais um comunicado a bramar: ”O Pinheiro Grande perde o seu actor”. E é uma desgraça Serafim. Um clássico do cinema fantástico. Um quebra ossos à Shwarzneger doManuel Serra d’Aire

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