uma parceria com o Jornal Expresso

Edição Diária >

Edição Semanal >

Assine O Mirante e receba o jornal em casa
31 anos do jornal o Mirante

Insubmisso Manuel Serra D’Aire

Tenho esgotado os últimos dias de férias enfiado em catacumbas manhosas acompanhado por gerontes da mais pura água, a tirar cursos intensivos de dominó, de damas e de bica lambida. É a minha forma de me preparar para um futuro próximo, em que os jovens não vão abundar e em que não nos vai restar alternativa que não seja a de alinhar com os velhadas e com as suas manias.Pelo que dizem os especialistas, daqui a dez ou vinte anos vamos pagar caro o facto de não termos querido mudar fraldas e dar o biberon aos putos, apesar do apetecível abono de família com que o Estado recompensa quem se dá a todos esses trabalhos. O Cavaco bem nos avisou em tempos para a malta desatar a emprenhar as airosas moçoilas que pululavam pelo nosso Portugal. Mas nós, armados em galifões, queríamos era discotecas, concertos de rock, férias no estrangeiro, carros, motas e viver à conta dos pais até aos trinta. Ter putos? Tá quieto! E sempre que a coisa se proporcionava, lá se metia pelo meio a tal camisinha que abespinha o nosso Papa. E lá ia mais um potencial habitante para o esgoto.Daqui a uns tempos, quando chegar o momento de estarmos rodeados apenas de velhas carcaças, vamos suspirar pelo riso refrescante de uma criança ou pelas apetecíveis curvas das teenagers - espécime outrora tão abundante como o lince da serra da Malcata. E vamos chorar de saudades e marrar com a cabeça nas paredes. Porque em troca vamos ter velhas a cheirar a naftalina, chatas que nem varejeiras, a suspirarem por uma ida a Fátima ou às termas.Caro Manel, se calhar também é verdade que houve quem se contivesse nos seus impulsos reprodutivos com medo de gerar pequenos monstros, tipo gremlins, que mais tarde viessem adulterar ou conspurcar este mundo. E é pena que outros não lhes seguissem a doutrina. Sempre se evitava que algumas aves raras por cá andassem a fazer-nos penar.Olha, como aquelas almas que se lembraram de andar a semear hospitais no Médio Tejo para agradar a filhos e enteados políticos. Quem lhes tratou agora da saúde foi o Tribunal de Contas, que não teve com meias medidas ao afirmar que não foram detectados objectivos estratégicos que fundamentassem a necessidade de construção do Hospital de Tomar, ainda para mais numa região onde consideram que há excesso de capacidade médico-hospitalar.É o nosso país no seu melhor, graças a quem nos governa. E assim se gastam rios de dinheiro, do nosso rico dinheirinho dos impostos que nos sacam, brincando-se aos hospitais e às aventuras dos saqueadores dos cofres do Estado. Não é que estas conclusões do Tribunal de Contas surpreendam. Basta conhecer a realidade regional. Mas ainda dói mais ver que, milhões de euros depois, a saúde por aquelas bandas parece ainda funcionar pior. Mas deixemo-nos dessas conversas. Olha, no outro dia fui a Santarém e deparei com a cidade toda revirada. Até que enfim que há obras, dizia-me o homem do café com um sorrisinho maroto de quem ainda lhe custa a acreditar no que vê. E eu concordo. Mas lá no largo da sé escusavam de colocar umas lajes no chão que parecem os mosaicos da minha casa de banho. Que porra de mau gosto, digo eu. Mas gostos não se discutem e até já estou a ver o pessoal da câmara de balde e esfregona a pôr aquilo a brilhar.Um abraço estival do Serafim das Neves

Mais Notícias

    A carregar...