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O vigilante da natureza

José Alberto Carvalho é o guardião do Açude da Agolada

A missão de José Alberto Carvalho é proteger a zona classificada do Açude da Agolada, em Coruche. O vigilante da natureza fiscaliza as linhas de água, vigia a floresta, acompanha visitantes e técnicos ao campo e faz a monitorização de espécies. Mas o trabalho ultrapassa muitas vezes o que está estipulado. O vigilante serve muitas vezes de enfermeiro de cegonhas e quando é preciso veste também a pele de bombeiro.

José Alberto Carvalho, 47 anos, vigilante da natureza, senta-se ao volante da carrinha Renault 4 e põe-se a caminho do Açude da Agolada, uma zona classificada no concelho do Coruche, onde reside. Estaciona perto da área de recreio e faz o percurso a pé pelo açude. É este o dia a dia do guardião da natureza que usa apenas um rádio portátil e um par de binóculos para cumprir a sua missão. A função do vigilante, que depende do Instituto da Conservação da Natureza, é vigiar linhas de água e a floresta, acompanhar visitantes e técnicos ao campo e monitorizar espécies.Nesta altura o que mais ocupa o vigilante é a fiscalização da actividade da caça nas zonas protegidas. “Sobretudo nos dias de caça fazemos percursos na periferia da área protegida no sentido de salvaguardar a zona”.O vigilante da natureza trabalha também no recenseamento da cegonha, que actualmente está em expansão. Por vezes a actividade do vigilante ultrapassa a simples fiscalização. Quando é encontrada uma ave com uma asa partida é o guardião da natureza que entra em acção. “Já cheguei a ir a Salvaterra buscar uma cegonha com uma pata partida”, exemplifica. José Alberto Carvalho costuma recolher cegonhas jovens que caem do ninho, acolhe-as na casa de um amigo e alimenta-as até que estejam pronta para partir. Os casos mais problemáticos são encaminhados para o centro de recuperação de Monsanto. “As pessoas são tão sensíveis que até entregam pombos correios. Recebemos uma vez um animal e depois fomos entregá-lo à columbófila”.Quando uma ave está preparada para ser libertada o vigilante contacta as escolas de Coruche e os alunos presenciam a largada do animal. “Isto tem uma componente pedagógica enorme”, garante. No período de Verão, altura em que a zona de recreio do açude recebe milhares de visitantes, o vigilante certifica-se de que ninguém faz lume fora dos locais próprios, acampa, estaciona em zonas proibidas, deita lixo para o chão ou provoca ruído. “Alertamos as pessoas para usar sem destruir e utilizar sem incomodar o outro, o que às vezes é um bocado difícil”, confidencia José Alberto Carvalho.O vigilante é protector de uma área com cerca de 624 hectares. O açude engloba um harmonioso conjunto paisagístico com área de pinhal manso, pinheiro bravo e montado de sobro. O risco de fogo é uma das grandes preocupações do vigilante. “Se a zona for afectada pelo incêndio perde-se o valor paisagístico e uma riqueza, que constitui o sítio classificado”.Quando é necessário, o vigilante também ajuda no combate ao fogo, como aconteceu este Verão em Alzejur. “Fomos atrás dos bombeiros e fazíamos o trabalho de rescaldo para não haver reacendimentos”, descreve.Na altura do desastre do Prestige, José Alberto Carvalho ajudou na recolha das aves marinhas com crude de Viana do Castelo até Caminha. Os animais eram levados até ao centro de recepção das aves onde os técnicos se encarregavam da limpeza e alimentação. “Chegávamos a estar com temperaturas de 35 graus porque são bichos exóticos habituados a muito calor”.Em Coruche não há um espaço físico para apoiar os dois vigilantes da zona. A falta de meios é a grande dificuldade da profissão. A simples farda do vigilante pode constituir um problema. “Andamos com calças de Inverno no Verão e por vezes chega-se ao Inverno e não há blusões”. Na legislação está previsto que o vigilante tenha uso e porte de arma, mas o ministério achou que não haveria condições para munir os vigilantes com essa forma de defesa. “Exigem que nós pratiquemos a arte fiscalizatória, mas não nos dão os meios mínimos de salvaguarda. Corremos o risco de durante a noite sermos alvejamos a tiro”, alerta José Alberto Carvalho, que é também dirigente da Associação Portuguesa de Guardas e Vigilantes da Natureza.Para o vigilante, que há 15 anos frequentou o primeiro curso de formação, a época forte de trabalho é o Verão. Normalmente as férias são tiradas nos meses mais frios. Só tem fim de semana livre uma vez por mês. Também por isso o vigilante considera que a remuneração é insuficiente.A sensibilidade para o ambiente está mais presente nas camadas mais jovens. “Felizmente já se fazem aulas de campo e os jovens contactam com a realidade. As novas gerações poderão trazer novos valores em termos de cidadania e preocupações ambientais. Os mais velhos são confrontados com a realidade, como aconteceu este Verão”.Ana Santiago

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