Porque a vida não pode ser só trabalho, um grupo de motoristas profissionais do sul do distrito de Santarém largou o volante por momentos e acelerou a fundo para a criação de uma asso-ciação. O Núcleo de Motoristas do Almansor e Sorraia foi criado, oficialmente, em Maio, e no domingo, 10 de Agosto, inaugurou a sua sede social em Samora Correia. Na Azinhaga do Brejo, próximo do campo da feira, os 140 motoristas associados dispõem agora de um espaço acolhedor, onde podem comer uma bifana, beber um copo, trocar dois dedos de conversa, conviver com os colegas e familiares, fazer formação profissional e pedir ajuda para resolver os muitos problemas que, diariamente, se colocam na estrada e fora dela. Nesta primeira fase, o núcleo vai estar de portas abertas de quarta-feira a domingo das 17h30 às 20h30, mas o horário poderá ser ajustado no futuro. As imagens de Cristo crucificado e de São Cristóvão (padroeiro dos condutores) são sinais de devoção, a que se juntou a celebração de uma missa na manhã de domingo, por intenção dos motoristas e transportadores falecidos. Na inauguração, o padre da freguesia teve oportunidade de benzer as instalações e os camiões estacionados em frente do núcleo. O padre José António pediu a protecção de Deus para todos os motoristas e familiares e desejou que o novo retiro dos profissionais do volante seja um espaço de convívio promotor de laços de amizade entre os profissionais.Alfredo Gaspar, o presidente do núcleo, explicou que a aproximação dos profissionais é o objectivo prioritário, mas há mais: o núcleo vai promover acções de formação em que os motoristas mais experientes vão transmitir conhecimentos aos mais novos, sobre regras de educação, civismo, condutas na estrada e formas de aumentar a produtividade dos motoristas, ou seja, fazer crescer o rendimento com custos mais baixos. “Temos motoristas com 25 anos de estrada que podem divulgar os seus sustos e ensinar os mais novos”, disse Alfredo Gaspar. “Para ser motorista de pesados, não basta ter uma carta, é preciso muito mais”, acrescentou.A associação vai contar com o apoio de técnicos das principais marcas de camiões que irão, ao núcleo, explicar como é que os profissionais podem explorar todas as qualidades da máquina e divulgar regras fundamentais para a segurança dos motoristas. Alfredo Gaspar explicou a O MIRANTE que vai ser estabelecida uma parceria com as marcas produtoras de camiões, escolas de condução da região, entidades ligadas à formação profis-sional e certificação de qualidade nas empresas de transportes e empresas transportadoras. O presidente do núcleo espera uma maior adesão dos transportadores. Alfredo Gaspar não escondeu a emoção, na cerimónia de inauguração. O líder da associação agradeceu o empenho dos colegas, dos empresários e das autarquias locais.Carlos Coutinho, vice-presidente da Câmara Municipal de Benavente, disponibilizou o apoio da edilidade e congratulou-se com o aparecimento de uma associação que defende valores como a solidariedade e a amizade. A cerimónia de inauguração contou ainda com a presença do presidente da junta de freguesia e de um representante da GNR. Jesus Batista frisou que os militares não existem apenas para passar os papéis verdes (multas) e anunciou a abertura do comando do posto para colaborar com a nova associação. Depois de um almoço convívio que juntou mais de centena e meia de convivas, os motoristas fizeram um desfile de tractores pelas ruas da vila, com cerca de 50 participantes, realizaram uma gincana onde mostraram toda a sua perícia e a festa terminou animada com uma sessão de anedotas em que não faltaram algumas sobre os “artistas do volante”.Acabar com os camiões ao pé da portaO estacionamento de pesados nos centros urbanos é um dos problemas que o núcleo catalogou como “urgente”. Para além do ruído provocado em horários que, para a maioria das pessoas deveria ser de descanso, há camiões carregados com matérias perigosas a colocarem em risco centenas de pessoas. O presidente do núcleo reconheceu que, por vezes, o estacio-namento de pesados prejudica os vizinhos, mas os profissionais também não têm alternativas e têm de zelar pela segurança dos bens que lhes estão confiados. Alfredo Gaspar considerou prioritária a resolução deste problema e aproveitou a presença do vice-presidente da Câmara Municipal de Benavente para pedir a intervenção da edilidade no sentido de encontrar uma solução.Carlos Coutinho mostrou abertura para negociar com os motoristas e empresas transportadoras. A Câmara já equacionou a hipótese de criação de um parque de estacionamento vedado e com vigilância, mas levantou a questão dos custos. Na altura, o presidente António Ganhão defendeu que as empresas proprietárias dos camiões também têm responsabilidades e deveriam assumir a manutenção do parque. O edil citou mesmo o exemplo de empresas transportadoras que têm parques próprios vazios ao fim de semana e cujos camiões continuam a estar estacionados à porta da casa dos motoristas.Este é um problema que se coloca, principalmente, nos núcleos urbanos de Samora Correia e Benavente, mas que também gera conflitos em localidades como Salvaterra de Magos, Marinhais e Coruche.