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Os futuros acordeonistas

Escola quer garantir continuidade de instrumentistas nos grupos folclóricos

É na sede do Grupo Académico de Danças Ribatejanas, em Santarém, que se reúnem os jovens aprendizes de acordeão. São os futuros músicos que vão garantir a continuidade de alguns dos agrupamentos folclóricos do concelho.

Pedro Graça, 14 anos, senta-se frente à pauta de música curvado sobre o seu acordeão italiano. Os dedos escorregam habilmente entre as teclas do instrumento, enquanto os olhos vão acompanhando atentamente as linhas do “Acordeão Mágico”, uma bíblia para quem quer aprender a arte. A aula personalizada de acordeão acaba de iniciar-se na sede do Grupo Académico de Danças Ribatejanas, em Santarém, sob o olhar atento do mestre Pedro Melão, 23 anos, acordeonista do Rancho Folclórico de Alcanhões, estudante do conservatório e discípulo de Eugénia Lima.À medida que o aluno vai experimentando as primeiras notas da “Rosa Despedida”, Pedro Melão vai dando indicações. “Pausa! Pausa! Estás a avançar com o ritmo”.Há um ano que as noites de segunda-feira do jovem aprendiz do Verdelho (Santarém) são passadas na sede do grupo folclórico scalabitano. O aluno já foi tocador de cana no rancho folclórico da terra, mas o som serpenteado do acordeão despertou-lhe o interesse. O pai, também acordeonista do grupo, lembrou-se de o inscrever na escola para que o filho não tivesse a mesma sina: aprender a tocar de ouvido. Pedro Graça confidencia que são poucos os colegas de escola que apreciam o instrumento, mas a vontade do jovem em dar vida ao bailarico e verde gaio é mais forte.É pela mesma razão que Evandro Rosa, 12 anos, dançarino no Rancho Folclórico de Alcanhões, se escusa a comentar com os amigos que está a aprender a tocar há um ano. Prefere guardar para si a emoção que sente sempre que dedilha o acordeão emprestado do professor. “De tudo faz uma canção. Quando tem oportunidade começa a tocar e vai por ouvido”, comenta orgulhosa a mãe.Mas a época de moda do instrumento das 120 teclas já lá vai. Os ranchos folclóricos são os que mais sentem a falta de tocadores de acordeão, essencial para o repertório dos agrupamentos. Os grupos vêem-se muitas vezes obrigados a recusar convites para actuações se o músico não está disponível.Para travar a extinção de acordeonistas o director do Rancho Folclórico de Alcanhões, João Costa, e o dirigente do Grupo Académico de Danças Ribatejanas de Santarém, Ludgero Mendes, decidiram criar há três anos uma escola para fornecer músicos para alguns grupos do concelho, patrocinada pela Câmara de Santarém, que suporta os honorários do professor.“Em acabando a geração mais antiga vai ser difícil fazer face a esta dificuldade. Alguns grupos terão que parar por falta de músicos se não apostarem a sério na aprendizagem”, alerta Ludgero Mendes.Daniel Matos, 14 anos, que acaba de chegar da Póvoa da Isenta para a terceira aula da noite, já toca acordeão no grupo folclórico da terra. A música sempre fez parte da sua vida. Cresceu a ouvir o avô tocar concertina, aprendeu clarinete na Banda do Cartaxo até que decidiu iniciar-se na arte de tocar acordeão.Os cinco longos anos de aprendizagem e o custo de um instrumento, que nunca é inferior a três mil euros, fazem desistir muitos jovens. O acordeão não é muito promovido na cultura anglo-saxónica, mas Ludgero Mendes acredita que “havendo condições para fomentar a aprendizagem aparecem alunos”.A escola funciona gratuitamente com uma média de doze alunos por ano e está aberta a todos os agrupamentos do concelho. A presidente da Junta de Freguesia de Almoster é uma das alunas de acordeão, mas a maioria são homens. “Antigamente muitos destes acordeonistas faziam bailes e chegavam tarde a casa. Uma senhora não fazia isso. Por tradição a maior parte eram homens”, recorda Ludgero Mendes.Ana Santiago

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