Já foi ao Festival Nacional de Gastronomia.?Apesar de ser um certame interessante para quem gosta de gastronomia, acho que tem um grande problema: é uma espécie de galinha dos ovos de ouro, carrega-se muito em termos de preços. Uma família de duas ou três pessoas, tem de gastar quase o ordenado e acho que não se justifica. Já não vou lá há dois ou três anos, até porque não sou propriamente um bom garfo. Vou comendo para sobreviver.O que acha do estado a que chegaram as barreiras de Santarém?O problema das barreiras já tem barbas brancas. Já há trinta e tal anos que me lembro da linha de caminho de ferro estar interrompida, porque tinham caído as barreiras. Por isso, o que se passa agora é o espelho do país que temos.Se fosse você a decidir, e se se provassem as suspeitas, que pena aplicava ao casal de Ermesinde que é suspeito de ter violado e morto a filha de dois anos?É difícil arranjar alguma justificação para um facto igual a esse. Penso que o que se passou é demasiado bárbaro para a pena que se pode aplicar em situações deste tipo. É confrangedor imaginar que alguém conseguiu fazer uma coisa daquelas com uma criancinha de dois anos. Não sou favorável à pena de morte, mas aplicaria uma pena mais pesada do que a prevista na lei actual.Com tudo o que se tem passado nos últimos meses, ainda acredita na justiça portuguesa?O que se tem passado no sector da justiça é uma vergonha. Há menos de um ano, um advogado brasileiro, que defendia Fátima Felgueiras, veio a Portugal e disse cobras e lagartos da nossa justiça, amesquinhando-a e denegrindo-a. Custa-me que um estrangeiro, seja ele qual for, venha a Portugal dizer mal de nós, mas a verdade é que ele tem razão. Acha que os estudantes têm razão quando dizem que o valor das propinas é muito elevado em comparação com a qualidade do ensino?Sou capaz de estar de acordo, mas temos de ver que há estudantes que merecem maior apoio e outros que não merecem nada, porque estão lá só a passear os livros. Agora é certo que é um dever do Estado proporcionar aos estudantes a melhor qualidade de ensino possível e é sua obrigação pagar as propinas, colocando um factor de distinção entre bons e maus alunos.As escutas telefónicas devem ser reveladas publicamente?Escutas telefónicas nem públicas, nem privadas. Ninguém tem o direito, nem mesmo o Estado, de escutar as conversas que as pessoas têm entre si. A polícia deve sair de dentro dos gabinetes e procurar indícios e factos, sem ir às escutas.Quando vê uma injustiça, engole em seco ou reclama?Reclamo. Se a outra pessoa tiver sido educada, reclamo com educação, se for sem educação, eu sou ainda mais mal-educado.Os bares de alterne deviam ser encerrados para evitar situações como as de Bragança?Esse tipo de bares tem todo o direito de existir, porque só lá vai quem quer. Nós é que somos uma camada de pacóvios, que tudo o que seja fora do normal é motivo de alguma repulsa. Os países europeus têm este género de actividades aos pontapés e não é por isso que as pessoas são mais ou menos cultas e educadas. O que significa para si o Natal?Faço parte de uma família tradicional, onde o Natal é uma época de união da família e onde muitas vezes pequenos conflitos que se passaram durante o ano se desfazem. Acho até que devia haver mais natais durante o ano.Ultimamente, tem-se dito muito que hoje em dia os jovens abusam mais do álcool do que há anos atrás. Isso é verdade, ou apenas se conhecem mais casos de abuso?Não tenho dúvidas que hoje se consome mais álcool e mais drogas. Há trinta anos, se eu fosse para casa com um grãozinho de areia na asa, ou se sonhasse em consumir alguma droga, teria a resposta adequada em casa, tanto da parte dos meus pais, como dos meus irmãos. Hoje, há uma certa degradação dos valores e há uma total permissividade social. Gostava de trabalhar até que idade?Toda a vida. O trabalho, quando é feito com gosto, é um prazer.Prefere comprar no comércio tradicional, ou nas grandes superfícies?Depende. Eu compro em qualquer lado, onde dá mais jeito. Mas é verdade que as grandes superfícies têm uma vantagem muito grande em relação ao comércio tradicional, encontra-se lá quase tudo o que se quer. Faz parte da evolução e não vale a pena tentar contrariar.Já viu algum dos novos estádios construídos para o Euro 2004? Valeu a pena o investimento?Já vi alguns por fora. Quanto ao investimento, o nosso primeiro-ministro disse que o país estava de tanga e custa-me a aceitar como é que um país que está de tanga gasta milhões em construção de estádios, ultrapassando até as necessidades impostas, que apontavam para sete estádios. Nós, como somos muito ricos, fazemos dez, com tudo de bom e do melhor. Só é pena que a quantidade de pessoas que vai ao estádio não seja compatível com a dimensão desses mesmos estádios. E cada vez há-de ser menos.