O frio é a sua profissão
João Henriques acabou o curso há menos de um ano e arranjou logo emprego estável
Luís Miguel Henriques sempre teve um gozo especial em consertar e reparar objectos. Hoje, com apenas 22 anos, é técnico de climatização e refrigeração numa empresa de Santarém e passa os dias a fazer o que mais gosta – montar, reparar, mexer em equipamentos. Afirma-se uma pessoa com sorte por ter conseguido emprego mal acabou o curso e deixa um alerta aos jovens de hoje – “é preciso ter humildade e nunca achar que se sabe tudo”.
Andava no 11º ano de electricidade quando percebeu que o curso não estava a ser o que esperava – “havia muito mais electrónica do que electricidade”, diz. E começou aqui a reviravolta na sua vida.Desistiu do ensino oficial e inscreveu-se no centro de formação profissional de Santarém com o intuito de tirar um curso técnico que lhe desse a equivalência ao 12º ano. Na altura da inscrição soube que havia vagas para o curso de técnico de climatização e, antes de avançar com a inscrição, tentou saber mais sobre a profissão.“Procurei saber o que se pretendia de um técnico de climatização, vi que era uma área com saída em termos de futuro, já que cada vez há mais procura”, refere João Henriques. Só depois de aprofundar os seus conhecimentos sobre a matéria é que resolveu fazer os testes psicotécnicos.Três anos depois de ter decidido mudar o rumo da sua vida, João Henriques diz não estar nada arrependido e sente-se mesmo realizado. O técnico admite no entanto ter também tido muita sorte ao longo do curso, embora tenha também dado uma “mãozinha”.Logo no primeiro ano fez o estágio obrigatório numa empresa da cidade, a Scalifrio, e “talvez porque tivessem gostado da minha humildade, do meu modo de ser”, foi logo convidado a ficar nos quadros. Uma oferta que o técnico de frio muito apreciou mas que teve de recusar. “Para ficar na empresa tinha que abdicar do curso e de terminar o 12º ano”, diz, adiantando que o seu primeiro objectivo era terminar o 12º ano. “Não sabemos o futuro e sem ter um certo nível de escolaridade não passamos da cepa torta”, afirma João Henriques.Ainda por cima tendo a vantagem de terminar o secundário com um diploma que o certifica como técnico de climatização e que lhe dá hipótese de se inscrever na Direcção Geral de Energia e ter um alvará para trabalhar legalmente por conta própria. O proprietário da empresa não só compreendeu os argumentos de João Henriques como lhe deu até força para continuar a estudar. A porta da empresa manteve-se sempre aberta durante o curso – “fiz na Scalifrio os três estágios profissionais obrigatórios”.Há nove meses que o técnico de climatização e refrigeração “ganhou” o diploma e não foi preciso muito para ingressar de vez na Scalifrio. Sair de um curso com a garantia de um emprego é a excepção nos dias de hoje. João Henriques confirma que outros colegas ainda não têm trabalho.Mas diz que não é preciso apenas sorte, tem de se batalhar para isso e mostrar que, apesar de ter umas noções básicas sobre a profissão, está-se todos os dias a aprender. A humildade é também um dos seus atributos.“Sempre tive a noção, durante os estágios, que sabia menos que os outros empregados da empresa, por isso tentava sempre saber mais sobre o assunto, observar na prática o que faziam e como faziam mas se me mandassem varrer o chão no final de um dia de trabalho fazia-o sem problemas, porque isso era também parte do trabalho e da aprendizagem”, diz.Na Scalifrio trabalha com todo o tipo de climatização e refrigeração – faz montagem e reparação de ar condicionado de automóveis e casas particulares, naves industriais, camiões de frio, balcões frigoríficos de talhos ou peixarias. A única área em que a empresa ainda não trabalha é no aquecimento central, um sector que João Henriques também gostava de explorar.João Henriques gosta fazer tudo na empresa. Ou quase tudo. A chamada assistência periódica mensal é a vertente da profissão que menos gozo lhe dá. “Limpar os filtros das máquinas é um trabalho muito monótono. O que eu gosto mesmo é de tudo o que seja técnico”.Modéstia não falta ao técnico de frio – “apesar de ter um diploma, isso não faz com que seja melhor que os outros empregados. Sei que ainda não tenho prática suficiente para chegar a um local e reparar o objecto na hora”.Essa é aliás, a única crítica que faz ao curso, o de lhe ter dado muita teoria - desenhar, calcular, fazer projectos – e pouca prática, sem grande contacto com o material.O dia a dia de João Henriques não é ditado pela rotina. Entra às oito da manhã, sem tomar o pequeno almoço, o que faz apenas quando tem um intervalo de dez minutos, a meio da manhã. Oficialmente, a hora de sair está marcada para as 17h30 mas raramente é cumprida. Por opção, não por obrigação.Porque há clientes em todos os pontos do país, João Henriques anda sempre “no vai e vem” a montar, reparar ou dar assistência aos equipamentos. “Raramente se fica na oficina, mas é isso que eu gosto”, diz.Apesar de ter um trabalho cansativo, João Henriques não descura a parte pessoal da sua vida. Porque gosta de estar bem informado não dispensa as notícias televisivas à hora de almoço . E, principalmente aos fins-de-semana, ainda tem tempo para praticar o seu hobbie preferido – passar música em bares.Margarida Cabeleira
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