Um artesão todo-o-terreno
João André trabalha o ferro, a pedra, o estanho ou o vidro
É um artista multifacetado. Chama-se João André e já fez cerca de 200 peças de artesanato em ferro, pedra, cerâmica, estanho, vidro e tela.
É para muitos considerado o pai do artesanato de Salvaterra de Magos. João André, hoje com 79 anos de idade, prepara-se para assinalar 20 anos ao serviço das suas habilidades artesanais. Faz trabalhos em ferro, pedra, cerâmica, estanho, vidro e tela. E a sua casa foi transformada num pequeno museu particular. As portas do lar só se abrem para a família, os amigos e alguns curiosos que, há muitos anos, apreciam o trabalho do mestre João André, como é conhecido na terra. O amor à sua obra é tão grande que se recusa a vender qualquer uma das cerca de duas centenas de peças de artesanato que já possui. Conta que o dinheiro da sua reforma dá para viver, por isso o seu artesanato “não tem preço”. João André faz um pouco de tudo. A inspiração é normalmente dirigida para os motivos alusivos à sua terra e à sua região. Os barcos no Tejo, os campinos, o fandango, os cavalos, os touros e os toureiros são a sua perdição. Mas pelo meio, encontram-se bicicletas feitas de arame, pescadores de cana em punho, vitrais, casas regionais e até mesmo o poeta Fernando Pessoa, sentado a ler Orpheu e a “fumar um cigarro pensativo”. De tudo o que fez, o que mais gostou foi uma réplica em pedra da última Corrida Real em Salvaterra de Magos. Levou quase dois meses a fazer esta escultura. Foi um trabalho que o marcou bastante, e que recordará para sempre. Conta que o gosto pelo artesanato nasceu quando ainda era muito novo. “Nessa altura, os meus pais não tinham dinheiro para me comprarem brinquedos, então era eu que os fazia”, adianta o artesão. Mas a habilidade do mestre João André vai mais longe. Muitas são as pessoas que o procuram para apreciarem também as suas pinturas a óleo, ou para lerem alguns dos seus poemas. Na poesia, diz-se inspirado pelo poeta António Aleixo e confessou-nos que qualquer dia vai reunir todas as suas poesias e editar um livro. Quem já leu alguns dos seus trabalhos não hesita em defender que João André tem mesmo como percursor o poeta popular algarvio. Além de ter participado em várias exposições em Portugal, as suas obras já estiveram patentes na Holanda e no Luxemburgo. Já recebeu várias medalhas e diplomas. E até já foi duas vezes à televisão falar do seu artesanato. No meio de tanta fama, João André já foi convidado por um professor de Abrantes para dar um curso de artesanato.Como não tem filhos, “um dia quando partir” gostava que os seus trabalhos sejam expostos. Por isso, deu essa indicação a um familiar seu. “Há uma pessoa da minha família que já sabe que destino deverá dar a toda a minha obra”, refere. Os seus tempos livres são dedicados à pesca. Além de um passatempo, é também uma forma de encontrar inspiração para os seus trabalhos. O ciclismo é outra das suas paixões. E mesmo em cima dos oitenta anos ainda consegue percorrer oitenta quilómetros de bicicleta, duas vezes por semana. Aos sábados ou aos domingos, quando há menos trânsito nas estradas, logo pela manhã, é vê-lo com o seu grupo de amigos a percorrer as estradas da região. Já foi a Fátima várias vezes, e até conseguiu subir, há três anos atrás, metade da Serra da Estrela. Diz que também encontra no ciclismo muita da sua inspiração. “O contacto com a natureza ajuda bastante”, afirma o artesão.Mário Gonçalves
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