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Altíssimo Serafim.

Punga! O som da minha cabeça a bater no sinal de trânsito foi mais ou menos assim. Tenho um metro e setenta e seis e o sinal estava no passeio a um metro e setenta de altura. Um sinal velho, ferrugento, de chapa das antigas. Meio centímetro de espessura, no mínimo. Deve ter sido feito com material retirado de algum carro blindado. Eu vinha distraído a tentar não pisar nenhuma poia de cão. Punga! Bbbbllllóóóóiiiinnnggg!!! Fiquei com uma dor de cabeça durante três dias e um galo de se lhe tirar o chapéu.Dei a tolada no Entroncamento. Acho que me disseram que estava no Bairro da Liberdade mas, para ser sincero, onde eu estava mesmo era na estratosfera, ou coisa que o valha. Só via estrelas, cometas, planetas. As vozes soavam a oco. Oco com eco. A minha cabeça zunia. Raspei-me rapidamente e voltei para casa. A cem à hora e a passar sinais vermelhos, stopes e coisas assim. Nem me lembro. Foram trinta quilómetros na esgalha para obter conforto moral e um saco de gelo.Depois disso pus-me a examinar melhor as armadilhas que há por aí. De Abrantes a Santarém. De Santarém a Vila Franca. Sinais de trânsito anões. Sinais de trânsito tipo girafa. Todos colocados em dias de tempestade, por funcionários, provavelmente, ébrios. Uns no extremo exterior dos passeios. Outros no extremo interior. Outros mesmo ao centro. Um disparate completo. Há sinais a um metro e meio de altura. Outros a um metro e sessenta. Outros ainda a um e setenta. E por aí fora. Deve depender de quem cava o buraco para a sua colocação. Ou da hora a que os mesmos são escavados. Um trabalhador, logo de manhã, vem com a força toda. A cervejola com bagaço e a sandes de presunto ainda estão a fazer efeito. A cova tem meio metro, no mínimo. O sinal fica rente ao chão. A seguir ao almoço, depois de uma valente chispalhada regada a tinto a moleza instala-se. A picareta não consegue romper a epiderme do passeio. O sinal fica a tocar nas nuvens. A meio do dia, como calculas, já ninguém coloca sinais. É hora de fumar uma cigarrada, beber mais uma bejeca, arrumar a ferramenta e ir picar o ponto à sede.Há sinais de trânsito colocados mesmo ao lado de postes de iluminação. Outros junto a caixas da TV cabo ou da EDP. Outros ainda a dois palmos de qualquer outra coisa. Ninguém passa por ali. Nem o gajo mais magrinho de Portugal. Não passa de frente nem de lado. O que vale é que os passeios são para enfeitar, porque agora anda tudo de carro.Serafim, um dia destes li uma entrevista de Verão feita ao Jorge Cadete. Esse mesmo. O rapaz que jogava à bola e que depois se transferiu para o Big Brother. Podes pensar que um gajo com um perfil daqueles é assim para o bronco. Eu também pensava, mas já não penso. O Cadete diz que vai escrever um livro. Que vai escrever as suas memórias. Mal posso esperar! A meio da conversa o Cadete confessava que a sua entrada para a galeria dos grandes escribas nacionais se deve a pedidos constantes de família e amigos. Não sei se percebes, não são as letras que o puxam, é o público. E o que há-de fazer um artista perante o chamamento do público?!!Mais à frente, quando lhe perguntam que livro anda a ler, Jorge Cadete confessa que há muito tempo que não lê um livro. Não, não comeces já a rir. Vê lá se compreendes a atitude do futuro escritor. Ele não anda a ler nada, para não ser influenciado. Para ter um estilo único, original, sem mácula. Para não ser acusado de plágio. É uma preocupação que se compreende. Ele não disse isto mas digo eu. E digo-o porque não acredito que Cadete não goste de ler. No tempo em que ele jogava à bola houve quem o tivesse visto a ler o Record uma vez por outra. É verdade que mexia os lábios mas, caramba, nenhum homem é perfeito.Cumprimentos literários do Manuel Serra d’Aire

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