Os carros do som que percorrem as ruas da freguesia de Samora Correia anunciam as eleições do próximo domingo, 21 de Setembro, e cada um apela ao voto na sua lista. Apesar do ruído e das iniciativas de campanha realizadas pelas três equipas, a eleição intercalar para a assembleia de freguesia passa despercebida a uma larga faixa do eleitorado (mais de 10 500 eleitores), prevendo-se uma elevada abstenção.Os samorenses estão divididos quanto à entrega dos destinos da freguesia e as “sondagens” feitas pelo povo não arriscam prognósticos. “No domingo logo se vê”, é a frase mais ouvida, apesar do optimismo revelado pelos três candidatos.Rogério Pernes, enfermeiro aposentado, 61 anos, é o candidato da continuidade. Comunista convicto, o presidente eleito em 2001espera vencer com maioria absoluta e reclama o direito de concluir o mandato. A CDU optou por manter a base da lista apresentada nas últimas eleições. Cândido Birrento Gonçalves, um autarca experiente, que já foi vereador e é membro da Assembleia Municipal de Benavente, é o número dois e o actor Mário Pereira aparece no sexto lugar da lista. As novidades ficam por aqui.A CDU não dispensou a “solidariedade” do presidente da Câmara Municipal de Benavente, António Ganhão na campanha e pediu a colaboração do presidente do Grupo Parlamentar e do secretário geral do PCP. Carlos Carvalhas vai estar amanhã, sexta-feira, no encerramento da campanha (ver caixa). Os comunistas apostam no argumento de que foram os únicos que defenderam a criação do concelho de Samora no dia 1 de Julho quando foram votados na generalidade os projectos de lei de Fátima e Canas de Senhorim.Zangado com o PS devido à falta de respeito evidenciada para com a população, Paulo Português, professor de 41 anos que já foi presidente da assembleia de freguesia e foi até 15 de Julho o líder da bancada socialista naquele órgão, lidera a lista independente “Samora Agora”. Um grupo de quadros médios e superiores aparece nos lugares elegíveis. Gente conhecida na terra e com vontade de mudança.A maioria dos candidatos apareceu nas listas do PS e do PSD nas últimas eleições, mas despiu a camisola partidária em protesto contra a forma como os partidos conduziram o processo que levou ao adiamento da restauração do concelho.Os “independentes” esperam ir buscar votos aos descontentes e ao eleitorado do PS e PSD que votou neles em eleições anteriores e apostaram numa campanha dinâmica programada com a ajuda de um especialista, o jornalista da TVI, José Gabriel Quaresma. Paulo Português ficou satisfeito com a receptividade e espera uma vitória. O professor lamentou que não fosse possível formar uma lista única para concorrer contra o poder comunista, dominante na freguesia.O PS, ao contrário do PSD, não abdicou de apresentar uma lista própria formada à base de novos e velhos militantes. José António Dias, 45 anos, coordenador administrativo do centro de saúde da vila deu a cara pelos socialistas. O candidato já foi eleito do PS na Assembleia Municipal de Benavente, conhece Samora como poucos e faz questão de sublinhar o que já fez pela freguesia. José António Dias foi dirigente do Grupo Desportivo de Samora Correia nos anos de ouro do clube e chegou a presidente em 1999 para sair dois anos depois. O candidato do PS liderou quatro comissões de festas e afirma que colocou Samora no mapa nacional.Maria de Belém Roseira, antiga ministra e responsável pela programação das autárquicas no PS foi a Samora, na sexta-feira, para almoçar com o candidato. Um almoço temático sobre Saúde que procurou dar visibilidade ao candidato. A líder da JS, Jamila Madeira participou numa festa da juventude que decorreu no domingo num bar da freguesia. Os jovens são uma aposta clara dos socialistas para a renovação que há muito reclamam dentro e fora do partido e essa preocupação está expressa na formação da lista. José António Dias acredita que o PS tem condições para manter ou mesmo melhorar o anterior resultado eleitoral. O candidato condena a atitude dos eleitos do PS que se demitiram apesar dos apelos da estrutura para que permanecessem. O PS lembra que os mandatos são para cumprir até ao fim e diz que nada fez para a queda da junta.A Assembleia de Freguesia que caiu a 15 de Julho devido à demissão em bloco dos eleitos do PS e do PSD integrava seis elementos da CDU, cinco do PS e dois do PSD.O PSD acaba por não concorrer, por “coerência” e “respeito pelos sentimentos e a vontade” dos que decidiram demitir-se. Segundo a presidente da concelhia de Benavente, Sílvia Ferreira, esta decisão é “um protesto” contra a forma como a Assembleia da República tratou a questão.A restauração do concelho de Samora Correia depende apenas da alteração de um critério na lei-quadro da criação de novos municípios, o relativo à área geográfica, já que a freguesia tem 322,4 quilómetros quadrados contra os 500 quilómetros quadrados exigidos pela lei.