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A tradição contra a globalização

Congresso Mundial das Cidades Taurinas em defesa da festa brava
O Congresso Mundial das Cidades Taurinas, que decorreu em Santarém de sexta-feira a domingo, foi uma autêntica trincheira de onde se exortou à resistência contra tendências culturais globalizantes e à defesa acérrima de tradições, como a tauromaquia, específicas de certas zonas do globo.Logo no primeiro painel o advogado Rui Santos deu o mote para o combate, utilizando as armas que melhor maneja para lutar contra a “uniformização da cultura hegemónica dos mais poderosos” que pretende abafar as “culturas regionais e locais”, como é o caso da festa brava. Um cenário, diz, “com acolhimento em determinados extractos urbanos que têm alguma desfaçatez e despudor para falarem sobre aquilo que desconhecem em absoluto”.O jurista lisboeta socorreu-se do esboço da Constituição Europeia e apelou aos presentes a lutarem pelos seus direitos. “As disposições comunitárias apontam para que a União Europeia contribua para o desenvolvimento e o respeito pelas identidades regionais. No próprio projecto de Constituição Europeia surge o direito à diversidade cultural”. Tudo isto para dizer, reforçou, “que há algum suporte normativo comunitário para nos opormos às investidas de países onde não há tradições taurinas”.No mesmo sentido já se havia pronunciado a vereadora da Cultura da Câmara de Santarém, entidade que organizou o evento. Idália Moniz referiu que a autarquia decidiu contrariar a linha “politicamente correcta” e promover actividades taurinas porque “os touros sempre fizeram parte da identidade de Santarém” e porque a cidade se quer afirmar novamente no panorama taurino.A questão da identidade cultural e social foi também abordada pelo sociólogo Moisés Espírito Santo, que referiu a diferença como factor de coesão. “A identidade pode ser perseguida por ser minoritária, por ser diferente”, observou. Mas considera que “na era da globalização ainda faz sentido falar de culturas locais”.O reputado académico lembrou mesmo que as corridas de touros estariam hoje proibidas se os espanhóis não tivessem levado o assunto a debate no Parlamento Europeu. “O perigo vem sempre de um certo conceito homogeneizante e higienista. Por detrás da defesa da natureza há muita coisa. Há muitas identidades locais que desapareceram graças a esse conceito”, defendeu.Um perigo, diz, que pode também ter por detrás motivações ideológicas. Recordou a propósito os preconceitos que se criaram após a revolução de 25 de Abril de 1974, quando a festa brava foi conotada como actividade de fascistas e de latifundiários. “É fantástico como é que se conseguiu desprezar uma cultura típica de determinadas zonas do país, como o Ribatejo”, afirmou.

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