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Inspirado Manuel Serra D’Aire

Esta semana estive para fazer gazeta. Estou com uma constipação que nem te conto, por causa da enxurrada que me entrou em casa num domingo passado. Só me dignei escrever esta modesta prosa em atenção ao martirizado povo ribatejano que depois dos fogos do Verão levou agora com uma tromba de água em cima. Ou com água a potes pelas trombas, como queiras.... Depois da fornalha estival veio o dilúvio outonal e já começo a pensar que estamos perto do juízo final, se é que ainda há algum resto dele por aí. Que mal fizemos nós a Deus para andarmos constantemente a ser fustigados pela fúria dos elementos atmosféricos e pela incompetência de alguns outros mais terrenos? Só falta chover enxofre incandescente ou picaretas em brasa...E ainda mais surpreendido fico com a inclemência celestial sabendo que por aqui se erguem algumas das mais distintas filiais e delegações do poder divino no país, de que o santuário de Fátima, a igreja do Milagre, o Convento de Cristo e a basílica da Ladeira são expoentes máximos. Isto para não falar na toda poderosa Linda Reis, vidente encartada e que nestas coisas pode dar sempre uma mãozinha, ou até mais alguma coisa... Já que estamos à beira do apocalipse, e como não sei se terei nova oportunidade de me expressar nesta folha de papel, deixo também aqui a minha solidariedade aos autarcas ribatejanos que, coitados, na sua abnegação e na vertigem de resolver os problemas às populações por vezes se esquecem de procedimentos básicos como o de mandarem limpar as sarjetas e as linhas de água ou de proibirem a construção em leito de cheia.Como bem se sabe, uma habitação digna é um princípio consagrado na Constituição da República, um dever de qualquer sociedade civilizada para com os seus cidadãos. E nesse texto fundamental não há nenhuma alínea, nenhum asterisco, nenhum rodapé com letras minúsculas, como as que existem nos contratos das seguradoras, onde se diga que não se deve construir em leito de cheia ou em cima de valas e caneiros!Além disso, por que carga de água, sim, por que carga de água, é que os autarcas têm de ser melhores do que o povo de onde eles emanam? Se nós gostamos de cuspir para o chão, de morrer na estrada, de pôr os cães a cagar nos jardins e de levar os putos nos carros sem cintos de segurança, porque é que os autarcas não podem gostar de ver as sarjetas sujas e as estradas esburacadas?Se não nos lembramos das contas no final do mês, se gostamos de despejar o lixo fora do contentor, se nos esquecemos de entregar a declaração do IRS, porque é que os nossos edis haviam de se recordar que no Inverno chove e que por isso as valas e sarjetas devem estar bem limpas?Mais: se nós gostamos de nos endividar até à raiz dos cabelos para comprar um carrão que faça vermelho de inveja o vizinho do lado, se nos pelamos por gastar mais do que o que ganhamos, de ter resmas de cartões de crédito para exibir na carteira, porque não hão-de os nossos pobres eleitos andar montados em máquinas topo de gama à custa do erário público, mesmo que esse dinheiro desse para tapar um quilómetro de buracos?Se tivéssemos um Governo como deve ser explorávamos até ao tutano essas características que nos tornam um país e um povo ímpar no mundo. E a par do Euro 2004 promoveríamos visitas de helicóptero a atracções turísticas como os nossos incêndios florestais, as nossas enxurradas e inundações, as nossas pontes que caem, etc..., etc... Sempre era uma ajuda para resolver o problema do défice.Um bacalhau desfiado do Serafim das Neves

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