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Imaginativo Serafim das Neves

Fui assaltado pela CP. O crime ocorreu na estação do Entroncamento, no sábado passado. Não me levaram muito mas mesmo assim foi um assalto. E o mais grave é que não me posso queixar à polícia porque o assaltante agiu a coberto da lei. Estás intrigado e é natural, mas eu explico tudo, tim-tim, por tim-tim. Informei-me mal e apareci na estação para apanhar um comboio que, afinal, não se realiza aos fins de semana. A alternativa para estar a horas na capital do distrito era utilizar um inter-cidades que estava a chegar. Pedi um bilhete e paguei seis euros. O bilhete para o regional que não havia era de 1 euro e 80. Um bilhete entre o Entroncamento e Lisboa no inter-cidades são 7 euros. Um bilhete entre Entroncamento e Santarém custou-me 6 Euros. O que me dizes? Foi ou não foi um assalto?Mas há mais. O comboio chegou atrasado. Meia hora de atraso. E não tive qualquer desconto no bilhete por causa disso. Nem sequer me pediram desculpa pelo atraso. Limitaram-se a anunciá-lo no sistema de som e foi um pau. Assaltado e maltratado. O que vale é que já nem me enervo muito com o servicinho nacional, seja em estações de comboio, repartições de finanças ou restaurantes. Estamos em Portugal e ninguém leva a mal. Qual Brasil, qual carapuça. O país do carnaval é este. Andam a reinar connosco o ano inteiro. Um dia destes, na estação de caminho de ferro de Vila Franca de Xira, num daqueles modernos painéis publicitários, estava a aparecer, entre outras, uma informação carnavalesca. A CP anunciava, em letras verdes sobre fundo preto que a média de cumprimento de horários dos comboios é de 96 por cento. Sá faltava ouvir-se um samba em fundo para dar mais colorido à coisa. E fazer dançar os passageiros. Conclui logo ali que o problema é meu. Acerto sempre nos quatro por cento de comboios que andam com atraso. Nesse dia também. Foram cinco minutos mas foi um atraso. Com a meia hora de sábado passado, já deve dar os tais 4 por cento. Quero ver se até ao fim do mês não ando de comboio. Para não estragar a fantástica mérdia da CP...eu escrevi mérdia??!!! Ai estes indisciplinados dedinhos??!!!O Verão, amigo Serafim, é também a época dos casamentos. E em alguns casamentos é costume, a seguir ao almoço, o noivo presentear os convidados com um charuto. Como não fumo já tenho aqui em casa uma caixa deles. Não sei se os deite fora ou se os ofereça como prenda de casamento a algum amigo que se case nas próximas semanas. O estranho deste hábito é não haver oferta de charutos às senhoras. Não faz sentido. Afinal, toda a gente sabe que as mulheres de hoje fumam muito mais que os homens e uma mulher a fumar um charuto... enfim... pois... sei lá...E por falar em tabaco. Um dia destes pus-me a olhar com atenção para uma daquelas máquinas de venda de cigarros. Por baixo das ranhuras para as moedas havia uma fotografia publicitária à maneira. Um gajo novo à mesa de um café, envergando um t-shirt com a conhecida imagem do Luís de Camões, um livro nas unhas e uma bica ao lado. O ar era sonhador e estava a fumar uma cigarrada. Por trás dele um casalinho sorridente, numa outra mesa, a ser servido por um empregado de casaca. A lei obriga a que nos maços de tabaco surja o tal aviso. Fumar faz mal à saúde, ou coisa no género. Depois os publicitários encarregam-se de anular a mensagem legal. Com cores atractivas, fotos de bons ambientes, modelos jovens e saudáveis. Ainda mais saudáveis quando estão de cigarro nos queixos. Se queres que te diga, apeteceu-me logo um cigarrito. Para me sentir jovem, sonhador, integrado.Serafim, tiraste-me o sono com aquela de um futuro só de velhos. Nunca tinha pensado naquilo, mas tens razão. Um gajo num lar de idosos e não ver por perto uma empregada jovem a quem possa dar um beliscão nas nádegas. E se calha entrarmos num hospital vir de lá uma velhinha ainda mais velhinha e trémula que nós para nos dar a injecção. Eu assim não quero viver. Recuso-me a ser um velho num mundo de velhos. Quando eu for velho quero ver rapaziada nova por perto. Cachopas de perna à vela e decotes generosos. Carinhas larocas e sem rugas. Acho que vou começar a fazer filhos. Furo os preservativos, troco a pílula da mulher por comprimidinhos de açúcar. E tu faz o mesmo Serafim. E aconselha os amigos. Não é o futuro da humanidade que está em jogo, Serafim. É o nosso. Unidos venceremos. Toca a bombar, camarada, Viva a batalha da reprodução. Viva!!Um abraço solidário deste assumido reprodutorManuel Serra d’Aire

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