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Refrescante Serafim das Neves

Refrescante Serafim das Neves

Estou alarmado. O distrito de Santarém está a ficar cada vez mais velho. Eu estou a ficar velho. Os nossos jovens às vezes parecem-me mais velhos que eu. Ando stressado de todo. Já nem durmo bem. Qualquer dia estamos todos num lar da terceira idade. A tomar comprimidos para o castrol e para a tensão. Às vezes vejo por aí uma rapaziada meio azul. Não sei se é viagra a mais. Não sei se é de já não ter fôlego para aguentar os discursos da ministra Manuela Ferreira Leite. Não sei se é por causa das asneiras dos autarcas.Um senhor de Torres Novas está a construir um casarão à beira do rio Almonda. À beira, nada. Dentro do rio. Uma espécie de castelo de Almourol mas mais maneirinho. Como não havia uma ilhota avançou ele pelo leito adentro. A câmara não podia fazer de contas que não via nada. Embargou a obra que é uma coisa que as câmaras fazem para mostrar serviço. O empreendedor borrifou-se para o embargo que também é uma coisa muito usual em Portugal. E a obra continua. Parece uma palavra de ordem de uma manifestação de sindicatos mas não é. É mesmo assim. A obra continua, o embargo para a rua! Ou melhor, para o caixote do lixo.Tu bem sabes o que vai acontecer, Serafim. Sabemos todos, pois claro. Pois clarinho. Pois clarau. Depois da obra concluída aprova-se um projecto à medida. Um projecto que respeite o que foi feito. Um papelucho que torne legal toda aquela ilegalidade. Estas coisas é que me envelhecem. Eu sei, tu sabes, ele sabe, nós sabemos, vós sabeis, eles sabem. Mas ninguém se importa. E quem se importa é apontado a dedo. É vilipendiado. Estou mesmo a ver a chinfrineira que vai ser por aquela câmara de Torres Novas quando O MIRANTE lhes chegar às mãos. Ai Jesus que querem espantar-nos um investidor. Ai meu Deus que querem prejudicar o nosso querido concelho. A capital do empresariado, como dizia o presidente lá do sítio. A capital das rotundas, como gostam de dizer os da oposição.Não me calo. Não me conformo. Não me rendo. Eu quero lá saber da azia, do enfarte, da queda de cabelo. Os sacristas vão ter que me ouvir até ao fim dos dias. Até ao fim do Mundo. Hei-de levar um megafone para o Inferno. Hei-de estar a arder na frigideira de Satanás e a chamar-lhes todos os nomes que me vierem à cabeça. E todos os que puder inventar. Eles merecem. Eles merecem tudo. O senhor José Alho denunciou publicamente o facto da auto-estrada estar a poluir os aquíferos da Serra d’Aire. Eu quero dar-lhe os parabéns. Não por ele ter denunciado aquele crime ambiental mas por se ter curado da amnésia. Enquanto foi director do Parque Natural das serras d’Aire e Candeeeiros, o senhor Alho não abriu a boca. Agora já fala. Porque tem uma ONG (Organização Não Governamental) chamada Liga para a Protecção da Natureza, ou coisa que o valha. De repente descobriu uma coisa que dura há anos. A água poluída escorria-lhe pelas barbas abaixo. Pela montanha abaixo. E ele impávido e sereno. Alho, o ambientalista tranquilo. Até dava um filme, Serafim. Uma longa metragem. Podes dizer que o calor me azedou os fígados que eu não me ralo. Hoje acordei com os pés de fora. Estou desaustinado. Estou sem travões. Destravado do teclado. Só me desancar nesta treta toda. Infelizmente tenho o bom senso a latejar. A mandar-me parar por aqui. E vou obedecer-lhe Serafim. Vou obedecer-lhe porque já me estão a doer as falanges, falanginhas e falangetas. Além disso tenho um branco de estalo no congelador e umas gambas um pouco mais abaixo. E a Rosário não tarda a bater-me à porta para uma conversa de velhos amigos. Vou tomar um duche e fazer a barba porque ela tem a pele muito mimosa. E tu vê lá se me contas qualquer coisa que me anime. E manda-me mais umas anedotas e umas fotos engraçadas. E mais números de telemóveis de amigas divertidas.Um abraço estival doManuel Serra d’Aire
Refrescante Serafim das Neves

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