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Ah! Fadista

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Alverca tem duas escolas de fado

Em Alverca, dezenas de jovens aprendem a cantar o fado. O gosto pela canção nacional está na moda e motivou a criação de duas escolas que não alimentam rivalidades.

Os fadistas ou simples curiosos de Alverca do Ribatejo têm duas escolas a funcionar na cidade onde podem desenvolver o dom de interpretar a “canção nacional”. A duplicação de meios não gerou rivalidades doentias e pelo que se vê há alunos e públicos para os dois projectos. O MIRANTE foi conhecer os alunos e os professores que ergueram as escolas onde dezenas de crianças e jovens aprendem a cantar o fado. A Escola de Fado Amador e Criativo de Alverca ( EFACA) tem hoje 77 jovens que fazem o gosto à voz todas as quartas-feiras, de quinze em quinze dias. Mas os aspirantes a fadistas colocam os estudos como principal objectivo e a música fica para os tempos livres. Marta Rosa começou a ouvir em casa os discos de vinil dos pais, e gostava de sentir as letras ao cantar. Mas um anúncio de jornal sobre a EFACA suscitou na família a hipótese da jovem ir para a escola. Há cerca de um ano que não falta a um ensaio. Mesmo constipada como a nossa reportagem constatou, não hesita em ensaiar.A colega, Leila Nunes também canta, num estilo “castiço” ao jeito de Hermínia Silva. A futura advogada já participou em representações da escola na Feira Popular e em eventos na cidade de Alverca. Leila ouve os discos da mãe, e garante que quando há lapsos de memória, há uma ajuda mútua no momento de lembrar a primeira frase do poema. A EFACA funciona no salão da Misericórdia de Alverca, onde decorrem os ensaios e as grandes noites de fado no primeiro sábado de cada mês. A sala enche e os músicos vestem-se a rigor. As fadistas não dispensam o xaile negro. O aluno mais recente, é o Diogo Santos que vive em Santa Iria. O rapaz está a dar os primeiros passos mas a professora, Alice Nunes já nota alguns avanços. A canção nacional é para estes adolescentes um motivo de orgulho. A maioria tem referências em Amália Rodrigues, Hermínia Silva, Fernando Maurício e na jovem Marisa. Aos 14 anos, Vanessa Sofia, de 14 anos gosta de Britney Spears e de outras estrelas da música pop, mas ao cantar prefere o fado. Assim como a amiga Catarina Invêncio que está a um passo de lançar uma cassete no mercado. A artista não quis adiantar o nome do trabalho, mas disse que está prestes a entrar em estúdio para gravar. Marta Rosa e Leila Nunes são as juvenis que vão representar a escola junto de outros três candidatos seniores na selecção para a Grande Noite do Fado no Teatro São Luís em Lisboa.Alice Nunes, a fundadora da EFACA acompanha os jovens no ensaio entre as 20h00 e a meia noite e depois leva-os de novo a casa. A iniciativa surgiu em colaboração com mais quatro colegas. Após a junta de freguesia ter aprovado o projecto, foi só encontrar os alunos. A escola conta com o apoio logístico da autarquia, mas as receitas dos espectáculos são a principal fonte para pagar aos guitarristas que vêem de Sacavém. A professora agarrou um sonho antigo e trouxe para a Alverca a alma fadista que vivia em si desde os tempos que morava em Marvila, Lisboa. “ O fado voltou a estar na moda. Muita gente vai aos concursos de televisão e prefere cantar um fado para concorrer”, referiu. Na EFACA os sócios pagam um euro por mês. No próximo sábado dia 1, a alma lusitana é regada com água pé e comem-se castanhas.Um restaurante aberto aos novos talentos Uma perfeita carolice levou Antero Botelho a desenvolver um projecto semelhante há um ano. Para animar as noites do seu restaurante “ O Carpinteiro”, no Bairro da Chasa em Alverca do Ribatejo decidiu criar um espaço para apresentar novos talentos do fado. Assim surgiu a Escola de Fado Bairro da Chasa e funciona num espaço reservado junto ao restaurante. Estão inscritos 20 alunos, desde os 9 aos 78 anos, e ninguém paga nada. As gerações convivem e aprendem ao mesmo tempo sob os ensinamentos do músico Jacinto Carminho. O professor além de ensinar a trabalhar a voz também toca viola. A guitarra portuguesa é dispensada por considerar que a aprendizagem do fado se faz melhor só com viola. Quando os artistas já estão preparados para enfrentar o grande público, a primeira actuação é no restaurante. Ao domingo, os espectáculos começam a partir das 16h30 e prolongam-se até ás 20h00. Apenas num ano de actividade, os alunos já conquistaram o primeiro e segundo lugares no concurso “ O Fado mora em Marvila”, em Lisboa. Agora os planos são para o primeiro grande concurso de fado amador que Antero Botelho está a organizar no seu restaurante. A primeira noite está marcada para amanhã, dia 31 e os espectáculos continuam nos dias 7, 14, 21 e a final será a 28 de Novembro. As inscrições estão abertas até dia 4, e podem ser feitas no restaurante ou através do telemóvel 96 602 38 62. “ Alverca está de parabéns e todos os portugueses deviam defender o que é nosso, não só o fado mas até o que comemos”, afirmou Antero Botelho. O apaixonado do fado lançou uma rampa de sucessos para os talentos de Alverca. “Enquanto eu puder, o projecto vai ter pernas para andar”, concluiu.
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