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Pugnaz Serafim das Neves

Pugnaz Serafim das Neves

Voltou o calor, voltaram os incêndios florestais e cá estou eu baratinado de todo. Ligo a televisão e só oiço falar em incendiários. Uma mata começa a arder, um jornalista chega ao local, liga o microfone e as primeiras palavras que regista são: “fogo posto”. Eu já não digo nada. Se calhar é mesmo verdade. Portugal é um país de pirómanos que atacam à mínima subida de temperatura. Não sei se consegues imaginar a cena. Gajos com aspecto de doidos varridos, barricados em casa à espera que os termómetros marquem mais de 37 graus centígrados. Assim que isso acontece saem para a rua de caixa de fósforos no bolso, montam em velhas motoretas ou embarcam em desconjuntadas avionetas e vão direitos às matas. Às boiças, como dizem lá para o Norte. E toca a atear.Qual florestação mal feita, qual carapuça! Qual falta de limpeza das matas! O povo vê helicópteros que largam bombas. Os presidentes de câmara vislumbram suspeitos a rondar florestas onde não entra ninguém há anos, nem sequer os donos que até moram em França. A Judiciária, ao mínimo sinal do Governo desata a prender suspeitos às dúzias. Perante isto qualquer um é capaz de traçar um plano de prevenção de fogos florestais. Basta contratar mais polícias e psiquiatras. Uns internam os maluquinhos das caixas de fósforos, outros prendem os que escaparem ao tratamento. Adeus chamas. Adeus incêndios. Au revoir catástrofes.Segunda-feira, 22 de Setembro, é dia do grande festival nacional de folclore. O chamado dia sem carros. Vila Franca, Santarém e Torres Novas são algumas das cidades que aderem ao espectáculo. Antigamente havia um encontro anual de ranchos, denominado picnicão. Agora a coisa mudou de nome e chama-se confusão. Não há carros, não há transportes, não há soluções. Em contrapartida há espaço suficiente para cenas ridículas. Alguns políticos pelam-se por aquilo e os ambientalistas, então, nem te conto. O povo não acha graça mas aguenta. É um fartote.Porque é que em Santarém não fazem o dia sem carros na altura do festival de folclore Celestino Graça? Juntava-se o útil ao agradável. Cortavam-se as ruas para passarem os ranchos. Era folclore em cima de folclore. Perfeito! E em Vila Franca a coisa poderia fazer-se no decorrer das festas do colete encarnado. E em Torres Novas na altura das festas da cidade. Punham-se os presidentes de câmara a andar de triciclo e de trotinete e poupava-se na contratação de artistas. E faziam-se uns concursos engraçados. Cada um deles era obrigado a discursar enquanto pedalava. Os vinte quilómetros da demagogia ou coisa do género. Como falar de gambozinos sem perder o fôlego. Serafim, espero que estas e outras sugestões venham a ser tomadas em consideração. Para bem da nossa saúde mental. Para bem da nossa saúde mentol. Para bem, seja lá do que for. Santarém não tem direito a fazer dias sem carros enquanto não tiver alternativas válidas para os cidadãos. E o mesmo se passa com Vila Franca de Xira, ou Torres Novas, embora esta última cidade já tenha feito qualquer coisita nesse sentido uma vez que tem uns incipientes transportes públicos a funcionar há algum tempo, o que já lhe dá direito a ter, não digo um dia, mas, vá lá, uma meia horita sem carros. Um abraço pedestremente desacelerado do Manuel Serra d’Aire
Pugnaz Serafim das Neves

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