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A Caixa de Pandora

“A posição a tomar pelo Presidente Sampaio corresponde, neste sentido, a uma “batata quente”, susceptível de desencadear ou a impopularidade ou,... o caos! Mas, pelos vistos, é a única capaz de pôr cobro à proliferação de novos municípios que ameaça tornar-se incontrolada! Assim tenha, ele, a coragem necessária!”

Diz o poeta que a democracia é o melhor dos sistemas possíveis mas, paradoxalmente, o pior dos ideais!Assentando em sufrágios mais ou menos universais, os seus eleitos reflectem assim, melhor ou pior, a maioritária vontade dos povos, daí advindo uma legitimidade que se usa e, muitas vezes,.. se abusa.Mas o exercício do poder arrastou sempre, como parceiros essenciais, mecanismos de controlo da vontade das populações. O alargamento da participação política, o reforço da cidadania, a criação de uma opinião pública mais ou menos autónoma, foram sempre acompanhados nas sociedades modernas de um correspondente reforço das técnicas de marketing político; sublimando-se estratégias, refinando-se discursos e atitudes populistas, desenvolvendo-se comportamentos demagógicos cada vez mais subtis e criativos.O ditador de antanho aprendeu com o tempo a movimentar-se em complexos cenários de interesses públicos muitas vezes contraditórios, a tirar partido de discrepâncias e desarmonias sociais e a assumir uma imagem de marca (artificial, mas sociologicamente sustentada), supostamente eficaz, principalmente, em tempo de eleições. É que esse é o tempo das promessas, dos beijinhos às criancinhas e aos velhinhos, das visitas ao “país real”, dos discursos inflamados e apologéticos. De uma atitude pública quase virtual, cuja relação com a realidade apresenta apenas, frequentemente, vagas semelhanças.Surgem assim compromissos que subvertem muitas vezes reformas políticas e administrativas que deveriam ser estruturantes e estruturadas. Compromissos assumidos no calor da luta e que, como aconteceu recentemente, conduziram à votação favorável dos novos concelhos de Canas de Senhorim e de Fátima, como já tinham, anteriormente, conduzido à criação avulsa de outros.No primeiro caso tirando-se partido de uma latente e oportuna conflitualidade, no segundo apoiando uma pretensão que, pela sua natureza, seria sempre eleitoralmente conveniente.Deste modo, decisões que deveriam assentar em critérios racionais e objectivos, globais e sistematológicos, vão surgindo a granel, em consonância com meros interesses de conjuntura partidária. Decisões que vão gerando naturalmente novas reivindicações, e ameaçam pulverizar o quadro legal administrativo do país.São as “caixas de pandora” da nossa inconsciência e irresponsabilidade política!Embalados pelo desígnio, quantas vezes ilusório, de tomar o destino nas mãos, as populações dos novos concelhos agradecem, obviamente!Os preteridos, sentindo-se obviamente descriminados, reagem negativamente (quantas vezes de forma emotiva), reforçam lobbys e reformulam estratégias futuras.E assim se vai fazendo Portugal! Ao sabor de momentâneos interesses grupais, incrementando uma já desmesurada e onerosa Administração Pública, num país (não o esqueçamos) territorialmente diminuto e demograficamente estagnado.A posição a tomar pelo Presidente Sampaio corresponde, neste sentido, a uma “batata quente”, susceptível de desencadear ou a impopularidade ou,... o caos! Mas, pelos vistos, é a única capaz de pôr cobro à proliferação de novos municípios que ameaça tornar-se incontrolada! Assim tenha, ele, a coragem necessária!Mesmo que isso acarrete um prejuízo das expectativas daqueles que, como Samora Correia, têm sido preteridos, ou de outros que, como Fátima, veriam assim gorar-se deliberações que pareciam já coroadas de êxito.E mesmo que após controversas decisões anteriores, que a outros beneficiaram, possa ficar no ar uma irritante sensação de injustiça! PS – Antes de efectuada a votação parlamentar, tive oportunidade de comentar, no Mirante, a exigência manifestada pelos representantes de Samora de “ter um tratamento igual ao de Fátima”. Era dito aí, contudo, que Fátima, para lá dos “três pastorinhos” (é claro) e do implícito aval papal, tinha ainda o patrocínio dos três santos populares mais populares dos nossos dias: São Paulo da Moderna, São Pedro do Casino e, ainda, São José de Tarso, glosando-se aqui a fase maoísta de “perseguidor de cristãos” do actual primeiro ministro.Pois é,...hoje como ontem, a protecção divina ainda dá um jeitão!

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