Cortiça não é só para fazer rolhas
Artesão de Marinhais tem espólio com mais de 300 peças
Um artesão de Marinhais é o autor de mais de trezentas peças de artesanato feitas em cortiça. De monumentos locais a máquinas agrícolas, tudo tem inspirado a habilidade de Luís Oliveira.
A cortiça não serve apenas para fazer rolhas. Foi baseado nesse facto que o artesão Luís Carvalho de Oliveira decidiu construir mais de 300 peças de artesanato em cortiça. As máquinas agrícolas, os aviões, os barcos, as bicicletas e os carros de combate são a sua preferência. No entanto, não deixa de se dedicar à construção de algumas réplicas de casas típicas de Marinhais, sua terra natal, e alguns monumentos como é o caso da velha estação de caminho-de-ferro e até a igreja. Luís Oliveira, hoje com 62 anos de idade, diz que este é um passatempo e uma forma de convívio. Nada do que faz é para venda. O gosto de trabalhar a cortiça começou há alguns anos quando se reformou. Inicialmente, acondicionava os objectos dentro de algumas caixas para que eles não se danificassem. Actualmente, com mais de três centenas de peças, sentiu necessidade de transformar um espaço de sua casa num pequeno museu. Muitos dos trabalhos que expõe por este país fora levaram várias dezenas de horas a fazer. Por isso, em casa montou também um atelier. E é aí que dedica algumas horas do dia a este hobby. Além da cortiça, utiliza também fio de electricidade para unir as diferentes partes de uma peça, cola e estevas para substituir os parafusos. A lixa e a faca são os seus instrumentos de trabalho. Este poderá ser considerado artesanato regional, explica Luís Oliveira. É que toda a matéria-prima é da região. A cortiça é-lhe oferecida por alguns amigos. Tudo começa por umas idas ao campo para observar as máquinas agrícolas. Idealiza um esquema e mete mãos à obra. O trabalho passa por se colocar a cortiça de molho, durante algumas semanas, para que ela perca a rigidez e seja mais fácil de trabalhar. Depois, é retirada da água e toda limpa para que se possa começar a executar as peças. A última parte do processo é a colocação de um verniz para conservar as peças de artesanato. Os retoques finais passam muitas vezes por dar uma imagem mais real de cada objecto. Fazer os efeitos do pó e da terra nas ceifeiras debulhadoras é também trabalho de artista. Conta que nunca começou uma peça e depois desistiu. O que acontece, muitas vezes, é parar alguns dias para reflectir. Logo que surjam novas ideias, volta a trabalhar.Apesar de uma dedicação minuciosa ao artesanato, Luís Oliveira não deixa de dedicar muito do seu tempo à família que o tem apoiado nesta sua actividade. As suas três filhas e a mulher dão-lhe muitas ideias, mas nenhuma quis ainda aprender a arte.O artesão conta que poderia fazer peças em ferro ou madeira, mas resolveu trabalhar a cortiça porque “é algo muito nosso”. Diz-se revoltado pelo mal que têm feito aos nossos sobreiros. “Quando se quer cortiça para estes fins, não custa nada pedir às pessoas”, observa. A esse propósito, diz que aproveita a oportunidade para agradecer a quatro amigos seus de Marinhais e um da Glória do Ribatejo que lhe têm dado, a título gratuito, toda a matéria-prima que necessita para executar os seus trabalhos.Não há semana que passe sem que este artesão de Marinhais limpe as suas peças. Os objectos são tratados “como se trata um bebé”. O seu amor a esta arte é de tal ordem que, actualmente, já pondera a hipótese de adquirir um carro de maiores dimensões para transportar todos os objectos.Mário Gonçalves
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