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Avante trabalhar

Comunistas de Santarém e Vila Franca ajudam a montar festa do partido

São os comunistas que põem de pé a sua Festa do Avante. Um trabalho solidário e militante de quem não se fica pelas premissas teóricas da ideologia que perfilhou. O MIRANTE acompanhou parte dos trabalhos.

Empoleirada numa estrutura de ferro, com mais de cinco metros de altura, Lily Nóbrega esforça-se por disfarçar a ferrugem de dezenas de tubos geometricamente unidos. A militante do PCP de Alpiarça é uma das 20 pessoas que no sábado ajudavam a montar o pavilhão de Santarém na Festa do Avante. Com as mãos cheias de tinta preta e fazendo alguns malabarismos, a voluntária apressa-se a concluir a tarefa para que tudo esteja pronto no dia 5 de Setembro na Quinta da Atalaia, no Seixal. Nesse dia começa uma das maiores festividades organizadas por um partido político em Portugal. “Aqui vai ser o pórtico de entrada no espaço do nosso distrito”, vai dizendo a militante com orgulho. O mesmo orgulho com que executa a tarefa, pela qual apenas recebe a recompensa de se sentir útil a ajudar o partido. Seja a pregar pregos, a pintar, a limpar, o trabalho voluntário na festa já faz parte da vida de Lily Nóbrega. Ao ponto de já ter no guarda-roupa fatos guardados para esta ocasião. “A camisola já tem anos de trabalho. Quando acaba esta fase de montagem guardo o vestuário para não estragar muita roupa”, comenta. A motivação para participar é igual à das dezenas de camaradas do distrito de Santarém e à das centenas de todo o país. No sábado estavam 400 militantes no recinto. “Dá quase mais gozo estes dias de trabalho do que propriamente a festa, porque o que fazemos é uma dádiva às pessoas que nos visitam. É o máximo ver isto a crescer”, explica. Para José Augusto Dias, de Abrantes, “não é difícil arranjar pessoal para trabalhar”. “O convívio que se cria aqui é unificador. Isto é uma escola onde se aprende a fazer de tudo e onde há solidariedade. Estas jornadas de trabalho acabam por ser uma forma de fugir aos problemas da vida, num ambiente onde impera a liberdade dentro dos conceitos de cada um”, acrescenta. As tarefas começam cedo e só acabam à noite. Pelo meio para-se para um reforço alimentar, a meio da manhã, e para o almoço que é confeccionado no local.O espírito com que se está nestes dias de montagem - o espaço de Santarém começou a ser construído em Julho - tem tudo a ver com os ideais do partido. “Está ligado com a motivação de pertencer ao PCP e de acreditar que é um partido que vale a pena”, sublinha a militante de Alpiarça. “Isto é muito a imagem que defendemos e que é a da solidariedade. Isto reflecte a vida do partido”, prossegue, enquanto tira o excesso de tinta que lhe cobre por completo as mãos. Os trabalhos decorrem sobretudo ao fim-de-semana, que é a altura em que as pessoas têm disponibilidade. Consoante o número de pessoas que mostram o seu interesse organizam-se os transportes. As tarefas começam cedo e só acabam à noite. Pelo meio para-se para um reforço alimentar, a meio da manhã, e para o almoço que é confeccionado no local. Uma altura em que se aproveita para trocar ideias, para falar de política, para conviver com militantes de vários pontos do país. Todos os anos há novos aderentes à causa. É o que acontece com João Milheiro que está integrado na “brigada” de Vila Franca de Xira, cujo stand fica a 30 metros do de Santarém. O militante, de 29 anos, natural de Vialonga, está pela primeira vez a trabalhar na festa, apesar de ter aderido à Juventude Comunista aos 15 anos. Enquanto tenta apanhar o jeito de pregar uns painéis de madeira, vai dizendo que está a gostar da experiência. “Nesta altura costumo estar de férias e passo algum tempo na zona de Castelo Branco, de onde é natural a minha família. Este ano, como mudei de emprego, consegui um tempo para ajudar e