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É urgente renascer das cinzas

Nersant debateu o “dia seguinte” aos incêndios na região

Os agentes económicos ligados à floresta querem que o Governo tome medidas concretas de gestão e ordenamento, para que catástrofes como as do último Verão não se repitam num distrito que detinha um sexto da mancha florestal do país.

Santarém detinha até aos incêndios do último Verão, um sexto da área florestal nacional, produzia cerca de 30 por cento da cortiça e 10 por cento de madeira e resíduos. O sector florestal representava o segundo maior da indústria transformadora do distrito. Estes dados foram divulgados por José Eduardo Carvalho, presidente da Nersant – Associação Empresarial da Região de Santarém, durante uma conferência denominada “Os incêndios no distrito de Santarém – Consequências a Médio Prazo”, promovida pela associação empresarial.Mas é convicção unânime que as consequências económicas dos graves incêndios que devastaram a região virão a repercutir-se nos próximos anos. Por ora são conhecidos os prejuízos imediatos, mas não os reflexos que irão ter a médio prazo na economia nacional e, principalmente distrital.Na conferência promovida pela Nersant estiveram presentes empresários da região, Sérgio Carrinho e Fernando Pratas, presidente e vereador da Câmara Municipal da Chamusca, além de dirigentes da Nersant.Agostinho Dolores Ferreira, administrador da Indústria de Celulose do Caima, fez menção de aludir ao day after e afirmou: “A situação é extremamente preocupante porque representa vários anos de trabalho e ou se arranjam soluções concretas ou não há sustentação neste sector”.A situação torna-se ainda mais grave quando, nos últimos 10 anos, “a componente agrícola desapareceu em detrimento da florestal”, frisou Rui Igreja, secretário geral da ACHAR (Associação da Charneca Ribatejana). Apesar dos prejuízos florestais e dos reflexos em todo o tecido empresarial que depende da floresta serem os mais evidentes, a visão do problema por parte de José Manuel Palma é mais ampla. O professor catedrático considera que os incêndios “atingiram de forma integrada” todo o distrito de Santarém e que há aspectos que estão a ficar secundarizados: “É urgente a prestação de apoio humano e psicoterapêutico às pessoas afectadas pelos incêndios, nomeadamente aos pequenos empresários, pois o stress pós-traumático provoca graves consequências a médio prazo”.A mesma tónica foi defendida por Sérgio Carrinho, presidente da Câmara da Chamusca, um dos concelhos mais afectados pelas chamas. Numa única tarde ardeu uma área mais vasta do que o somatório de todas as zonas ardidas nesse município em mais de 30 anos.“O problema da Chamusca não é tanto o reordenamento. Embora se deva reflectir sobre essas questões, é necessário saber o que se vai fazer a seguir, já que as pessoas têm de restabelecer as suas vidas e a câmara tem de ter perspectivas a médio e a longo prazo”, sublinhou o autarca.De facto, é impensável esperar duas gerações para restabelecer a área florestal da Chamusca. Num concelho de 75 mil hectares, em que 71 mil são de floresta, as alternativas têm de passar por um reordenamento rigoroso e criação alternativas que garantam a subsistência das famílias que viviam da floresta. E a resposta mais vezes apontada para resolver o problema encaminhou-se para a plantação de eucaliptos, com todas as consequências nefastas que o plantio desordenado desta espécie pode causar.A legislação nacional contempla uma Lei de Bases da política florestal desde 1996/97, que “tem coisas boas e coisas más”, segundo Ferreira de Matos, director geral da Silvicaima, mas que não tem sido aplicada. Neste sentido Ferreira de Matos é peremptório e defende a necessidade de “pedir às entidades governamentais que considerem o sector florestal como um sector fundamental da nossa economia”.Sérgio Carrinho vai mais longe e corroborando da opinião de Ferreira de Matos acrescenta: “É importante haver uma secretaria de Estado (entretanto criada) não para dizer o que fazer, mas para funcionar como ‘interruptor’ para que os vários agentes se entendam”. Mudando o sentido da sua intervenção, o presidente da Chamusca chamou a atenção para a necessidade de definir quem deve fazer e pagar a prevenção dos incêndios: “A câmara paga a prevenção e não recebe um tostão por isso. São os pobres a financiar os ricos”.A importância da floresta na economia nacional não deixa qualquer dúvida, tanto mais quando a nível europeu os sectores de pasta de papel e madeira representam 11 por cento da produção industrial da Europa. É necessário encontrar soluções para que o interior de Portugal não fique desertificado.

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