A voz além mar
Nuno Barroso, intérprete, compositor, autor, amante da música
É pianista, compositor, cantor, guitarrista, intérprete e autor. Aos 26 anos Nuno Barroso vive da música e para a música. Deu voz ao grupo “Alémmar” e aventurou-se agora numa carreira a solo com “Mistério sem Fim”. Formou a primeira banda aos 13 anos, quando lhe já cresciam os longos cabelos ondulados. O mar é a sua fonte de inspiração e o horizonte o seu limite.
Nuno Barroso vive próximo do mar. Assim que acorda debruça-se sobre as teclas do piano e deixa-se levar pela improvisação. É o momento ideal para criar porque é a altura em que se chega mais facilmente ao interior. “Deixa-me olhar”, uma das músicas do álbum “Alémmar”, surgiu num destes momentos de inspiração.As raízes do jovem músico de 26 anos estão na freguesia de Riachos, concelho de Torres Novas. É lá que reside o seu pai, o cantor e compositor Pedro Barroso e foi lá que viveu o avô. Nuno Barroso esteve apenas um ano na quinta da família. Preferiu o mar salgado da Ericeira, às paisagens bucólicas do Ribatejo.“É um local afastado da confusão que ao mesmo tempo me permite ter acesso facilitado à sociedade. Sempre fui um outsider. Sempre gostei de estar no meu cantinho sozinho”.O músico, natural de Oeiras, era um curioso pelos instrumentos que o pai tinha em casa. De vez em quando arriscava alguns toques no piano, na guitarra e no cavaquinho. O pai, fã de música portuguesa, ouvia Manuel Freire e Zeca Afonso. A influência pela música em português ficou, mas Nuno Barroso enveredou por uma área mais Pop e Rock.Formou a sua primeira banda aos 13 anos com temas originais. Na altura ainda frequentava o ensino preparatório. Dava espectáculos nas escolas da zona de Carcavelos, Cascais e Oeiras.Aos 15 anos abandonou o ensino regular e foi estudar composição na Escola Russa. Tinha aulas de piano – um instrumento essencial para compor. Integrou uma tertúlia literária com um grupo de escritores da nova geração. Foi assim que desenvolveu o gosto pelas letras da músicas. Em Inglaterra esteve durante dois anos no London College of Music. Jogou Futebol no Belenenses e Estoril até aos juniores, mas a música acabou por falar mais alto. É músico profissional desde que se conhece. A arte permitiu-lhe alcançar cedo a independência . “Não sei fazer mais nada. A única coisa que faço de vez em quando é jogar à bola, mas é para me divertir. A música é a minha vida”, confessa.O primeiro álbum editou-o com a formação Alémmar, que lhe deu grande projecção como intérprete, mas também como compositor e autor. “Primeiro que tudo sou um pianista e um compositor. Depois sou intérprete vocal, guitarrista, percussionista e baterista e por aí adiante”, esclarece.Na música sabe aquilo que quer e não esconde que lhe agrada ter controle absoluto do seu trabalho. “Não quero perder parte de mim nas minhas canções e prefiro ser eu a fazer os meus arranjos”.Iniciou agora uma carreira a solo com a edição do álbum “Mistério sem Fim”, um trabalho onde se cruzam as influências cubanas, italianas, russas, brasileiras, britânicas e portuguesas. UM CRIADOR COMPULSIVOAutor e compositor dos temas que interpreta, Nuno Barroso confessa-se um criador quase compulsivo. “Quando faço qualquer coisa sinto uma necessidade imensa de criar. Essa necessidade é mais forte do que eu”.As músicas surgem-lhe quase espontaneamente. A meio da noite ou até quando está ao volante. “Surgem-me milhares de melodias, o problema é guardá-las. Costumo pegar num gravador pequeno e vou trauteando”.Quando faz um trabalho ouve-o intensamente, mas depois gosta de se distanciar durante algum tempo para interpretar as músicas com leveza. É no palco que Nuno Barroso se sente bem. “Sou um homem de palco. O estúdio é um passaporte para chegar às pessoas”. Nos minutos que antecedem o espectáculo os níveis de adrenalina sobem. Nuno Barroso aproveita para fazer abdominais, flexões ou até correr. Depende do espectáculo. Gosta de ficar muito tempo sozinho para poder concentrar-se. “Faço muito entretenimento. Fisicamente tenho que estar bem porque custa estar duas horas e meia a correr de um lado para o outro”.A única coisa que exige no camarim são bebidas, toalhas, sandes e um espelho. “Se tiver casa de banho, melhor”, reconhece humildemente o músico que já teve como camarim um monte de fardos de palha. “Foi a situação mais gira da minha vida ao nível de palco. Tive a sensação que recuei 200 anos. Quando cheguei à Ilha das Flores (Açores) e perguntei a um elemento da organização onde poderíamos mudar de roupa a pessoa indicou-nos uns fardos de palha”, relembra entre sorrisos.Os espectáculos no Verão impedem-no de gozar férias há alguns anos, mas sempre que viaja em trabalho aproveita para passear. A família e os amigos também sentem a falta de disponibilidade do músico.Os longos cabelos do cantor são já quase uma imagem de marca, mas o músico desvaloriza a aparência. “Foi uma aposta que fiz aos 13 anos com o meu irmão e mais três amigos: o primeiro a cortar o cabelo tinha que pagar um jantar. Eu não cortei e eles cortaram todos. Já tive três jantares à borla". Mas há uma ligação entre os cabelos compridos e a música. A partir do momento em que começou a tocar guitarra, influenciado pelos cartazes dos artistas de farta cabeleira dos anos 80 que forravam o seu quarto, ao lado de jogadores de futebol, começou a deixar crescer o cabelo.Considera que a imagem é um complemento à música e não o contrário, mas reconhece que há sempre uma preocupação com o aspecto exterior. “Não sou fanático pela imagem porque não é isso que vendo. Se estiver num casino sou capaz de vestir um smoking, mas se for um concerto normal e se estiver calor até posso vestir uns calções. Não gosto de coisas demasiado formais”. Nuno Barroso considera-se ambicioso, mas procura concretizar os seus projectos sempre com os pés em solo firme. Em Janeiro vão surgir “Olhares Cúmplices”, um novo trabalho do músico que tem o mar como inspiração e o horizonte como limite.Ana Santiago
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