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O mestre dos mestres

O mestre dos mestres

Carlos Dias é um dos maiores mestres de karaté shotokan do país

Carlos Dias é uma referência no karate da região e do país. Já conquistou vários títulos, mas agora dedica-se ao ensino, embora queira, a curto prazo, abrandar o ritmo de trabalho e dedicar-se mais à família. Em Setembro recebeu o diploma de cinto negro, com a graduação de 6.º Dan, uma espécie de doutoramento na modalidade.

Proveniente de uma família de desportistas, Carlos Dias não degenerou. O pai era militar de carreira e incutia respeito, disciplina e actividade física. O irmão seguiu-lhe as pisadas e é mestre de karaté, enquanto a irmã é professora de Educação Física. Carlos Dias sempre se afirmou como atleta competitivo nas várias modalidades que praticou. Tem 43 anos, 32 dos quais dedicados ao karaté. Além de treinador de nível um, reconhecido internacionalmente, é director técnico e instrutor de karaté na Associação Distrital de Santarém Amicale Karate (ADSAK). Mas também se dedicou ao ensino das modalidades de Defesa Pessoal e Kardio Kick Boxing Sistem. Nesta última, criada há dois anos e meio, conta com uma classe de 40 alunos, em aulas que aliam os movimentos e exercícios das artes marciais à música. No passado dia 16 de Setembro, Carlos Dias conseguiu alcançar uma graduação de prestígio. Após seis anos com o cinto negro de 5.º Dan à cintura, subiu a 6º Dan, uma espécie de “doutoramento” na modalidade. Campeão regional e nacional de karaté individual e colectivamente, representou a selecção nacional em várias ocasiões e recebeu a medalha de mérito desportivo do jornal “A Bola”, em 1979.Mas fora do karaté, não passou despercebido. Foi campeão nacional de mini e duplo mini trampolim pela Casa do Benfica de Santarém e praticou ginástica desportiva no Ginásio do Seminário de Santarém.A recordação que lhe causa mais arrepios do longo percurso desportivo é o primeiro lugar conquistado em kumité, no Estádio Pierre de Cobertain, em Paris, durante as Universíadas de 1988. “Os emigrantes estavam lá a torcer pelo país e desceram até ao tapete para nos levantarem no ar com a bandeira nacional entre mãos”, recorda Carlos Dias.Foi na onda desse ponto alto que fez a transição da competição para o ensino da modalidade, numa altura em que começou a haver uma maior protecção do atleta. Recuando no tempo, relembra que naquela época prevalecia a atitude marcial, do combate sem luvas ou protecções. “Num campeonato nacional apanhei um soco e fiquei sem os dois dentes da frente, além muitos olhos abertos em várias ocasiões”, rememora.O karaté em Portugal ainda tem muito que progredir. Carlos Dias sustenta que por muito que se conte com bom acompanhamento técnico e pedagógico, faltam os apoios financeiros. “É essencial a participação em provas internacionais que permita aos atletas elevar o seu nível competitivo e estabelecer patamares de objectivos. Mesmo assim ainda fazemos uns brilharetes”, assegura.Para dar um exemplo, lembra que o orçamento actual da Federação Portuguesa da Karaté é de cerca de 100 mil euros. Um valor irrisório quando comparado com os 500 mil euros à disposição da Federação Espanhola de Karaté, em 1983. “Uma época em que numa competição em Madrid comíamos lentilhas, íamos de autocarro e eléctrico para o pavilhão e ficávamos instalados na pensão”, recorda bem disposto.Actualmente, a Associação Distrital de Santarém Amicale Karate conta com cerca de 400 karatecas, distribuídos por 14 centros de actividade, dando-se primazia à formação de atletas. O seu funcionamento resulta do trabalho conjunto de muitas pessoas. “Árbitros, instrutores, juízes, oficiais de mesa e atletas, todos nos revezamos para que a ADSAK funcione o melhor que pode”, garante.O melhor exemplo de como as coisas podem correr bem são os títulos regionais e distritais conquistados pelos seus karatecas. Mas também actos tão simbólicos como o facto de recentemente, cinco alunos seus terem recebido diplomas de mérito aquando dos 160 anos da Escola Secundária Sá da Bandeira.Todos os meses chovem convites para a sua participação em estágios, formações, wokshop’s e arbitragens de karaté, mas Carlos Dias quer por a família à frente de tudo. “Não posso nem quero prejudicar mais os meus filhos. Tenho mais dois gémeos com nove anos e vou dar-lhes mais atenção”, assegura.Dentes partidose olhos “à belenenses” Durante o muito tempo que Carlos Dias viveu como competidor nos chamados kumités (combates), não faltaram olhos à Belenenses, dentes partidos e outras mazelas. A versão antiga do karate era praticada sem protecções, ao contrário do que acontece actualmente, com luvas, protecção para os dentes e maior intervenção dos árbitros, evitando que os karatecas cheguem a vias de facto.O aspecto calmo que transmite para o exterior oculta o manancial de recursos técnicos que possui. Sempre se revelou muito competitivo e até, às vezes, um pouco mauzinho. “Na escola arranjava umas briguinhas, metia-me com os mais velhos, etc”, recorda. A arte de Bruce Lee esteve à cabeça das suas influências.Mas, mesmo em mais velho, não escapou a algumas peripécias que o fizeram questionar um pouco o destino que a vida lhe reservara. Num estágio realizado em Filadélfia, nos Estados Unidos, com alguns dos melhores mestres mundiais, passou por dias difíceis. “Levantávamo-nos às seis horas da manhã e apresentávamo-nos descalços para seis e sete horas de treino diário”, recordou. Mas, mais dolorosa era a pedagogia japonesa, composta por palmadas e golpes nas pernas a cargo dos mestres mais capazes. “Foi uma altura em que perguntei a mim mesmo se estaria no caminho certo”, recordou. Dan’s é com elesA par de Carlos Dias, também outros dois mestres da Associação Distrital de Santarém Amicale Karate receberam novas graduações. Henrique Silva, árbitro internacional, membro do conselho de arbitragem e instrutor de karaté, ascendeu a 5.º Dan, enquanto Pedro Dias, irmão de Carlos Dias e instrutor de karate, alcançou o 4.º Dan.Um motivo de orgulho para a ADSAK e importantes graduações em karaté Shotokan, a modalidade mais física do karaté, em que se pode “arrumar” o adversário com um único golpe.Mestres internacionais como o japonês Funakoshi e o italiano Fabrício já visitaram Santarém no ano passado. Para 24 e 25 de Janeiro de 2004, no pavilhão de Santarém, está prevista a vinda de dois atletas italianos de alta craveira internacional. Sien Henke, 5.º Dan, seleccionador de kumité da federação italiana e a sua irmã, recente campeã do mundo de katas, na Rússia.
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