Quando foi criado o centro de recuperação infantil de Abrantes, que há pouco completou 25 anos, o então presidente da Câmara Municipal, Eng.º José dos Santos de Jesus (Eng.º Biocas) pretendeu anexar ao projecto uma área de apoio aos deficientes visuais, mas os representantes do Ministério da Educação não deram o seu aval a tal iniciativa. Estava-se na fase de uma integração plena dos cegos no ensino regular e, portanto, não havia razão para a criação de uma escola exclusiva. Os extremismos dos portugueses, como quase sempre acontece, quando uns decidem e os verdadeiramente interessados assistem às decisões, sem voto.Em 1988, o professor Emílio Serra organizou na Escola do Tramagal, onde leccionava, um encontro de deficientes visuais, com cegos vindos dos distritos de Castela Branco, Portalegre e Santarém e com apoio daquele estabelecimento de ensino, das câmaras municipais de Abrantes e da Covilhã e da Junta de Freguesia do Tramagal.Entre muitos oradores, usou da palavra o presidente da Câmara Municipal de Abrantes, Eng.º Biocas, que prometeu criar uma área de leitura para deficientes visuais na biblioteca nova que, brevemente, iria ser inaugurada.Algum tempo depois, o mesmo autarca pediu ao organizador do evento atrás referenciado que lhe indicasse um nome para ocupar o lugar que iria ser criado no referido sector da Biblioteca António Botto. Punha, como condição, que a escolha recaísse sobre um deficiente visual da zona de acção desta área de cultura e lazer.Consultados os possíveis interessados do concelho em ocuparem esta missão, nenhum se disponibilizou, porque todos estavam a estudar, o que levou a que uma habitante de Proença-a-Nova viesse a ser escolhida.Idalina Serafim Lopes cegou aos 8 meses, vítima de meningite, frequentou um colégio interno em Coimbra, concluiu o 3.º ciclo na escola da sua terra e o 12.º na Escola Dr. Solano de Abreu, em Abrantes, já como funcionária da Biblioteca a que atrás aludimos. Diremos, ainda, que a Biblioteca António Botto não foi inaugurada pelo Eng.º Biocas, mas pelo seu sucessor, o Dr. Humberto Lopes.Pelo trabalho realizado, os deficientes visuais não podem deixar de estar gratos a quantos têm trabalhado na Biblioteca António Botto pela sua valorização cultural.Emílio Serra - Tramagal