sinto-me muito bem a ajudar o partido”, conta, acrescentando que “o espírito de trabalho e cooperação é muito bom”. “Era bom que fosse também assim no dia-a-dia”, remata. João Milheiro, gestor de empresas, decidiu participar porque considera que a Festa do Avante é uma das melhores festas culturais do país. “Se se perder a cooperação e o trabalho voluntário dos militantes isto perde-se. Os ataques à festa e ao partido são muito grandes, mas quanto mais nos atacam mais vontade temos de vir”, sublinha enquanto tenta disfarçar o jeito meio atrapalhado de espetar um prego. “A minha vida é mais a caneta e o computador. Quando cheguei senti-me um bocado perdido, mas com a ajuda das outros elementos já estou a aprender umas coisas e no próximo ano quero voltar”, continua. Perto do gestor de empresas anda José Seabra, de Vila Franca. “Muitos militantes sacrificam alguns dias de férias para vir ajudar. Hoje não temos aqui nenhum nessa situação, mas acontece muitas vezes”, anuncia. “No meu caso já tirei quatro dias para vir para aqui trabalhar, agora venho sempre que posso, sobretudo ao fim-de-semana”, acrescenta sem tirar os olhos dos elementos que arrumam as máquinas no espaço que vai servir de padaria no pavilhão. Os comunistas de Vila Franca andam desde Junho no terreno. Durante este período houve tempo para se falar de política. “Enquanto trabalhamos vamos abordando os problemas e as dificuldades, porque isso também faz parte da nossa alma comunista”, salienta. E quando a festa acabar, no dia 7 de Setembro, José Seabra já sabe o que vai sentir, porque é a mesma coisa todos os anos. “Chego ao fim e reconheço que participei numa causa que é de todos nós. Que dei o meu contributo para que o partido tenha mais condições financeiras com as receitas da festa (que representam cerca de 30 por cento das receitas do partido). Até porque lutar por melhores condições de vida e por um melhor Portugal custa dinheiro”. Pavilhões reflectem a vida das regiõesEntre a gastronomia e a luta políticaNo espaço dedicado a Santarém vai haver uma mostra das tradições ribatejanas. Na vertente política vai estar em destaque o trabalho do PCP no distrito, com realce para as posições e propostas feitas pelo partido. Nos 600 metros quadrados do espaço a decoração tem por base as tradições e o Rio Tejo como elemento separador, mas também agregador. Para mostrar alguns dos aspectos desta região, vai haver uma feira de vinhos ribatejanos e na culinária vai ser possível comer uma sopa de pedra ou tigeladas de Abrantes. O figurino do stand foi definido pela organização distrital do partido, depois de várias reuniões com as estruturas concelhias. O trabalho de montagem no terreno iniciou-se em Julho, mas a preparação começou praticamente no início do ano. No caso de Vila Franca de Xira, o espaço vai ter um restaurante com 260 metros quadrados de área e uma padaria com 80 metros quadrados. No local vai ser possível adquirir as merendinhas (pão com chouriço) e saborear os pratos característicos do concelho. A decoração do stand faz alusão às greves de 1943/44, que terminaram com muitas prisões. Numa das paredes vai ser desenhada a recriação da prisão improvisada que foi criada na praça de touros da cidade. Noutro painel vão estar os jornais Avante da época, fazendo-se uma analogia com os tempos de hoje. A festa do Avante começa no dia 5, encerrando a 7 de Setembro. Vai decorrer na quinta da Atalaia, na Amora, Seixal. Para além das actividades políticas e dos comícios, a festa conta com vários espectáculos. Destaque, no primeiro dia para Filipa Pais (21h00) e Tito Paris (22h00). No dia 6 actuam, entre outros, os Cabeças no Ar (23h30), Maria João e Mário Laginha (22h30) e Terrakota (17h30). No último dia sobem ao palco Xutos e Pontapés (21h30). Para além disso há ainda música tradicional, artesanato e teatro.

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