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A terra que pára para rezar

Raposa, a freguesia com menos populosa do concelho de Almeirim

A Raposa é uma terra onde hoje se pode respirar ar puro. O aterro sanitário ali construído erradicou a lixeira que poluía o ambiente e criou alguns postos de trabalho, numa freguesia onde o emprego não abunda. Boas infraestruturas básicas e lotes de terreno a preços simbólicos são atractivos para fixar a população jovem.

Quando o relógio bate duas horas da tarde, a freguesia da Raposa, concelho de Almeirim, fica deserta. Faça chuva ou sol toda a gente, novos e velhos, dirigem-se à igreja, no alto de uma colina, para rezar o terço. Não se sabe quando é que começou este ritual, mas o certo é que ninguém fica em casa. Esta é uma das características de uma população que vive a dez quilómetros da sede de concelho e que é bastante unida na defesa dos interesses da terra. Gente pacífica que nem no futebol se exalta. No sábado às cinco da tarde, após ter terminado o jogo entre o clube local, o Raposense, e a Erra, dezenas de homens digeriam a derrota do seu clube num são convívio junto ao bar do campo de jogos. Quem vinha de fora nem se apercebia que as coisas não tinham corrido bem para os raposenses. O futebol é aliás uma das poucas actividades que ocupa os jovens e que entretém os habitantes. Para além do clube, com 58 anos de vida e, actualmente, a militar no campeonato do Inatel, só existem mais dois ranchos folclóricos, um adulto e outro infantil. Em tempos chegou a haver um grupo de teatro. Apesar de só ter 700 habitantes, a Raposa é a freguesia com maior área territorial do concelho, 83 mil hectares. A povoação, propriamente, dita resume-se a meia dúzia de ruas, mas há ainda quem se lembre da época antes do 25 de Abril de 1974, em que a localidade só tinha uma rua, a Estrada Nacional 114, que liga Coruche a Almeirim. Curiosamente, foi a primeira freguesia a desenvolver-se em termos de condições básicas para a população. Ruas alcatroadas, saneamento, água canalizada e luz eléctrica chegaram ao núcleo urbano logo após 1974, até porque o aglomerado de casas era muito pequeno e as obras eram muito mais fáceis de fazer. Apesar da distância que a separa de Almeirim a população da Raposa não se sente isolada, até porque quase toda a gente tem carro e quem não o tem dispõe de uma rede de transportes públicos razoável. Três autocarros de manhã para Santarém, com paragem em Almeirim, entre as 07h35 e as 11h15, e outros tantos durante a tarde. Para a Raposa existem cinco autocarros divididos entre o período das 8h20 às 19h30. O único problema é que aos fins-de-semana e feriados não há autocarros. Ao longo do tempo, a freguesia foi-se apetrechando de serviços básicos. Tem posto médico com consultas às segundas e quintas-feiras, uma casa da cultura com auditório para espectáculos e biblioteca, caixa multibanco, um posto de combustível e uma escola primária, onde andam 12 alunos e um jardim de infância com 20. Depois da quarta classe, os estudantes podem ir para a Escola EB 2/3 de Fazendas de Almeirim ou para a de Almeirim. Ao contrário das outras três freguesias do concelho, a Junta da Raposa possui um autocarro conseguido como contrapartida pela instalação do aterro sanitário de resíduos domésticos na localidade. A instalação do equipamento não teve a contestação dos populares, até porque estes estavam fartos de sofrer com o mau cheiro e os fumos da lixeira a céu aberto que existia paredes meias com as habitações. O aterro acabou por ser uma lufada de ar fresco em termos da criação de postos de trabalho, numa terra em que quase toda a gente trabalha fora. Actualmente, dos 12 funcionários do aterro, 10 são naturais da freguesia. Para além disso só existe uma carpintaria e uma bomba de gasolina para dar trabalho às pessoas da terra, sem que tenham de se deslocar. Há também alguns empreiteiros de obras, mas que normalmente trabalham noutras zonas. Dois mini-mercados, que para além de artigos de mercearia vendem de tudo um pouco, desde roupas a materiais de canalização, são os únicos locais onde as pessoas podem fazer compras. Mas muita gente prefere ir aos hipermercados de Santarém e para se comprar, por exemplo, um fato, têm que se deslocar a Almeirim, ou à capital de distrito. Um dos aspectos positivos que tem levado a que a população não diminua e a que os jovens se fixem é a doação de lotes de terreno para construção de casas. A junta de freguesia até agora já deu 150 lotes, cada com 360 metros quadrados, ao preço simbólico de 60 euros. Neste momento, existem ainda 10 terrenos destinados aos jovens que pretendam fixar-se na terra. Outro é o facto de as pessoas não terem que se deslocar para poderem pagar a água, ou a luz ou mesmo comprar os medicamentos. A junta de freguesia tem uma pessoa destacada para ir à sede de concelho fazer esses serviços. No entanto, muitos são da opinião que faz falta pelo menos um posto de venda de medicamentos na povoação. O que também faz falta é um centro de dia para ocupar os idosos. Bem como uma empresa que desse emprego às mulheres, a camada da população que tem mais dificuldade em arranjar trabalho. Para além de algumas que trabalham na fábrica da Compal, em Almeirim, a maior parte vive apenas de trabalhos sazonais na agricultura. Com um parque de merendas na margem direita da vala de Muge, onde os residentes e forasteiros têm todas as condições para o convívio e para passarem uma tarde de Verão agradável, há quem gostaria de ter também uma pequena piscina. Uma lacuna sentida sobretudo pelos mais jovens. Num retrato geral, a freguesia é um bom local para viver num ambiente de tranquilidade, onde é possível respirar o ar puro dos grandes pinhais, eucaliptais e montados de sobro que rodeiam a população.

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