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O supervisor da Caima

O supervisor da Caima

Artur Gonçalves trabalha na empresa desde os 20 anos

Aos 20 anos entrou para a Celulose do Caima como servente. Hoje, 19 anos depois, Artur Gonçalves é supervisor de turno, responsável operacional pela empresa, durante oito horas de laboração. Gosta mais do turno da noite e não tem regras para as refeições – “tenho o vício, como em qualquer altura”. Nas horas vagas, ainda faz uns biscates numa padaria – as conversas com as gentes de Montalvo funcionam como um escape.

Artur Gonçalves reside em Montalvo e faz este mês 39 anos, 19 dos quais passados na Companhia de Celulose do Caima, em Constância. Actualmente, exerce a profissão de supervisão de turno. É ele que acompanha todo o processo de produção de pasta de celulose a partir da madeira de eucalipto.Quando se fala em supervisor aparece de imediato a imagem de uma pessoa sentada à mesa em frente de muitos botões. Apesar de todas as secções da empresa serem operadas por meio de um computador, Artur Gonçalves não passa o dia sentado. Pelo contrário, há turnos em que anda muitos quilómetros, a contactar com os funcionários da empresa.“Tenho de passar em todas as secções, ver se os operadores estão a fazer tudo de forma correcta, observar se os valores de processo estão dentro dos parâmetros estabelecidos, se não há desvios, para que depois o produto final seja, realmente, o desejado”.Com a informatização de todo o sistema produtivo, os tais desvios são agora mais fáceis de controlar, mas isso não quer dizer que não os haja. “As alterações das matérias-primas e as avarias de equipamento são coisas que propiciam um produto final diferente do desejado”, refere o supervisor, adiantando que o seu trabalho é mesmo o de tentar despistar e prevenir esses desvios, evitando que eles aconteçam.Artur Gonçalves é supervisor de turno há cinco anos, mas passou por todas as categorias profissionais dentro da empresa. Começou por baixo, como servente, foi operador de secções e por aí fora. Com 19 anos de casa, o supervisor diz conhecer todos os cantinhos à fábrica. “São muitos anos de experiência acumulada”, afirma.O processo de produção de pasta de papel não parece ter grandes segredos. A madeira chega à fábrica em toros e é, inicialmente, partida em pedacinhos pequenos, do tamanho de uma batata frita, a que chamam a estilha. Depois é cozida, através de um processo único no país . “Às outras empresas de celulose trabalham com o processo alcalino, nós funcionamos com o chamado processo ácido”.Este processo leva a que a pasta final venha a ter características diferentes, mas não necessariamente de pior qualidade. “A qualidade é uma coisa muito subjectiva”, refere Artur Gonçalves, dando um exemplo que utilizava quando dava formação nesta área. “Não me adianta ter um martelo de serralheiro da melhor qualidade que existe se eu for carpinteiro e precisar de um martelo para arrancar pregos”. O que quer dizer que a pasta tem características específicas e a sua qualidade deve medir-se consoante se pretende uma pasta de característica x ou y.A produção de pasta é uma das indústrias mais poluentes, embora Artur Gonçalves diga que na Caima tem havido um grande esforço no sentido de minorar a poluição, quer do ar quer sonora. “Os grandes investimentos feitos nos últimos tempos pela empresa têm sido canalizados para essa área”. Talvez por isso a Caima tenha sido a primeira empresa nacional do sector a construir uma ETAR.Além do ambiente, a segurança no trabalho também está salvaguardada. “Os trabalhadores, pelo menos aqueles que estão mais ligados aos sectores mais problemáticos, têm o chamado equipamento de protecção, com máscaras para quando há fugas de ácido, por exemplo”.Sendo uma fábrica de laboração contínua, Artur Gonçalves trabalha por turnos - 00h00/08h00, 08h/16h e 16h/24h - mas afirma não sentir o peso desse facto, pelo menos para já. “Até porque o turno que a maioria das pessoas menos gosta é aquele em que me sinto melhor”, diz, adiantando que isso tem tudo a ver com o ritmo de cada um. “Prefiro laborar em pleno até às quatro da manhã do que começar a laborar às seis da manhã”.Apesar de já estar acostumado, o supervisor admite que é um horário “um bocado complicado” porque trabalha cinco dias num turno, tem uma folga, volta a trabalhar cinco dias em outro turno, mais um dia de folga, e a seguir faz três dias em novo turno, seguido de três dias de folga. O pior é que ao fim de um mês de trabalho só consegue “ganhar” um fim-de-semana.Quanto ao horário das refeições, Artur Gonçalves está à vontade. “Sou daqueles indivíduos que têm vício de boca, como em qualquer altura”. As refeições são fornecidas pela própria empresa e servidas no local de trabalho de cada um. “Há um empregado que distribui as refeições pelas secções”.A família de Artur Gonçalves já está habituada ao seu ritmo. Os filhos cresceram a ver o pai ir trabalhar tanto de dia como de noite e a mulher também é filha de um funcionário da Caima, por isso já sabe do que a casa gasta. “O que mais lhe custa é dormir sozinha. Quando faço o turno da noite, normalmente, dorme muito pouco”.Artur Gonçalves adora o contacto com as pessoas, gosta de dar dois dedos de conversa. Talvez por isso, sempre que pode, dá uma mãozinha na padaria da qual a mulher é responsável. “Sou muito brincalhão, gosto de brincar com as pessoas e, por isso, quando estou disponível venho para aqui. Funciona como um escape”.“Quando estamos fora do ambiente de trabalho sentimo-nos sempre melhor, não é? Quanto mais não seja por não estarmos a trabalhar...”, diz o supervisor da Caima.Margarida Cabeleira
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