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Um caso de miopia ambiental

Muito se tem dito e especulado acerca da Albufeira de Castelo de Bode e das suas águas. Sabe-se porém que a qualidade destas tem sido ameaçada por efluentes diversos ao longo de todo o rio Zêzere. Contudo, indicações da EPAL asseguram que a água que está a ser captada da Albufeira para consumo humano apresenta na sua grande maioria parâmetros da classificação A1 e apenas alguns, embora poucos, da classificação A2 conforme o Decreto-Lei nº 236/98, de 1 de Agosto. Isto significa que as águas se encontram nas devidas condições para aquele fim. Há apenas que tratar os vários efluentes e dotar de saneamento básico as áreas urbanas circundantes da Albufeira.Mas um vício de forma tendenciosamente utilizado em certos artigos de imprensa e programas televisivos tem vindo a meter os barcos de recreio dentro do mesmo saco das reais fontes poluentes que se sabem existir. A isto chama-se “miopia ambiental” e decorre de uma certa ignorância, incompetência, obstinação e de uma grande dose de má-fé bem como de inveja mal assumida.É certo que os escapes dos motores daquelas embarcações emitem substâncias para o ambiente aquático, mas que não podem ser correctamente consideradas como fontes de poluição. Com efeito, entre essas emissões e aquilo que realmente causa poluição, existe uma distância astronómica!Um artigo muito recente da Encyclopaedia Britannica vem dar uma definição perfeita sobre aquilo que é poluição do ambiente como sendo “a introdução de qualquer substância ou forma de energia (como calor, som, radioactividade) a um ritmo mais rápido do que aquele que o próprio ambiente pode absorver por efeito de dispersão, desagregação, reciclagem ou acumulação sob a forma de matéria inofensiva”. Mais adiante acrescenta, “uma substância em si dita poluente não significa que seja nociva. O dióxido de carbono, por exemplo, é um composto normal existente na atmosfera e uma consequência da respiração…”. As emissões de gases de escape dos motores das embarcações de recreio encaixam-se precisamente no contexto daquela definição. Existem vários fenómenos e mecanismos no ambiente aquático que se encarregam naturalmente de remover e tornar inofensivas, para a qualidade da água, os componentes dessas emissões. São eles a degradação biológica, a evaporação, a foto-oxidação, o efeito aerosol e, a acrescentar a tudo isso, a forte oxigenação originada pela própria esteira dos barcos. Este último mecanismo é tão eficaz que têm inclusivamente a capacidade de remover do ambiente aquático matérias nocivas que por lá existam. É portanto falacioso estar a afirmar que as embarcações motorizadas mesmo com motores a 2-tempos poluem ou podem ser potencialmente poluentes das águas da Albufeira.As águas têm apenas de se manter nas melhores condições dentro dos padrões de qualidade da legislação acima mencionada e para isso é necessário resolver rapidamente o problema dos efluentes, mas nunca proibir a navegação de recreio motorizada porque esta em nada contribui para a degradação da qualidade da água. Apesar desta realidade, o INAG continua obcecado em restringir de uma forma sistemática e irresponsável, a navegação de recreio na Albufeira.Quanto a esses ambientalistas que partilham e manifestam o mesmo tipo de paranóia, é melhor que se abstenham de dar sentenças disparatadas sobre um assunto do qual pouco ou nada percebem. Não venham agora afirmar que o artigo da Encyclopaedia Britannica foi escrito para defender os interesses dos navegadores de recreio, dos agentes económicos do Sector e dos lubrificantes!Não se convençam os leitores nem ninguém, que as restrições à navegação recreativa constantes do actual POACB irão contribuir em qualquer aspecto positivo para a melhoria da qualidade das águas da Albufeira. É que por esse caminho tal nunca será possível. O que aquelas restrições fizeram para já, foi criar conflitos que teriam sido evitados se tivesse havido isenção, bom-senso e competência por parte de quem promoveu o Plano de Ordenamento.Francisco Falcão Secretário Geral da Associação Portuguesa da Indústria e Comércio das Actividades Náuticas.

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