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“Uma profissão em vias de extinção”

Arnaldo Lopes da Silva é serralheiro há sete anos no grupo Lena

Há 33 anos que Arnaldo Lopes Silva é serralheiro civil, uma profissão que, vaticina, está em vias de extinção porque, actualmente, não há jovens a trabalhar o ferro. “O que temos hoje em dia são curiosos, pessoas de Leste com outras profissões que chegam a Portugal e são aproveitadas por patrões que preferem a quantidade à qualidade”, afirma convicto o trabalhador do grupo Lena que, nos tempos livres, gosta de fazer criação de galinhas e porcos.

Arnaldo Lopes Silva entrou no mundo do trabalho com apenas 15 anos. Mas lembra-se como se tivesse sido hoje. Há 33 anos que entrou na oficina do vizinho Manuel Bento e foi ali que aprendeu a arte da serralharia, batendo com o escopro e o martelo, acendendo o maçarico e moldando o ferro.“Fazíamos basicamente caldeiras, mas também grades e portões”, refere o serralheiro civil morador em Assentis, concelho de Torres Novas. Uma arte de que aprendeu a gostar e que não mais largou, apesar de permeio ter tido outros empregos, nada condizentes com a profissão.O Verão quente de 75 apanhou Arnaldo Silva na tropa, onde foi condutor de autocarros, actividade diferente da serralharia civil. Assim como os dois empregos seguintes que teve. Na Fábrica de Fiação e Tecidos de Torres Novas, foi bobinador de fios, durante cerca de ano e meio. Foi na altura em que casou. “Era um trabalho mais perto de casa”, justifica. Nunca parava muito tempo em cada lugar. No depósito de Tomar da Quimigal aguentou-se alguns anos porque ia fazendo também trabalhos de serralharia nos intervalos da estiva. Nunca foi despedido, saía sempre de livre vontade, quando tinha a certeza que não era bem aquilo que queria para o seu futuro.E o futuro de Arnaldo Silva passa pelo Grupo Lena, onde trabalha há sete anos como serralheiro civil. Com a vida familiar bem “soldada”, os 40 quilómetros diários entre Assentis e a Quinta da Sardinha, onde está sediado o Grupo Lena, são feitos com gosto.É raro ter horário de entrada e de saída. Quando está na oficina da empresa, entra às oito da manhã, bastando-lhe sair de casa meia hora antes, “porque a estrada é boa e o caminho faz-se bem”. Custa bem mais quando tem de se levantar às quatro, cinco ou seis da manhã e fazer uma viagem até Vila Viçosa, Rio Maior ou Alpalhão (concelho de Nisa), localidades onde o Grupo Lena tem estaleiros montados.“Sempre que é necessário tenho de ir fazer reparações às máquinas, soldar peças que se partem de um momento para o outro”. Quando tem de se deslocar para longe o serralheiro tem de passar sempre primeiro pela empresa, para “picar o ponto”. Mesmo que seja de madrugada. “São normas da firma”, diz.Maçarico, escopro, martelo, rebarbadora e aparelho de soldar são algumas das “armas” de trabalho de Arnaldo Silva. Apesar de serem instrumentos de manuseamento perigoso ,o serralheiro civil teve apenas um acidente de trabalho e não ligado, directamente, com a sua actividade. Há três anos, foi entalado contra a parede por uma máquina da empresa, tendo partido algumas costelas.“Por norma sou muito cuidadoso com as questões da segurança no trabalho”, refere Arnaldo Silva, adiantando que tão importante como os instrumentos que utiliza para moldar o ferro é o equipamento de segurança – óculos, viseira, luvas e capacete.O capacete é, no entanto, o que o serralheiro menos gosta de utilizar. “Sei que tenho de pô-los mas não consigo trabalhar com ele e com a viseira ao mesmo tempo”. Indispensáveis são as luvas, que nunca larga. Talvez por isso, as mãos de Arnaldo Silva não dêem mostra de trabalho duro. “Ganhei agora uns calos, mas foi a dar serventia a pedreiros”.É que apesar de nunca sair a horas do emprego – o dia de trabalho termina oficialmente às 17 horas, mas o serralheiro fica sempre mais tempo na empresa – Arnaldo ainda tem tempo para realizar o seu principal hobby: fazer criação de animais para consumo doméstico.Num terreno adquirido há algum tempo, o serralheiro está actualmente a construir uma habitação para pintos, galinhas e porcos. Todos os dias, depois de jantar, quem quiser encontrá-lo é ali, junto aos pássaros engaiolados que já “habitam” aquele espaço. “É um entretém como outro qualquer”, afiança.Não é de estranhar por isso que, apesar de haver cantina na empresa, Arnaldo prefira levar a comida de casa. “Não é que a comida do refeitório seja má, mas levando de casa sei o que estou a comer”, diz, acrescentando que assim também não entra nas filas para o almoço. “Gosto de comer descansado e não ter de esperar numa fila para ir buscar o tabuleiro, os talheres, o copo e a comida”.Arnaldo Silva não augura nada de bom relativamente ao futuro da sua profissão – “esta é uma profissão em vias de extinção porque não há, actualmente, jovens a trabalhar o ferro”, afirma o serralheiro, vaticinado que dentro de uma década não há serralheiros “a sério”. O que existem, diz, “são curiosos, pessoas dos países de Leste com outras profissões que chegam a Portugal e são aproveitadas por patrões que preferem a quantidade à qualidade do produto”.Margarida Cabeleira

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