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Museu do campino: Uma carência cultural!

H. Nelson Ferrão

A ideia não é de agora. Há condições e elevado interesse na criação de um Museu do Campino, no Distrito de Santarém ou na dita Província do Ribatejo. Ela já baila na cabeça desde 1999.

E cada vez mais pensamos que existe uma carência deste equipamento na região, em virtude da valorização das manifestações de enaltecimento que esta função profissional tem acolhido junto dos mais variados poderes – pela escrita, pela oralidade, pelas Festas e Feiras, pelo exacerbado discurso ideológico, ao longo de décadas. Apesar disso, qual emblema que os seus interlocutores se habituaram a pôr ao peito, o campino tem tido um estatuto efémero. Nas feiras, nas festas concelhias, no folclore, nas toiradas, nas visitas de turistas ou de governantes, lá estão os campinos, “de gala” vestidos, para cumprir a encenação da identidade da região. E nestas manifestações cada um puxa para o lado do “estatuto do campino” que melhor convém a cada momento e a cada cerimónia: do mais romântico ao mais brejeiro, passando pelos intermediários da comunicação que, sem o pensar crítico que se impõe, endeusam um estatuto do qual só se divulga uma pequena ponta do iceberg...Mas, em rigor, quase nenhum interlocutor elucida, contextualiza, o trabalho e o labor diário das tarefas e funções do campino que foram e que agora já não são as mesmas: estão readaptadas, recontextualizadas, refuncionalizadas...E era este arco de conhecimento duma profissão com significado na nossa região que era importante dar a conhecer na sua plenitude e complexidade.Criar um Museu, apesar de poder ser considerado um alto investimento inicial, possibilitaria mostrar as cenas reais da vida diária do trabalhador rural, de um modo mais significativo e esclarecedor no âmbito da cultura regional, contribuindo para a diversificação da oferta turística, potenciando este importante factor cultural.E há um campo vasto para descobrir e contextualizar: as características da sua profissão, os valores que lhes estão associados e o seu estatuto construído, as tarefas sazonais desempenhadas, os perfis sócio-profissionais da classe, o estatuto das casas agrícolas, as festas e feiras e a sua forma de participação, as ambiguidades da sua posição profissional e familiar, as suas relações pessoais com os outros trabalhadores, os trajes-tipo a que os ligam, o fandango como exclusiva (falsa) dança da campinagem...Ora, pelos tópicos assim resumidamente evidenciados, parece ficar claro que há matéria para estruturar um equipamento com valor e impactos nacionais e que só valorizariam o tecido cultural do concelho que puser mãos à obra... e com grandes possibilidades de apoio da União Europeia e de retorno e de visibilidade económica e simbólica.Por outro lado, fruto dos discursos narrativos por ocasião das celebrações que vão ocorrendo no Ribatejo (toiradas, feiras, Congressos de Folclore, Festas de concelho...) também parece não ser difícil o acolhimento duma proposta tão gratificante. Para mais avizinham-se importantes iniciativas onde este tema terá todo o cabimento: o III Congresso do Ribatejo e o VI Congresso de Folclore do Ribatejo. Neste particular (e sem citar nomes já divulgados) existem também trabalhos de estudo e investigação, mesmo na área dos perfis sócio-profissionais das culturas populares, promovidos ou a decorrer em várias autarquias, que só teriam interesse em capitalizar uma unidade museológica deste tipo, não esquecendo que originariamente o nome de “Casa do Campino” foi dado a um local de referência aos campinos, durante a Exposição-Feira Distrital de Santarém (1936) e que perdurou depois durante as Feiras do Ribatejo (1954), sendo uma referência em Santarém. E como para este empreendimento todos os contributos e esforços de todos os interessados são necessários para valorizar a ideia, também o GERAS (Grupo de Etnografia, Estudos Regionais e Artes Tradicionais de Santarém) pode associar a sua experiência e conhecimentos académicos em prol dum projecto que reconhecidamente tem potencialidades para marcar e diferenciar o panorama sócio-cultural da Borda d’ Água. H. Nelson Ferrão

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